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Feliz 2018?

Ao que tudo indica, as coisas começam a entrar nos trilhos no campo da economia. Não falamos das maravilhas de um moderníssimo trem-bala, claro, mas só voltar aos trilhos depois dos desastrosos anos que se seguiram à adoção da Nova Matriz Econômica já deveria ser motivo para comemorar. Em números: a inflação do ano que passou deve ficar ali perto dos 3% e o PIB de 2018 deve crescer algo acima de 2%. Comparado ao desempenho recente, certo otimismo não parece tão descabido. Um 2018 feliz para a sociedade brasileira?

Não sabemos ainda. O ano que se descortina à nossa frente começa bem em números, mas pode terminar mal em termos de rota. E rota errada termina em números desastrosos —sim, já vimos esse filme algumas vezes e ainda assim ele teima em se repetir.

O curto prazo é traiçoeiro, caros leitores, e é preciso ter cuidado ao interpretar a face subitamente rosada do enfermo. A economia brasileira hoje se recupera na esteira de uma redução das taxas de juros e do aumento da confiança empresarial devido ao claro redirecionamento da política econômica. O barco retomou o norte, e para surpresa de muitos, o time do Ministério da Fazenda colheu importantes vitórias em pouco tempo: reforma trabalhista, criação da TLP etc. Mas o porto seguro está ainda a léguas de distância, e o oceano à frente é tempestuoso. Mais: a nau está avariada.

O calcanhar de Aquiles de qualquer economia, o que lhe confere estabilidade, é seu equilíbrio fiscal. E nesse quesito básico, a coisa encontra-se em estado calamitoso: dívida pública indo para 80% do PIB e sem perspectiva de melhoras por mais um bocado de anos. Sinal de calmaria só se vê com lupa poderosa, capaz de enxergar as águas distantes de 2020.

E, para complicar, no meio do caminho havia uma eleição. Pedregosa eleição.

O ano de 2018 será palco de uma das mais importantes batalhas de ideias dos tempos recentes (da res publica?): o vazio no centro político e a polarização excessiva favorecem discursos populistas, salvacionistas, mas é crucial que a disputa pelo poder —que promete ser acirrada— não termine por jogar o bebê junto com a proverbial água pela janela. É contra isso que nós do Por Quê? vamos brigar.

Em linhas bem gerais, dois pilares fundamentais precisam ser preservados/ampliados por quem quer que venha a sair vencedor da refrega política: (1) a luta (perene e às vezes inglória) pelos avanços de natureza político-institucional, com foco imediato na continuidade das investigações da Lava Jato e na sempre adiada reforma política (algum tipo de sistema distrital e fim dos financiamentos públicos e de pessoas jurídicas das campanhas eleitorais); e (2) a continuidade da normalização da política econômica, começando pela urgente aprovação da reforma da Previdência.

Aos candidatos, o alerta é: não adianta demolir as boas ideias nos próximos dez meses para depois, nos corredores de Brasília, buscar o caminho da correção, cinicamente. Esse tipo de pacto com o Maligno, já sabemos, não funciona. O verdadeiro plano de governo precisa ser apresentado ao público com entusiasmo e honestidade no bojo da campanha, e que a briga ocorra em outras dimensões, sem tentativas de reinvenção da velha roda. Não é possível que isso não seja possível: a esperança precisa finalmente vencer o medo.

E fica o aviso: caso a contenda eleitoral venha a ferir as conquistas recentes, desarranjando timão e leme, o destino não é um porto indesejado, mas o naufrágio em mar aberto com morte por afogamento.

*

Texto publicado originalmente em nossa coluna na Folha

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Feliz 2018?

Feliz 2018? Ao que tudo indica, as coisas começam a entrar nos trilhos no campo da economia. Não falamos das maravilhas de um moderníssimo trem-bala, claro, mas só voltar aos trilhos depois dos desastrosos anos que se seguiram à adoção da Nova Matriz Econômica já deveria ser motivo para comemorar. Em números: a inflação do ano que passou deve ficar ali perto dos 3% e o PIB de 2018 deve crescer algo acima de 2%. Comparado ao desempenho recente, certo otimismo não parece tão descabido. Um 2018 feliz para a sociedade brasileira? Não sabemos ainda. O ano que se descortina à nossa frente começa bem em números, mas pode terminar mal em termos de rota. E rota errada termina em números desastrosos —sim, já vimos esse filme algumas vezes e ainda assim ele teima em se repetir. O curto prazo é traiçoeiro, caros leitores, e é preciso ter cuidado ao interpretar a face subitamente rosada do enfermo. A economia brasileira hoje se recupera na esteira de uma redução das taxas de juros e do aumento da confiança empresarial devido ao claro redirecionamento da política econômica. O barco retomou o norte, e para surpresa de muitos, o time do Ministério da Fazenda colheu importantes vitórias em pouco tempo: reforma trabalhista, criação da TLP etc. Mas o porto seguro está ainda a léguas de distância, e o oceano à frente é tempestuoso. Mais: a nau está avariada. O calcanhar de Aquiles de qualquer economia, o que lhe confere estabilidade, é seu equilíbrio fiscal. E nesse quesito básico, a coisa encontra-se em estado calamitoso: dívida pública indo para 80% do PIB e sem perspectiva de melhoras por mais um bocado de anos. Sinal de calmaria só se vê com lupa poderosa, capaz de enxergar as águas distantes de 2020. E, para complicar, no meio do caminho havia uma eleição. Pedregosa eleição. O ano de 2018 será palco de uma das mais importantes batalhas de ideias dos tempos recentes (da res publica?): o vazio no centro político e a polarização excessiva favorecem discursos populistas, salvacionistas, mas é crucial que a disputa pelo poder —que promete ser acirrada— não termine por jogar o bebê junto com a proverbial água pela janela. É contra isso que nós do Por Quê? vamos brigar. Em linhas bem gerais, dois pilares fundamentais precisam ser preservados/ampliados por quem quer que venha a sair vencedor da refrega política: (1) a luta (perene e às vezes inglória) pelos avanços de natureza político-institucional, com foco imediato na continuidade das investigações da Lava Jato e na sempre adiada reforma política (algum tipo de sistema distrital e fim dos financiamentos públicos e de pessoas jurídicas das campanhas eleitorais); e (2) a continuidade da normalização da política econômica, começando pela urgente aprovação da reforma da Previdência. Aos candidatos, o alerta é: não adianta demolir as boas ideias nos próximos dez meses para depois, nos corredores de Brasília, buscar o caminho da correção, cinicamente. Esse tipo de pacto com o Maligno, já sabemos, não funciona. O verdadeiro plano de governo precisa ser apresentado ao público com entusiasmo e honestidade no bojo da campanha, e que a briga ocorra em outras dimensões, sem tentativas de reinvenção da velha roda. Não é possível que isso não seja possível: a esperança precisa finalmente vencer o medo. E fica o aviso: caso a contenda eleitoral venha a ferir as conquistas recentes, desarranjando timão e leme, o destino não é um porto indesejado, mas o naufrágio em mar aberto com morte por afogamento. *

Texto publicado originalmente em nossa coluna na Folha

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