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A resposta usual à pergunta acima passa pela perda do poder compra do salário influenciada pelo aumento no ritmo dos reajustes de preços. Ou seja, o aumento do custo de vida provocado pela inflação diminui a quantidade de bens e serviços que a grana do trabalhador pode comprar. Assim, os mais pobres teriam mais a perder com uma inflação elevada.

Mas esse não é o principal mecanismo que liga inflação a uma piora distributiva.

A história acima funciona apenas para aumentos inesperados na taxa de inflação. Quando as pessoas preveem a subida mais rápida dos preços, eles se antecipam e embutem nas negociações de salários uma pedida mais alta, justamente para evitar a redução de poder de compra que teriam no futuro. Cláusulas ainda podem ser adicionadas a contratos, prevendo reajustes automáticos para evitar a perda do poder de compra do trabalhador.

E, ainda que a subida de preços seja inesperada, a redução de poder de compra dos salários é temporária. Nas próximas negociações, os trabalhadores tendem a incluir essa perda em novos contratos.

Mas por que a inflação prejudica os mais pobres? Porque ela atua como um imposto sobre quem segura dinheiro.

Suponha que, hoje, com uma nota de 100 reais em mãos e uma inflação de 10% ao ano, o consumidor possa encher o tanque do carro. Se o combustível aumentar 10% depois de um ano, o tanque cheio custará 110 reais. Logo, com uma mesma nota de 100 reais, o motorista passa a encher perto de 90% do seu tanque.

Essa hipótese ilustra como a inflação faz cair a quantidade de bens e serviços que o dinheiro consegue comprar. E quem o segura dinheiro nessas condições, portanto, sai perdendo. É como se essa pessoa pagasse um pesado imposto por ter ficado com o dinheiro parado no fundo da gaveta.

Como reagimos a isso?

Indivíduos expostos a uma taxação mais pesada procuram escapar dela. Não falamos aqui de evasão fiscal, mas de uma simples mudança de comportamento.

Por exemplo, se o governo coloca um imposto mais elevado sobre refeições feitas em restaurantes, o preço dessa refeição aumentará. O que as pessoas fazem? Começam a comer mais vezes em casa. O consumidor substitui refeições feitas fora por refeições em casa para evitar o pagamento do imposto embutido no preço mais alto.

Com o dinheiro, funciona da mesma forma. Ao serem taxados com uma inflação mais alta, os indivíduos buscam se proteger dela. Colocam sua riqueza em ativos financeiros com esse objetivo. As taxas de juros de títulos públicos, por exemplo, tendem a subir junto com a inflação, já que os credores passam a exigir um rendimento maior para compensá-los dessa perda de poder de compra.

Problema: esses produtos financeiros, em geral, estão disponíveis apenas para indivíduos com renda alta. E mesmo que os mais pobres pudessem ter acesso, pode ser que desconheçam essa opção. Muitas pessoas nem sequer têm conta no banco. Além disso, os bancos dirigem seus melhores funcionários para atender justamente os mais ricos  – e não para oferecer produtos que protejam o mais pobre da inflação.

Dessa forma, os indivíduos mais pobres tendem a possuir uma fração maior de sua riqueza alocada em ativos que não protegem contra a inflação (como dinheiro vivo, conta corrente ou mesmo guardado na poupança que, hoje, remunera abaixo da inflação). Quando o ritmo de elevação dos preços se intensifica, portanto, são justamente eles quem perdem mais.

E como fica em 2016?

A economia continuará em recessão. E mesmo com desemprego em alta e salários em queda (fatores que poderiam segurar a inflação), há sinais de que a inflação permanecerá elevada.

Essa somatória de fatores é particularmente prejudicial aos mais pobres. E tem mais: se o problema fiscal (gastar mais do que arrecada) do governo brasileiro não for resolvido, corremos o risco de uma inflação permanentemente mais elevada, penalizando ainda mais os pobres.

Texto publicado originalmente no especial Inflação de dois dígitos. E agora?, do Estadão.  


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Inflação: por que os pobres sofrem mais?

A resposta usual à pergunta acima passa pela perda do poder compra do salário influenciada pelo aumento no ritmo dos reajustes de preços. Ou seja, o aumento do custo de vida provocado pela inflação diminui a quantidade de bens e serviços que a grana do trabalhador pode comprar. Assim, os mais pobres teriam mais a perder com uma inflação elevada. Mas esse não é o principal mecanismo que liga inflação a uma piora distributiva. A história acima funciona apenas para aumentos inesperados na taxa de inflação. Quando as pessoas preveem a subida mais rápida dos preços, eles se antecipam e embutem nas negociações de salários uma pedida mais alta, justamente para evitar a redução de poder de compra que teriam no futuro. Cláusulas ainda podem ser adicionadas a contratos, prevendo reajustes automáticos para evitar a perda do poder de compra do trabalhador. E, ainda que a subida de preços seja inesperada, a redução de poder de compra dos salários é temporária. Nas próximas negociações, os trabalhadores tendem a incluir essa perda em novos contratos. Mas por que a inflação prejudica os mais pobres? Porque ela atua como um imposto sobre quem segura dinheiro. Suponha que, hoje, com uma nota de 100 reais em mãos e uma inflação de 10% ao ano, o consumidor possa encher o tanque do carro. Se o combustível aumentar 10% depois de um ano, o tanque cheio custará 110 reais. Logo, com uma mesma nota de 100 reais, o motorista passa a encher perto de 90% do seu tanque. Essa hipótese ilustra como a inflação faz cair a quantidade de bens e serviços que o dinheiro consegue comprar. E quem o segura dinheiro nessas condições, portanto, sai perdendo. É como se essa pessoa pagasse um pesado imposto por ter ficado com o dinheiro parado no fundo da gaveta. Como reagimos a isso? Indivíduos expostos a uma taxação mais pesada procuram escapar dela. Não falamos aqui de evasão fiscal, mas de uma simples mudança de comportamento. Por exemplo, se o governo coloca um imposto mais elevado sobre refeições feitas em restaurantes, o preço dessa refeição aumentará. O que as pessoas fazem? Começam a comer mais vezes em casa. O consumidor substitui refeições feitas fora por refeições em casa para evitar o pagamento do imposto embutido no preço mais alto. Com o dinheiro, funciona da mesma forma. Ao serem taxados com uma inflação mais alta, os indivíduos buscam se proteger dela. Colocam sua riqueza em ativos financeiros com esse objetivo. As taxas de juros de títulos públicos, por exemplo, tendem a subir junto com a inflação, já que os credores passam a exigir um rendimento maior para compensá-los dessa perda de poder de compra. Problema: esses produtos financeiros, em geral, estão disponíveis apenas para indivíduos com renda alta. E mesmo que os mais pobres pudessem ter acesso, pode ser que desconheçam essa opção. Muitas pessoas nem sequer têm conta no banco. Além disso, os bancos dirigem seus melhores funcionários para atender justamente os mais ricos  – e não para oferecer produtos que protejam o mais pobre da inflação. Dessa forma, os indivíduos mais pobres tendem a possuir uma fração maior de sua riqueza alocada em ativos que não protegem contra a inflação (como dinheiro vivo, conta corrente ou mesmo guardado na poupança que, hoje, remunera abaixo da inflação). Quando o ritmo de elevação dos preços se intensifica, portanto, são justamente eles quem perdem mais. E como fica em 2016? A economia continuará em recessão. E mesmo com desemprego em alta e salários em queda (fatores que poderiam segurar a inflação), há sinais de que a inflação permanecerá elevada. Essa somatória de fatores é particularmente prejudicial aos mais pobres. E tem mais: se o problema fiscal (gastar mais do que arrecada) do governo brasileiro não for resolvido, corremos o risco de uma inflação permanentemente mais elevada, penalizando ainda mais os pobres. Texto publicado originalmente no especial Inflação de dois dígitos. E agora?, do Estadão.   VEJA TAMBÉM 
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