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O que são? Tem muito ou pouco?
Para que servem as reservas internacionais que o país possui? Deveríamos usá-las, por exemplo, para recapitalizar o BNDES, como sugeriu recentemente o candidato Ciro Gomes?
São mais ou menos 380 bilhões de dólares o que o país possui em reservas internacionais. Há cerca de 15 anos,  eram uns 30 bilhões. Isso mesmo, 10% do que são hoje. Esse volume era certamente pequeno demais para uma economia do nosso porte; hoje parece um pouco alto demais. Mas não há número mágico para definir a transição de pouco para médio e para muito, que fique claro. Um indicador que os analistas gostam de usar para fins de comparação é a razão entre o total de reservas que um país possui e o tamanho de sua dívida externa.

Como se acumulam reservas? 
É assim: um cara exporta ferro, entram dólares; o cara quer reais para poder comprar pastéis, e vende os dólares em troca de reais para o banco dele. O BC vem e compra dólares do banco, emitindo reais. Mas muitos reais circulando por aí dá inflação, então o governo – que trabalha sob um sistema de metas para inflação – enxuga isso com emissão de dívida (o governo não precisa dar esse último passo; ele pode deixar a quantidade de reais na economia crescer). Isso se chama intervenção esterilizada. Na não esterilizada ele não emite dívida para enxugar os reais que ele lançou na economia quando comprou dólares.
Onde elas ficam? 
As reservas não ficam ociosas. Ociosidade, nesse caso, seria deixá-las embaixo do colchão ou enterradas no canteiro do Planalto. Mas não é aí que elas se encontram – felizmente. Esse dinheiro está emprestado para o governo norte-americano, em forma de títulos de dívida que o Tio Sam emite e o Brasil adquire. Rende um juro, que é o custo de oportunidade, mas um juro bem baixinho, na casa dos 3%.
Apesar de modesto, note o leitor: estamos falando de juro em dólares. Ou seja, a aplicação paga ao contribuinte brasileiro 3% em dólares + variação cambial. Só nesse ano, vale lembrar, o dólar se valorizou uns 30% em frente ao real...
Para que elas servem? 
Reservas internacionais funcionam como um colchão de segurança. Em duas dimensões: (i) elas tornam a economia menos propensa a crises financeiras, e (ii) se a crise bate, elas amortecem seus efeitos deletérios. As explicações são relativamente simples: (i) ninguém vai mexer com você à toa sabendo que você tem munição suficiente para revidar, caso queira, e (ii) quando a crise bate, as reservas atenuam o impacto porque a situação fiscal se deteriora mas, justamente nessa hora, seu ativo em dólares lá fora do país se valoriza dado que ocorre uma apreciação do Dólar em relação ao Real. De novo, é como um seguro: na hora que você toma um choque ruim na cabeça, é compensado com um ativo rendendo mais.
E se quisermos ter menos desse seguro? 
Ok, então o governo tem ativos em dólares, uns poucos passivos em dólares e muitos em reais. O governo pode vender ativos para pagar dívida, como você vende seu carro para quitar uma dívida incômoda com o banco? Pode, ué. Para dívida externa funciona assim: ele, governo, vai lá fora, saca da sua conta que rende pouco (um juro de uns 3%) e recompra uma dívida que é mais cara (um juro de uns 7%). Trocar dívida cara por barata é bom, pois se economiza o diferencial de juros.
Para dívida interna o mecanismo seria: vende os dólares no mercado e recebe reais; aí reinjeta esses reais na economia para recomprar parte da dívida interna. Ao fim e ao cabo, o governo termina com menos dívida doméstica e menos ativos em dólares. E na economia privada agora haverá mais dólares e menos títulos do governo. Como a quantidade de Reais em circulação não mexeu, o único impacto sobre a inflação é o advindo da apreciação da moeda nacional frente o Dólar quando o governo sai vendendo Dólares. Por isso, possivelmente a inflação cai um pouco.
Alternativamente, o governo pode seguir a proposta de Ciro Gomes: vender as reservas, adquirindo reais, e emprestar esses reais para o BNDES, que então os usaria para financiar o investimento privado. Na prática, o Banco Central, em vez de ter títulos do governo americano em sua carteira, teria agora títulos do BNDES. Porque as reservas agora são menores, o perfil de risco de nossa dívida externa pioraria, aumentando o custo de novas emissões, inclusive emissões do setor privado.
Finalmente, porque mais investimento em nossa economia seria financiado pelo BNDES, isto é, pelo pessoal que achava uma boa ideia investir nas firmas do Joesley, Eike e portos de Cuba, ocorreria uma queda na qualidade do investimento e da produtividade, como na última vez que o BNDES saiu emprestando aos borbotões, no governo Dilma. A proposta Gomes, em suma, significa menos proteção (seguro) e investimentos mais ineficientes.

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O que são - e para que servem - as reservas internacionais?

O que são? Tem muito ou pouco? Para que servem as reservas internacionais que o país possui? Deveríamos usá-las, por exemplo, para recapitalizar o BNDES, como sugeriu recentemente o candidato Ciro Gomes? São mais ou menos 380 bilhões de dólares o que o país possui em reservas internacionais. Há cerca de 15 anos,  eram uns 30 bilhões. Isso mesmo, 10% do que são hoje. Esse volume era certamente pequeno demais para uma economia do nosso porte; hoje parece um pouco alto demais. Mas não há número mágico para definir a transição de pouco para médio e para muito, que fique claro. Um indicador que os analistas gostam de usar para fins de comparação é a razão entre o total de reservas que um país possui e o tamanho de sua dívida externa. Como se acumulam reservas? É assim: um cara exporta ferro, entram dólares; o cara quer reais para poder comprar pastéis, e vende os dólares em troca de reais para o banco dele. O BC vem e compra dólares do banco, emitindo reais. Mas muitos reais circulando por aí dá inflação, então o governo – que trabalha sob um sistema de metas para inflação – enxuga isso com emissão de dívida (o governo não precisa dar esse último passo; ele pode deixar a quantidade de reais na economia crescer). Isso se chama intervenção esterilizada. Na não esterilizada ele não emite dívida para enxugar os reais que ele lançou na economia quando comprou dólares. Onde elas ficam? As reservas não ficam ociosas. Ociosidade, nesse caso, seria deixá-las embaixo do colchão ou enterradas no canteiro do Planalto. Mas não é aí que elas se encontram – felizmente. Esse dinheiro está emprestado para o governo norte-americano, em forma de títulos de dívida que o Tio Sam emite e o Brasil adquire. Rende um juro, que é o custo de oportunidade, mas um juro bem baixinho, na casa dos 3%. Apesar de modesto, note o leitor: estamos falando de juro em dólares. Ou seja, a aplicação paga ao contribuinte brasileiro 3% em dólares + variação cambial. Só nesse ano, vale lembrar, o dólar se valorizou uns 30% em frente ao real... Para que elas servem? Reservas internacionais funcionam como um colchão de segurança. Em duas dimensões: (i) elas tornam a economia menos propensa a crises financeiras, e (ii) se a crise bate, elas amortecem seus efeitos deletérios. As explicações são relativamente simples: (i) ninguém vai mexer com você à toa sabendo que você tem munição suficiente para revidar, caso queira, e (ii) quando a crise bate, as reservas atenuam o impacto porque a situação fiscal se deteriora mas, justamente nessa hora, seu ativo em dólares lá fora do país se valoriza dado que ocorre uma apreciação do Dólar em relação ao Real. De novo, é como um seguro: na hora que você toma um choque ruim na cabeça, é compensado com um ativo rendendo mais. E se quisermos ter menos desse seguro? Ok, então o governo tem ativos em dólares, uns poucos passivos em dólares e muitos em reais. O governo pode vender ativos para pagar dívida, como você vende seu carro para quitar uma dívida incômoda com o banco? Pode, ué. Para dívida externa funciona assim: ele, governo, vai lá fora, saca da sua conta que rende pouco (um juro de uns 3%) e recompra uma dívida que é mais cara (um juro de uns 7%). Trocar dívida cara por barata é bom, pois se economiza o diferencial de juros. Para dívida interna o mecanismo seria: vende os dólares no mercado e recebe reais; aí reinjeta esses reais na economia para recomprar parte da dívida interna. Ao fim e ao cabo, o governo termina com menos dívida doméstica e menos ativos em dólares. E na economia privada agora haverá mais dólares e menos títulos do governo. Como a quantidade de Reais em circulação não mexeu, o único impacto sobre a inflação é o advindo da apreciação da moeda nacional frente o Dólar quando o governo sai vendendo Dólares. Por isso, possivelmente a inflação cai um pouco. Alternativamente, o governo pode seguir a proposta de Ciro Gomes: vender as reservas, adquirindo reais, e emprestar esses reais para o BNDES, que então os usaria para financiar o investimento privado. Na prática, o Banco Central, em vez de ter títulos do governo americano em sua carteira, teria agora títulos do BNDES. Porque as reservas agora são menores, o perfil de risco de nossa dívida externa pioraria, aumentando o custo de novas emissões, inclusive emissões do setor privado. Finalmente, porque mais investimento em nossa economia seria financiado pelo BNDES, isto é, pelo pessoal que achava uma boa ideia investir nas firmas do Joesley, Eike e portos de Cuba, ocorreria uma queda na qualidade do investimento e da produtividade, como na última vez que o BNDES saiu emprestando aos borbotões, no governo Dilma. A proposta Gomes, em suma, significa menos proteção (seguro) e investimentos mais ineficientes. Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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