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Muitos confrontos no futebol, quando terminam empatados, têm de ser resolvidos nos pênaltis. O formato é o que conhecemos há décadas: um time inicia a disputa, o adversário bate em seguida, o primeiro time volta a bater, seguido novamente pelo adversário, e assim por diante. Esse esquema é conhecido como ABAB, refletindo a ordem das cobranças, com o time A começando e o time B vindo em seguida.

Recentemente, as autoridades do futebol iniciaram uma discussão sobre possíveis mudanças no formato. Por quê? Porque o formato ABAB tenderia a beneficiar quem bate o primeiro pênalti (o time A). Afinal, ao acertar o primeiro pênalti, A joga a pressão para cima do batedor de B converter e empatar a disputa. Por causa dessa pressão, a chances de perda do pênalti seriam maiores, o que explicaria a vantagem de quem começa.

A Uefa, órgão máximo do futebol europeu, resolveu testar em seus campeonatos juvenis um esquema alternativo, que em tese mitigaria a vantagem de quem inicia a disputa. Nesse arranjo –batizado por ABBA– a equipe A bate o primeiro pênalti e a equipe B o segundo. Mas na próxima rodada a ordem se inverte: B bate o terceiro pênalti da série, enquanto A bate o quarto. Na rodada seguinte retoma-se a ordem original, na posterior usa-se a ordem inversa, e assim por diante.

Afinal, no formato atual (ABAB), quem inicia a disputa realmente leva vantagem?

Na verdade, dois economistas documentaram que essa vantagem existe e é substancial. Com base em mais de 100 disputas de pênaltis no período de 1970 a 2003, incluindo tanto torneios de seleções como de clubes, eles observaram que em cerca de 60% dos casos o vencedor foi o time que bateu o primeiro pênalti. Isso não é nada desprezível: dado que o jogo terminou empatado, as equipes estão provavelmente em um nível bem semelhante. Qualquer vantagem pode ser determinante.

E o que isso tem a ver com economia?

A economia estuda como indivíduos –consumidores, empresas, organizações, políticos– tomam decisões quando se defrontam com restrições. O caso mais comum descreve um consumidor que gostaria de comprar os mais diversos itens, mas está restrito por um orçamento limitado. Por exemplo, compro livros educativos para os meus filhos, banco uma viagem à Disney, ou coloco o dinheiro na poupança?

Mas há diversas outras restrições por aí. As pessoas têm limitações de tempo, não podem estar em dois lugares simultaneamente. Uso uma hora de uma manhã de sábado para dormir ou pego minha bicicleta para praticar exercício? Um fazendeiro emprega sua terra para plantar cana-de-açúcar ou criar gado? Um político usa seu capital político para reformar a Previdência ou para passar uma lei que garante independência do Banco Central?

Mudanças no ambiente introduzem outras restrições, tornando escolhas mais difíceis. Considere um pai no shopping center pensando se compra ou não um brinquedo para seus filhos. Sua escolha será potencialmente afetada pelo fato de as crianças estarem gritando que realmente desejam aquele brinquedo. Um deputado está considerando votar contra ou a favor da reforma da Previdência. Você acha que ele seria influenciado por funcionários públicos protestando efusivamente do lado de fora de seu gabinete?

Da mesma forma, um jogador na marca do pênalti precisa decidir em que canto bater, sob o risco de desperdiçar a cobrança. A pressão já é grande, porém é ainda maior se ele precisa converter para empatar a peleja. Os resultados encontrados por José Apesteguia e Ignacio Palacios-Huerta sugerem que a pressão de fato importa, ajudando a determinar quem sobrevive e quem é eliminado em um torneio.

O contexto do futebol é interessante, pois há muito em jogo na decisão dos batedores. Um pênalti desperdiçado pode significar a decepção dos fãs, perda financeira para o clube, e contratos menos favoráveis ao jogador no futuro. Imagine isso em uma final de Liga dos Campeões da Europa ou Copa Libertadores.

Algumas observações são consistentes com essa ideia da pressão afetando o comportamento de batedores. Suponha que o time que inicia a disputa perca o primeiro pênalti, enquanto o adversário converte sua cobrança. Nesse cenário as coisas se invertem. É o time que bate o segundo pênalti que está em vantagem, enquanto a pressão para empatar é transferida para o primeiro. Se a história estiver correta, quando isso ocorre, as chances de vitória deveriam ser bem maiores para o segundo time. De fato, os dados confirmam isso.

Adicionalmente, a regra sofreu uma alteração depois de 2003. Antes disso, o time que inicia a disputa era determinado por cara ou coroa. A partir de 2003, o vencedor da moeda passou a poder escolher se inicia a disputa, ou bate depois. Com base em vídeos, os autores conseguiram identificar, para um conjunto de partidas nesse período, quem venceu o cara ou coroa e a decisão do capitão da equipe. Na absoluta maioria das vezes, a preferência foi por iniciar a disputa.

Por fim, os autores entrevistaram técnicos de futebol e capitães de equipes, perguntando hipoteticamente se prefeririam começar batendo ou não uma disputa de pênaltis. A grande maioria prefere iniciar a disputa. O motivo usualmente fornecido: converter o primeiro pênalti significa empurrar a pressão para que seu adversário acerte a cobrança.

Há outros estudos bastante interessantes em economia que avaliam o impacto da pressão, tomando como pano de fundo o futebol. Vários deles buscam entender como o comportamento de árbitros é afetado pela pressão da torcida. Voltaremos ao assunto no futuro.

Pênalti é loteria?

Muitos confrontos no futebol, quando terminam empatados, têm de ser resolvidos nos pênaltis. O formato é o que conhecemos há décadas: um time inicia a disputa, o adversário bate em seguida, o primeiro time volta a bater, seguido novamente pelo adversário, e assim por diante. Esse esquema é conhecido como ABAB, refletindo a ordem das cobranças, com o time A começando e o time B vindo em seguida.

Recentemente, as autoridades do futebol iniciaram uma discussão sobre possíveis mudanças no formato. Por quê? Porque o formato ABAB tenderia a beneficiar quem bate o primeiro pênalti (o time A). Afinal, ao acertar o primeiro pênalti, A joga a pressão para cima do batedor de B converter e empatar a disputa. Por causa dessa pressão, a chances de perda do pênalti seriam maiores, o que explicaria a vantagem de quem começa.

A Uefa, órgão máximo do futebol europeu, resolveu testar em seus campeonatos juvenis um esquema alternativo, que em tese mitigaria a vantagem de quem inicia a disputa. Nesse arranjo –batizado por ABBA– a equipe A bate o primeiro pênalti e a equipe B o segundo. Mas na próxima rodada a ordem se inverte: B bate o terceiro pênalti da série, enquanto A bate o quarto. Na rodada seguinte retoma-se a ordem original, na posterior usa-se a ordem inversa, e assim por diante.

Afinal, no formato atual (ABAB), quem inicia a disputa realmente leva vantagem?

Na verdade, dois economistas documentaram que essa vantagem existe e é substancial. Com base em mais de 100 disputas de pênaltis no período de 1970 a 2003, incluindo tanto torneios de seleções como de clubes, eles observaram que em cerca de 60% dos casos o vencedor foi o time que bateu o primeiro pênalti. Isso não é nada desprezível: dado que o jogo terminou empatado, as equipes estão provavelmente em um nível bem semelhante. Qualquer vantagem pode ser determinante.

E o que isso tem a ver com economia?

A economia estuda como indivíduos –consumidores, empresas, organizações, políticos– tomam decisões quando se defrontam com restrições. O caso mais comum descreve um consumidor que gostaria de comprar os mais diversos itens, mas está restrito por um orçamento limitado. Por exemplo, compro livros educativos para os meus filhos, banco uma viagem à Disney, ou coloco o dinheiro na poupança?

Mas há diversas outras restrições por aí. As pessoas têm limitações de tempo, não podem estar em dois lugares simultaneamente. Uso uma hora de uma manhã de sábado para dormir ou pego minha bicicleta para praticar exercício? Um fazendeiro emprega sua terra para plantar cana-de-açúcar ou criar gado? Um político usa seu capital político para reformar a Previdência ou para passar uma lei que garante independência do Banco Central?

Mudanças no ambiente introduzem outras restrições, tornando escolhas mais difíceis. Considere um pai no shopping center pensando se compra ou não um brinquedo para seus filhos. Sua escolha será potencialmente afetada pelo fato de as crianças estarem gritando que realmente desejam aquele brinquedo. Um deputado está considerando votar contra ou a favor da reforma da Previdência. Você acha que ele seria influenciado por funcionários públicos protestando efusivamente do lado de fora de seu gabinete?

Da mesma forma, um jogador na marca do pênalti precisa decidir em que canto bater, sob o risco de desperdiçar a cobrança. A pressão já é grande, porém é ainda maior se ele precisa converter para empatar a peleja. Os resultados encontrados por José Apesteguia e Ignacio Palacios-Huerta sugerem que a pressão de fato importa, ajudando a determinar quem sobrevive e quem é eliminado em um torneio.

O contexto do futebol é interessante, pois há muito em jogo na decisão dos batedores. Um pênalti desperdiçado pode significar a decepção dos fãs, perda financeira para o clube, e contratos menos favoráveis ao jogador no futuro. Imagine isso em uma final de Liga dos Campeões da Europa ou Copa Libertadores.

Algumas observações são consistentes com essa ideia da pressão afetando o comportamento de batedores. Suponha que o time que inicia a disputa perca o primeiro pênalti, enquanto o adversário converte sua cobrança. Nesse cenário as coisas se invertem. É o time que bate o segundo pênalti que está em vantagem, enquanto a pressão para empatar é transferida para o primeiro. Se a história estiver correta, quando isso ocorre, as chances de vitória deveriam ser bem maiores para o segundo time. De fato, os dados confirmam isso.

Adicionalmente, a regra sofreu uma alteração depois de 2003. Antes disso, o time que inicia a disputa era determinado por cara ou coroa. A partir de 2003, o vencedor da moeda passou a poder escolher se inicia a disputa, ou bate depois. Com base em vídeos, os autores conseguiram identificar, para um conjunto de partidas nesse período, quem venceu o cara ou coroa e a decisão do capitão da equipe. Na absoluta maioria das vezes, a preferência foi por iniciar a disputa.

Por fim, os autores entrevistaram técnicos de futebol e capitães de equipes, perguntando hipoteticamente se prefeririam começar batendo ou não uma disputa de pênaltis. A grande maioria prefere iniciar a disputa. O motivo usualmente fornecido: converter o primeiro pênalti significa empurrar a pressão para que seu adversário acerte a cobrança.

Há outros estudos bastante interessantes em economia que avaliam o impacto da pressão, tomando como pano de fundo o futebol. Vários deles buscam entender como o comportamento de árbitros é afetado pela pressão da torcida. Voltaremos ao assunto no futuro.
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