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Há vários pescadores em um lago. Cada um deles lida constantemente com o mesmo dilema: se pegar muitos peixes hoje, terá um ganho imediatamente grande no mercado local de pesca; mas pegar muitos peixes hoje diminuiria a quantidade de peixes se reproduzindo no lago e, portanto, faltarão peixes para serem pescados no futuro.

Assim, caso um pescador pesque tudo hoje, sua renda, lá na frente, minguará. Desse modo, o ideal seria pescar somente alguns peixes e deixar outros para depois, como modo de garantir trabalho no futuro.

Mas que incentivo cada um dos pescadores tem para “poupar” os peixes?



Quando você é um pescador e concorre com vários outros em um só lago, você tem a sensação de que deixar de pescar um só mísero peixe pouco mudará a quantidade total de peixes disponíveis. O ganho individual de “poupar” um peixe parece muito pequeno. Nessas circunstâncias, o incentivo para cada pescador conseguir o maior número de peixes possível no presente é maior que o incentivo para “poupar” peixes para amanhã.

Com todos os pescadores agindo da mesma forma, no entanto, o resultado é desastroso. Individualmente e no presente, cada pessoa acaba pescando demais. Coletivamente e no futuro, não sobra nenhum peixe.

Nesse exemplo, cada pessoa tenta fazer o melhor para si e todo mundo sai perdendo. Esse resultado é conhecido em economia como tragédia dos comuns. Basicamente, ocorre quando há um recurso sendo utilizado ao mesmo tempo por um conjunto grande de cidadãos. Cada um usa demais esse recurso e todos acabam tendo de arcar com os custos somados de suas ações individuais.

Existem vários outros exemplos por aí. Um deles, bastante conhecido por quem mora em condomínio: o uso da água é compartilhado e a conta da água é dividida igualmente entre todos os apartamentos.

O que ocorre?

Se você economiza água, você pouco contribui para reduzir a conta total do condomínio. As pessoas acabam sendo incentivadas a não fechar as torneiras. Resultado agregado: consumo excessivo e conta gorda para todo mundo.

Ótimo, mas o que tem a ver com isso tudo a crise dos estados?

A tragédia dos comuns cai como uma luva para analisarmos o dilema existente na atual negociação de estados endividados com o governo federal.

Assim como o governo, os estados estão com as contas públicas seriamente mergulhadas no vermelho (crise fiscal). Motivo principal: gastos excessivos no passado recente e queda brutal da arrecadação na recessão. Diversos estados estão com dificuldades em honrar suas obrigações com fornecedores e credores e alguns estão atrasando salários e aposentadorias.

Serviços essenciais (como saúde pública) estão ameaçados.

Bem como o governo federal, os governos estatuais precisam de ajustes fiscais, ou seja, de reformas para que seus gastos sejam menores que a arrecadação ao longo dos anos. Mas isso é custoso, sobretudo no curto prazo. Envolve cortes de verbas, elevação de impostos ou uma combinação dessas duas coisas. E os estados vêm pressionando o governo federal para ajudá-los nessa empreitada.

Como?

Os estados tentam renegociar o pagamento de suas dívidas com o governo federal. Chegam até a pedir grana. Foi o caso do Rio de Janeiro, que recebeu dinheiro para bancar a segurança na Olimpíada.

Agora lembre-se do exemplo do uso de água em condomínios. Digamos que os estados sejam os moradores e a União, o condomínio.

Se um estado (um morador) não faz seu dever de casa e a União (o condomínio) dá uma grana para ele, quem paga a conta? Na prática, todo mundo (todos os moradores do condomínio). O custo dessa ajuda a apenas um estado será dividido entre todos os estados.

Quando a União entrega um dinheiro para um estado, precisa cobrar impostos de todos os estados para bancar a fatura – inclusive dos que andam na linha. Ou seja, o custo excessivo do socorro a um estado endividado é compartilhado por todos, endividados ou não.

Então qual o incentivo individual para que cada estado faça o seu ajuste fiscal? Muito baixo. E isso dificulta o ajuste fiscal do país inteiro.



É preocupante a ajuda do governo federal ao Rio, que decretou calamidade pública pela falta de dinheiro. Outros estados chiaram, pediram uma mãozinha e ganharam mais alguns meses (carência) para quitar em dia seus compromissos com a União.

Os municípios, também em situação difícil, já estão com o pires na mão, querem ajuda.

O governo precisaria jogar dura com estados e municípios. Alguma ajuda é inevitável, ainda mais para garantir serviços essenciais. Mas ela deve vir atrelada a condicionalidades. A exigência de contrapartidas pode evitar que os estados entrem em colapso fiscal novamente no futuro.

Agravante: o governo Temer, interino que é, não está em condições de desagradar muita gente por aí.  Nessas condições, como jogar duro com alguém?

Por que 27 estados pagam a dívida de apenas um?

Há vários pescadores em um lago. Cada um deles lida constantemente com o mesmo dilema: se pegar muitos peixes hoje, terá um ganho imediatamente grande no mercado local de pesca; mas pegar muitos peixes hoje diminuiria a quantidade de peixes se reproduzindo no lago e, portanto, faltarão peixes para serem pescados no futuro. Assim, caso um pescador pesque tudo hoje, sua renda, lá na frente, minguará. Desse modo, o ideal seria pescar somente alguns peixes e deixar outros para depois, como modo de garantir trabalho no futuro. Mas que incentivo cada um dos pescadores tem para “poupar” os peixes? Quando você é um pescador e concorre com vários outros em um só lago, você tem a sensação de que deixar de pescar um só mísero peixe pouco mudará a quantidade total de peixes disponíveis. O ganho individual de “poupar” um peixe parece muito pequeno. Nessas circunstâncias, o incentivo para cada pescador conseguir o maior número de peixes possível no presente é maior que o incentivo para “poupar” peixes para amanhã. Com todos os pescadores agindo da mesma forma, no entanto, o resultado é desastroso. Individualmente e no presente, cada pessoa acaba pescando demais. Coletivamente e no futuro, não sobra nenhum peixe. Nesse exemplo, cada pessoa tenta fazer o melhor para si e todo mundo sai perdendo. Esse resultado é conhecido em economia como tragédia dos comuns. Basicamente, ocorre quando há um recurso sendo utilizado ao mesmo tempo por um conjunto grande de cidadãos. Cada um usa demais esse recurso e todos acabam tendo de arcar com os custos somados de suas ações individuais. Existem vários outros exemplos por aí. Um deles, bastante conhecido por quem mora em condomínio: o uso da água é compartilhado e a conta da água é dividida igualmente entre todos os apartamentos. O que ocorre? Se você economiza água, você pouco contribui para reduzir a conta total do condomínio. As pessoas acabam sendo incentivadas a não fechar as torneiras. Resultado agregado: consumo excessivo e conta gorda para todo mundo. Ótimo, mas o que tem a ver com isso tudo a crise dos estados? A tragédia dos comuns cai como uma luva para analisarmos o dilema existente na atual negociação de estados endividados com o governo federal. Assim como o governo, os estados estão com as contas públicas seriamente mergulhadas no vermelho (crise fiscal). Motivo principal: gastos excessivos no passado recente e queda brutal da arrecadação na recessão. Diversos estados estão com dificuldades em honrar suas obrigações com fornecedores e credores e alguns estão atrasando salários e aposentadorias. Serviços essenciais (como saúde pública) estão ameaçados. Bem como o governo federal, os governos estatuais precisam de ajustes fiscais, ou seja, de reformas para que seus gastos sejam menores que a arrecadação ao longo dos anos. Mas isso é custoso, sobretudo no curto prazo. Envolve cortes de verbas, elevação de impostos ou uma combinação dessas duas coisas. E os estados vêm pressionando o governo federal para ajudá-los nessa empreitada. Como? Os estados tentam renegociar o pagamento de suas dívidas com o governo federal. Chegam até a pedir grana. Foi o caso do Rio de Janeiro, que recebeu dinheiro para bancar a segurança na Olimpíada. Agora lembre-se do exemplo do uso de água em condomínios. Digamos que os estados sejam os moradores e a União, o condomínio. Se um estado (um morador) não faz seu dever de casa e a União (o condomínio) dá uma grana para ele, quem paga a conta? Na prática, todo mundo (todos os moradores do condomínio). O custo dessa ajuda a apenas um estado será dividido entre todos os estados. Quando a União entrega um dinheiro para um estado, precisa cobrar impostos de todos os estados para bancar a fatura – inclusive dos que andam na linha. Ou seja, o custo excessivo do socorro a um estado endividado é compartilhado por todos, endividados ou não. Então qual o incentivo individual para que cada estado faça o seu ajuste fiscal? Muito baixo. E isso dificulta o ajuste fiscal do país inteiro. É preocupante a ajuda do governo federal ao Rio, que decretou calamidade pública pela falta de dinheiro. Outros estados chiaram, pediram uma mãozinha e ganharam mais alguns meses (carência) para quitar em dia seus compromissos com a União. Os municípios, também em situação difícil, já estão com o pires na mão, querem ajuda. O governo precisaria jogar dura com estados e municípios. Alguma ajuda é inevitável, ainda mais para garantir serviços essenciais. Mas ela deve vir atrelada a condicionalidades. A exigência de contrapartidas pode evitar que os estados entrem em colapso fiscal novamente no futuro. Agravante: o governo Temer, interino que é, não está em condições de desagradar muita gente por aí.  Nessas condições, como jogar duro com alguém?
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