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Nos últimos anos houve mudanças importantes na forma como o brasileiro se relaciona com o setor financeiro. Muita gente passou a ter conta bancária, investir e tomar emprestado. O gráfico abaixo fornece uma dimensão disso. Ele mostra o saldo do crédito concedido pelo Sistema Financeiro Nacional (SFN) como proporção do PIB. Esse número saltou de 35% em 2008 para quase 54% no fim de 2015.

saldo credito SFN

Com a crise brutal que tivemos desde 2015, bancos reduziram empréstimos e pessoas e empresas começaram a saldar dívidas. O volume de crédito (como proporção do PIB) recua bastante, mas permanece bem mais alto que há 10 anos. É seguro afirmar que o Brasil passou por um processo forte de aprofundamento financeiro nesse período. Note que o crédito a pessoas físicas cresceu na mesma toada até 2015 e, ao contrário do crédito total, não teve forte redução recentemente.

O relacionamento mais próximo do brasileiro com bancos e afins reforça a importância da educação financeira. Entender como funciona um contrato de dívida e o que é uma taxa de juros, por exemplo, fornece uma melhor noção dos custos envolvidos ao eventual tomador. Isso permite uma comparação mais clara entre os diferentes produtos oferecidos pelo setor financeiro (como cartão de crédito, crédito pessoal, consignado etc.).

Afinal, uma dívida envolve antecipar um recurso hoje, para repagá-lo futuramente. Mas é preciso remunerar quem está emprestando o dinheiro; essa remuneração é a taxa de juros. Quanto maior o juro, maior será o desembolso necessário no futuro para saldar a dívida.

Além disso, o juro é composto, isto é, juros incidem sobre juros. Por exemplo: você toma emprestado R$ 100 a 10% ao ano, e se compromete a repagar depois de dois anos. Isso não significa que o valor de juros a ser pago é igual a 2 × 10% × R$100, ou seja, R$20.  Não. Você terá de pagar mais que isso, pois há juros sobre juros (na verdade, o valor devido é R$ 21). No exemplo, esse R$ 1 a mais do parece pouca coisa, mas faz muita diferença se a taxa de juros for mais alta. Por exemplo, uma conta não paga no cartão de crédito, em que a taxa de juros frequentemente excede os 200% ao ano, cresce como uma bola de neve ao longo do tempo.

Não estamos dizendo que as pessoas não deveriam recorrer a endividamento por causa desses custos. Muita gente quer  abrir um negócio, pagar pelos estudos, bancar uma emergência, comprar uma casa, veículo ou bem durável etc., mas não tem  dinheiro em caixa ou teria de apertar muito as despesas correntes para bancar de uma vez uma conta elevada. O endividamento permite que se façam gastos desse tipo no presente, com o pagamento sendo postergado ou espalhado ao longo do tempo.

Mas essa operação tem custos. E a educação financeira nos ajuda a ter uma ideia mais clara deles.

Isso é importante não apenas para pessoas que tomam emprestado, mas também para quem poupa: os juros são sua remuneração nesse caso, e informam os benefícios de suas ações. A educação financeira ajuda a comparar diversos tipos de investimento, que diferem em dimensões como prazo, liquidez, taxa de administração, incidência de imposto etc.

Um ponto bastante importante é o entendimento dos impactos da inflação. Considere o caso do FGTS, dinheiro dos trabalhadores do setor privado, que o governo os força a poupar e remunera a uma taxa relativamente baixa. Muita gente vê o FGTS como um grande benefício, mas até pouco tempo a remuneração ficava abaixo da inflação, isto é, o dinheiro crescia a um ritmo mais lento do que o custo de vida. Em outras palavras, esse recurso dos trabalhadores perdeu poder de compra ao longo do tempo.

Se isso fosse bem entendido, provavelmente os trabalhadores pressionariam o governo a adotar uma remuneração mais próxima à de mercado, ou pelo menos a compensar as perdas inflacionárias. Talvez esse imposto escondido não tivesse sobrevivido todo esse tempo.

O artigo acadêmico de Annamaria Lusardi e Olivia Mitchell resume os achados empíricos da literatura acadêmica sobre educação financeira. De modo geral, pessoas com noções financeiras tanto tendem a poupar mais para a aposentadoria como a guardar dinheiro para emergências e eventualidades. Indivíduos com menos habilidades nessa dimensão tendem a tomar empréstimos mais caros e a dar calote em suas obrigações financeiras com mais frequência.

Claro, esse pode ser um efeito da educação em geral. Pessoas mais escolarizadas têm mais familiaridade com cálculos, o que facilita entendimentos de contratos de dívida, por exemplo. A literatura, entretanto, mostra que a educação financeira tem efeitos relevantes por si só, isto é, mesmo quando se  leva em conta a escolaridade em geral.

No caso do Brasil, a educação financeira ainda pode ajudar na tão necessária queda nas taxas de juros para o tomador final. Com esse conhecimento, consumidores têm mais condições de comparar diferentes contratos de dívida e de recusar aqueles que são muito custosos. Assim, instituições financeiras terão mais dificuldade em fixar preços elevados. Além disso, menos frequentemente indivíduos contrairiam dívidas que não conseguem pagar, reduzindo a inadimplência e os juros para todo mundo.

 

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Por que a educação financeira importa?

Nos últimos anos houve mudanças importantes na forma como o brasileiro se relaciona com o setor financeiro. Muita gente passou a ter conta bancária, investir e tomar emprestado. O gráfico abaixo fornece uma dimensão disso. Ele mostra o saldo do crédito concedido pelo Sistema Financeiro Nacional (SFN) como proporção do PIB. Esse número saltou de 35% em 2008 para quase 54% no fim de 2015. saldo credito SFN Com a crise brutal que tivemos desde 2015, bancos reduziram empréstimos e pessoas e empresas começaram a saldar dívidas. O volume de crédito (como proporção do PIB) recua bastante, mas permanece bem mais alto que há 10 anos. É seguro afirmar que o Brasil passou por um processo forte de aprofundamento financeiro nesse período. Note que o crédito a pessoas físicas cresceu na mesma toada até 2015 e, ao contrário do crédito total, não teve forte redução recentemente. O relacionamento mais próximo do brasileiro com bancos e afins reforça a importância da educação financeira. Entender como funciona um contrato de dívida e o que é uma taxa de juros, por exemplo, fornece uma melhor noção dos custos envolvidos ao eventual tomador. Isso permite uma comparação mais clara entre os diferentes produtos oferecidos pelo setor financeiro (como cartão de crédito, crédito pessoal, consignado etc.). Afinal, uma dívida envolve antecipar um recurso hoje, para repagá-lo futuramente. Mas é preciso remunerar quem está emprestando o dinheiro; essa remuneração é a taxa de juros. Quanto maior o juro, maior será o desembolso necessário no futuro para saldar a dívida. Além disso, o juro é composto, isto é, juros incidem sobre juros. Por exemplo: você toma emprestado R$ 100 a 10% ao ano, e se compromete a repagar depois de dois anos. Isso não significa que o valor de juros a ser pago é igual a 2 × 10% × R$100, ou seja, R$20.  Não. Você terá de pagar mais que isso, pois há juros sobre juros (na verdade, o valor devido é R$ 21). No exemplo, esse R$ 1 a mais do parece pouca coisa, mas faz muita diferença se a taxa de juros for mais alta. Por exemplo, uma conta não paga no cartão de crédito, em que a taxa de juros frequentemente excede os 200% ao ano, cresce como uma bola de neve ao longo do tempo. Não estamos dizendo que as pessoas não deveriam recorrer a endividamento por causa desses custos. Muita gente quer  abrir um negócio, pagar pelos estudos, bancar uma emergência, comprar uma casa, veículo ou bem durável etc., mas não tem  dinheiro em caixa ou teria de apertar muito as despesas correntes para bancar de uma vez uma conta elevada. O endividamento permite que se façam gastos desse tipo no presente, com o pagamento sendo postergado ou espalhado ao longo do tempo. Mas essa operação tem custos. E a educação financeira nos ajuda a ter uma ideia mais clara deles. Isso é importante não apenas para pessoas que tomam emprestado, mas também para quem poupa: os juros são sua remuneração nesse caso, e informam os benefícios de suas ações. A educação financeira ajuda a comparar diversos tipos de investimento, que diferem em dimensões como prazo, liquidez, taxa de administração, incidência de imposto etc. Um ponto bastante importante é o entendimento dos impactos da inflação. Considere o caso do FGTS, dinheiro dos trabalhadores do setor privado, que o governo os força a poupar e remunera a uma taxa relativamente baixa. Muita gente vê o FGTS como um grande benefício, mas até pouco tempo a remuneração ficava abaixo da inflação, isto é, o dinheiro crescia a um ritmo mais lento do que o custo de vida. Em outras palavras, esse recurso dos trabalhadores perdeu poder de compra ao longo do tempo. Se isso fosse bem entendido, provavelmente os trabalhadores pressionariam o governo a adotar uma remuneração mais próxima à de mercado, ou pelo menos a compensar as perdas inflacionárias. Talvez esse imposto escondido não tivesse sobrevivido todo esse tempo. O artigo acadêmico de Annamaria Lusardi e Olivia Mitchell resume os achados empíricos da literatura acadêmica sobre educação financeira. De modo geral, pessoas com noções financeiras tanto tendem a poupar mais para a aposentadoria como a guardar dinheiro para emergências e eventualidades. Indivíduos com menos habilidades nessa dimensão tendem a tomar empréstimos mais caros e a dar calote em suas obrigações financeiras com mais frequência. Claro, esse pode ser um efeito da educação em geral. Pessoas mais escolarizadas têm mais familiaridade com cálculos, o que facilita entendimentos de contratos de dívida, por exemplo. A literatura, entretanto, mostra que a educação financeira tem efeitos relevantes por si só, isto é, mesmo quando se  leva em conta a escolaridade em geral. No caso do Brasil, a educação financeira ainda pode ajudar na tão necessária queda nas taxas de juros para o tomador final. Com esse conhecimento, consumidores têm mais condições de comparar diferentes contratos de dívida e de recusar aqueles que são muito custosos. Assim, instituições financeiras terão mais dificuldade em fixar preços elevados. Além disso, menos frequentemente indivíduos contrairiam dívidas que não conseguem pagar, reduzindo a inadimplência e os juros para todo mundo.   Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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