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No primeiro episódio da série, explicamos a lógica por trás do surgimento da cidade inicial: custo de proteção que cresce com perímetro, e ganho de proteção que cresce com área. Como o perímetro é linear nas dimensões e a área é quadrática, a cidade se constituiu mecanismo eficiente de proteção da coletividade. Mas, claro, essa era a cidade primeva, fechada, de muros altos e sentinelas. O que dizer sobre a cidade moderna?

Quem vai a Monte Sião, em Minas Gerais, fica absolutamente pasmado com a sequência de lojas vendendo malhas similares, uma colocadinha ali ao lado da outra. Pode parecer, num primeiro olhar, uma tremenda tolice essa coisa de ficar bem pertinho de uma quantidade assustadora de concorrentes. Mas, como veremos aqui, quem está no negócio de vender malhas há vários anos muito bobo não pode ser.

Se você, dono de uma empresa, precisa para uma determinada vaga de um funcionário portador das habilidades XYZ e que não se destaque nos defeitos ABCD, é melhor não estar num lugar impossível encontrar alguém com esse perfil. Num vilarejo vai ser dureza de achar. Pode até ter um XY sem os defeitos CD, mas não exatamente o que você procura...

O mesmo vale na outra ponta, a do trabalhador: melhor morar em algum lugar onde consiga chegar a diversos empregadores diferentes em busca do conjunto de habilidades que você tem para ofertar do que ter de pegar um avião ou percorrer quilômetros para se apresentar para um cargo. É uma senda de mão dupla; ter um conjunto amplo e diversificado de trabalhadores próximos a sua empresa é bom para a empresa na hora de recrutar; ao mesmo tempo, ter muitas empresas disponíveis e empregando por perto é bom para o trabalhador, pois torna mais provável que ao menos uma delas esteja procurando alguém exatamente como você, ou muito parecido. Ou seja, a solução ideal para tornar o mercado de trabalho mais fluido é juntar todo mundo num espaço geográfico delimitado. Se quiser, pode chamar esse lugar de cidade.

Em aglomerados menores essa fluidez e capacidade de alocar o cara certo para a vaga certa e vice-versa se esfumaça: em geral, o empregador não consegue achar alguém com as habilidades de que precisa e, portanto, vai ter de operar com menos produtividade (o famoso caçar com o gato na falta do cão). Ao mesmo tempo, o trabalhador não vai achar a vaga onde ele mais renderia, onde poderia aplicar tudo que aprendeu no curso que fez sobre o fascinante tema QYOQ! Vai trabalhar na vaga que tiver, pois a conta no fim do mês sempre chega. Esse casamento mal-ajambrado é decepcionante para a pessoa e ineficiente para a economia. Pas bon.

E há outras dimensões da dita interação social para as quais a ideia dos mercados polpudos segue relevante. Um exemplo é a busca pela sua alma gêmea no mercado de namoros/casamentos. Onde há mais gente, há mais diversidade, e muito possivelmente não somente um exemplar de cada modelo! Portanto, é bem mais provável encontrar aquele que completa mais perfeitamente) num grande centro. Enfim, para tudo que demanda uma tecnologia de matching, como gostam de dizer os economistas, mercados polpudos são eficientes para caramba. O que nos leva de novo à nostálgica ida a Monte Sião, lá nos idos de 1980.

Claro que estar perto de um monte de concorrentes tem seus problemas. O cara entra na sua loja, sai, volta, vai embora de novo e termina comprando na do vizinho! Mas aplique a lógica dos mercados polpudos agora para ver tudo sobre o ângulo oposto: para os consumidores é ótimo ir a um lugar onde há várias opções de cor, modelo, preço, etc, uma ali pertinho da outra. Convenhamos, em Monte Sião são escassas as chances de você não encontrar a sua malha desejada num tour de 30 minutos. Consequentemente, para as pessoas interessadas em malhas  vale a pena visitar aquelas ruas abarrotadas. Fossem só duas ou três lojinhas, a probabilidade de não encontrar a roupa desejada e voltar frustrado seria maior, e, por conseguinte, menos gente faria a viagem. Com menos clientes visitando, claro, pior a vida de todos os lojistas. Por isso a aglomeração, mesmo a de concorrentes, faz sentido – mas, claro, eu não podia saber disso com 11 anos.

Leia mais sobre cidades na plataforma Arq.Futuro

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Aglomeração das grandes cidades traz vantagens econômicas?

No primeiro episódio da série, explicamos a lógica por trás do surgimento da cidade inicial: custo de proteção que cresce com perímetro, e ganho de proteção que cresce com área. Como o perímetro é linear nas dimensões e a área é quadrática, a cidade se constituiu mecanismo eficiente de proteção da coletividade. Mas, claro, essa era a cidade primeva, fechada, de muros altos e sentinelas. O que dizer sobre a cidade moderna? Quem vai a Monte Sião, em Minas Gerais, fica absolutamente pasmado com a sequência de lojas vendendo malhas similares, uma colocadinha ali ao lado da outra. Pode parecer, num primeiro olhar, uma tremenda tolice essa coisa de ficar bem pertinho de uma quantidade assustadora de concorrentes. Mas, como veremos aqui, quem está no negócio de vender malhas há vários anos muito bobo não pode ser. Se você, dono de uma empresa, precisa para uma determinada vaga de um funcionário portador das habilidades XYZ e que não se destaque nos defeitos ABCD, é melhor não estar num lugar impossível encontrar alguém com esse perfil. Num vilarejo vai ser dureza de achar. Pode até ter um XY sem os defeitos CD, mas não exatamente o que você procura... O mesmo vale na outra ponta, a do trabalhador: melhor morar em algum lugar onde consiga chegar a diversos empregadores diferentes em busca do conjunto de habilidades que você tem para ofertar do que ter de pegar um avião ou percorrer quilômetros para se apresentar para um cargo. É uma senda de mão dupla; ter um conjunto amplo e diversificado de trabalhadores próximos a sua empresa é bom para a empresa na hora de recrutar; ao mesmo tempo, ter muitas empresas disponíveis e empregando por perto é bom para o trabalhador, pois torna mais provável que ao menos uma delas esteja procurando alguém exatamente como você, ou muito parecido. Ou seja, a solução ideal para tornar o mercado de trabalho mais fluido é juntar todo mundo num espaço geográfico delimitado. Se quiser, pode chamar esse lugar de cidade. Em aglomerados menores essa fluidez e capacidade de alocar o cara certo para a vaga certa e vice-versa se esfumaça: em geral, o empregador não consegue achar alguém com as habilidades de que precisa e, portanto, vai ter de operar com menos produtividade (o famoso caçar com o gato na falta do cão). Ao mesmo tempo, o trabalhador não vai achar a vaga onde ele mais renderia, onde poderia aplicar tudo que aprendeu no curso que fez sobre o fascinante tema QYOQ! Vai trabalhar na vaga que tiver, pois a conta no fim do mês sempre chega. Esse casamento mal-ajambrado é decepcionante para a pessoa e ineficiente para a economia. Pas bon. E há outras dimensões da dita interação social para as quais a ideia dos mercados polpudos segue relevante. Um exemplo é a busca pela sua alma gêmea no mercado de namoros/casamentos. Onde há mais gente, há mais diversidade, e muito possivelmente não somente um exemplar de cada modelo! Portanto, é bem mais provável encontrar aquele que completa mais perfeitamente) num grande centro. Enfim, para tudo que demanda uma tecnologia de matching, como gostam de dizer os economistas, mercados polpudos são eficientes para caramba. O que nos leva de novo à nostálgica ida a Monte Sião, lá nos idos de 1980. Claro que estar perto de um monte de concorrentes tem seus problemas. O cara entra na sua loja, sai, volta, vai embora de novo e termina comprando na do vizinho! Mas aplique a lógica dos mercados polpudos agora para ver tudo sobre o ângulo oposto: para os consumidores é ótimo ir a um lugar onde há várias opções de cor, modelo, preço, etc, uma ali pertinho da outra. Convenhamos, em Monte Sião são escassas as chances de você não encontrar a sua malha desejada num tour de 30 minutos. Consequentemente, para as pessoas interessadas em malhas  vale a pena visitar aquelas ruas abarrotadas. Fossem só duas ou três lojinhas, a probabilidade de não encontrar a roupa desejada e voltar frustrado seria maior, e, por conseguinte, menos gente faria a viagem. Com menos clientes visitando, claro, pior a vida de todos os lojistas. Por isso a aglomeração, mesmo a de concorrentes, faz sentido – mas, claro, eu não podia saber disso com 11 anos. Leia mais sobre cidades na plataforma Arq.Futuro Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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