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juízes time do coração perde 

Tradicionalmente, em economia, tomamos como premissa que os agentes fazem escolhas racionais. Ou seja, estamos falando de agentes (indivíduos, firmas ou o governo) que agem de acordo com suas preferências, e tomam decisões com o melhor uso de informação que têm no momento.

Essa hipótese é bastante útil. Permite explicar muito do comportamento individual. Por exemplo, uma queda nas temperaturas provoca um aumento na procura de casacos, fazendo com que os preços subam. Os vendedores de casacos racionalmente reagem a isso ofertando mais desse item (trazendo de outras regiões em que não está tão frio, ou produzindo mais), justamente quando se necessita dele.

Outro exemplo: o aumento do policiamento em uma dada região tende a reduzir a incidência de crimes ali. Frente a uma maior chance de serem pegos, bandidos racionalmente deixam de cometer crimes naquela vizinhança.

Entretanto, a racionalidade não explica tudo. Nossas decisões muitas vezes são afetadas pela emoção. E isso pode impactar outros indivíduos. Nas últimas décadas, uma nova área na economia se dedica a entender situações que não se encaixam na definição de racionalidade. A Economia Comportamental propõe que os agentes, em determinadas situações, tomam decisões com base em seus hábitos, experiências, fatores sociais, culturais e emocionais.

Os pesquisadores Ozkan Eren e Naci Mocan encontraram evidências empíricas de que a emoção impacta a decisão de juízes em tribunais. Os autores analisaram decisões de magistrados em cortes juvenis (que julgam crimes de menores de idade por lá) no estado de Louisiana, nos Estados Unidos, no período de 1996 a 2012.

O choque emocional vem do futebol americano.  A pergunta é: a decisão dos juízes muda quando seu time de coração inesperadamente perde uma partida? De cabeça quente pela derrota, o juiz acaba descontando no menor, e dando-lhe uma punição mais dura?

A resposta é sim.

Frente a resultados negativos inesperados do time da Universidade Estadual de Louisiana (LSU), os juízes daquele estado tendem a aumentar, em média, em 1 mês as penas de jovens infratores de 10 a 17 anos* (durante a semana útil posterior à partida). E esses resultados pioram dependendo de características dos juízes, dos jovens ou das partidas.

Quando os juízes são graduados na LSU, o choque emocional causado pela derrota inesperada é mais punitivo ainda para os jovens. A adição de pena também aumenta quando os réus são negros, e quando as derrotas são contra times rivais ou em jogos decisivos.

Os resultados, entretanto, somente nos dizem que as penas são mais duras após uma derrota inesperada da LSU. Mas não sabemos se o efeito psicológico recai sobre os próprios juízes, ou sobre outros agentes atuantes no tribunal. Por exemplo, o choque emocional pode tornar promotores mais agressivos, ou induzir que advogados de defesa façam menos esforço, ou ainda mexer com o comportamento dos réus. Só sabemos o resultado final, mas não o mecanismo exato por trás do efeito estimado.

Para acessar o artigo completo de Eren e Mocan, clique aqui.

* Casos mais sérios, como estupro ou homicídio, não foram contabilizados.

 

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Juízes punem mais quando o time do coração perde?

juízes time do coração perde Tradicionalmente, em economia, tomamos como premissa que os agentes fazem escolhas racionais. Ou seja, estamos falando de agentes (indivíduos, firmas ou o governo) que agem de acordo com suas preferências, e tomam decisões com o melhor uso de informação que têm no momento. Essa hipótese é bastante útil. Permite explicar muito do comportamento individual. Por exemplo, uma queda nas temperaturas provoca um aumento na procura de casacos, fazendo com que os preços subam. Os vendedores de casacos racionalmente reagem a isso ofertando mais desse item (trazendo de outras regiões em que não está tão frio, ou produzindo mais), justamente quando se necessita dele. Outro exemplo: o aumento do policiamento em uma dada região tende a reduzir a incidência de crimes ali. Frente a uma maior chance de serem pegos, bandidos racionalmente deixam de cometer crimes naquela vizinhança. Entretanto, a racionalidade não explica tudo. Nossas decisões muitas vezes são afetadas pela emoção. E isso pode impactar outros indivíduos. Nas últimas décadas, uma nova área na economia se dedica a entender situações que não se encaixam na definição de racionalidade. A Economia Comportamental propõe que os agentes, em determinadas situações, tomam decisões com base em seus hábitos, experiências, fatores sociais, culturais e emocionais. Os pesquisadores Ozkan Eren e Naci Mocan encontraram evidências empíricas de que a emoção impacta a decisão de juízes em tribunais. Os autores analisaram decisões de magistrados em cortes juvenis (que julgam crimes de menores de idade por lá) no estado de Louisiana, nos Estados Unidos, no período de 1996 a 2012. O choque emocional vem do futebol americano.  A pergunta é: a decisão dos juízes muda quando seu time de coração inesperadamente perde uma partida? De cabeça quente pela derrota, o juiz acaba descontando no menor, e dando-lhe uma punição mais dura? A resposta é sim. Frente a resultados negativos inesperados do time da Universidade Estadual de Louisiana (LSU), os juízes daquele estado tendem a aumentar, em média, em 1 mês as penas de jovens infratores de 10 a 17 anos* (durante a semana útil posterior à partida). E esses resultados pioram dependendo de características dos juízes, dos jovens ou das partidas. Quando os juízes são graduados na LSU, o choque emocional causado pela derrota inesperada é mais punitivo ainda para os jovens. A adição de pena também aumenta quando os réus são negros, e quando as derrotas são contra times rivais ou em jogos decisivos. Os resultados, entretanto, somente nos dizem que as penas são mais duras após uma derrota inesperada da LSU. Mas não sabemos se o efeito psicológico recai sobre os próprios juízes, ou sobre outros agentes atuantes no tribunal. Por exemplo, o choque emocional pode tornar promotores mais agressivos, ou induzir que advogados de defesa façam menos esforço, ou ainda mexer com o comportamento dos réus. Só sabemos o resultado final, mas não o mecanismo exato por trás do efeito estimado. Para acessar o artigo completo de Eren e Mocan, clique aqui. * Casos mais sérios, como estupro ou homicídio, não foram contabilizados.   Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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