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Combater a corrupção ajuda no crescimento econômico de longo prazo, mas pode trazer percalços para a economia no curto prazo —argumentam alguns analistas. Faz sentido. Empresas chamuscadas param de investir, por temerem envolvimento em leilões de concessão. Mais ainda: no olho do furacão da Lava Jato, ninguém sabe que revelações podem ainda aparecer, o que torna a atmosfera macro absolutamente tóxica, incerta ao extremo. Como se sabe, o investimento não curte uma incerteza...

Mas o problema com a tese de que a Operação Lava Jato é fator importante na explicação da recessão brasileira recente é o seguinte: logo antes das investigações, a política econômica era de péssima qualidade. Política fiscal, monetária, microeconômica, tudo fora dos trilhos. Tanto é que a confiança do empresário vinha caindo havia um bom tempo. Como saber se a recessão de 2015 e 2016 não é muito mais reflexo disso do que da paralisia gerada pela Lava Jato?

É difícil separar as coisas, mas ajuda olhar para outros episódios semelhantes para fazer a comparação.

Como assim "outros episódios"? No Brasil, essa é a primeira Lava Jato, é verdade. Mas uma operação quase idêntica —igualmente devastadora, com políticos e grandes empresários processados, e centenas de pessoas presas— já aconteceu em outras paragens. Mais precisamente na Itália, em fevereiro de 1992. O nome era diferente: Mani Pulite, "mãos limpas" em italiano.

Pois bem. Podemos olhar para as consequências econômicas de curto prazo dessa megaoperação em busca de uma espécie de estimativa para os efeitos gerados por tamanha incerteza política. Veja só:

 

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Não basta olhar para os dados da Itália apenas. Outros fatores globais podem estar agindo simultaneamente sobre a economia. Por isso, como base de comparação, usamos a França, um "similar" bastante próximo em diversas dimensões. Por que a França é nossa base de comparação? Lá não rolou nenhuma "Mains Nettoyées" no mesmo período de tempo.

O gráfico, talvez surpreendentemente, não mostra nenhum sinal de que as vultosas operações anticorrupção afetaram o PIB italiano. Ele segue de perto a trajetória francesa no período relevante (ambos em base 100 no primeiro trimestre de 1991).

Algumas empresas brasileiras importantes, com destaque para a estatal Petrobras e a privada Odebrecht, estão mais do que enroladas no esquema de propinas desbaratado pela Lava Jato. É razoável imaginar que a ruína dessas companhias jogue contra a atividade econômica nacional. Mas, sem dúvidas, a Lava Jato precisa seguir adiante. Se a operação for capaz de romper com a relação nada republicana entre as esferas pública e privada das últimas décadas, ganha o Brasil. Mais transparência e melhor uso do dinheiro público colaboram com o crescimento econômico, e não o contrário.

A Lava Jato é a mãe da crise?

Combater a corrupção ajuda no crescimento econômico de longo prazo, mas pode trazer percalços para a economia no curto prazo —argumentam alguns analistas. Faz sentido. Empresas chamuscadas param de investir, por temerem envolvimento em leilões de concessão. Mais ainda: no olho do furacão da Lava Jato, ninguém sabe que revelações podem ainda aparecer, o que torna a atmosfera macro absolutamente tóxica, incerta ao extremo. Como se sabe, o investimento não curte uma incerteza... Mas o problema com a tese de que a Operação Lava Jato é fator importante na explicação da recessão brasileira recente é o seguinte: logo antes das investigações, a política econômica era de péssima qualidade. Política fiscal, monetária, microeconômica, tudo fora dos trilhos. Tanto é que a confiança do empresário vinha caindo havia um bom tempo. Como saber se a recessão de 2015 e 2016 não é muito mais reflexo disso do que da paralisia gerada pela Lava Jato? É difícil separar as coisas, mas ajuda olhar para outros episódios semelhantes para fazer a comparação. Como assim "outros episódios"? No Brasil, essa é a primeira Lava Jato, é verdade. Mas uma operação quase idêntica —igualmente devastadora, com políticos e grandes empresários processados, e centenas de pessoas presas— já aconteceu em outras paragens. Mais precisamente na Itália, em fevereiro de 1992. O nome era diferente: Mani Pulite, "mãos limpas" em italiano. Pois bem. Podemos olhar para as consequências econômicas de curto prazo dessa megaoperação em busca de uma espécie de estimativa para os efeitos gerados por tamanha incerteza política. Veja só:   maos limpas lava jato opib Não basta olhar para os dados da Itália apenas. Outros fatores globais podem estar agindo simultaneamente sobre a economia. Por isso, como base de comparação, usamos a França, um "similar" bastante próximo em diversas dimensões. Por que a França é nossa base de comparação? Lá não rolou nenhuma "Mains Nettoyées" no mesmo período de tempo. O gráfico, talvez surpreendentemente, não mostra nenhum sinal de que as vultosas operações anticorrupção afetaram o PIB italiano. Ele segue de perto a trajetória francesa no período relevante (ambos em base 100 no primeiro trimestre de 1991). Algumas empresas brasileiras importantes, com destaque para a estatal Petrobras e a privada Odebrecht, estão mais do que enroladas no esquema de propinas desbaratado pela Lava Jato. É razoável imaginar que a ruína dessas companhias jogue contra a atividade econômica nacional. Mas, sem dúvidas, a Lava Jato precisa seguir adiante. Se a operação for capaz de romper com a relação nada republicana entre as esferas pública e privada das últimas décadas, ganha o Brasil. Mais transparência e melhor uso do dinheiro público colaboram com o crescimento econômico, e não o contrário.
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