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A economia estuda como as pessoas fazem suas escolhas e, em particular, como elas são moldadas por incentivos e restrições. Quase sempre nossas escolhas envolvem incerteza. A mera decisão de atravessar a rua, por exemplo, está associada ao risco de atropelamento. Se determinado cruzamento mostra-se muito perigoso, os pedestres buscarão alternativas para chegar ao outro lado.

Pensemos em um exemplo hipotético: surge uma nova tecnologia para fazer saltos de paraquedas, que é mais segura que a anterior. Muita gente sonha em saltar de paraquedas, mas tem medo. Com essa tecnologia, mais pessoas se sentem seguras para entrar nessa atividade.

Mas, como o risco não é nulo, não é óbvio se teremos mais ou menos mortes. Por um lado, cada salto envolve menos risco, o que contribui para diminuir fatalidades. Mas há mais saltos agora, o que faz com que o número de mortes aumente.

Imagine agora que tudo não passava de uma mentira: a tecnologia não apresenta mais segurança do que alternativas disponíveis no mercado. Tratava-se de mais uma daquelas correntes de WhatsApp, que dessa vez circulou em grupos de amantes do paraquedismo. O problema é que muita gente foi enganada, e passou a tomar mais risco acreditando que a segurança aumentou.

O resultado é que morrem mais pessoas. Não porque a atividade ficou mais perigosa, mas pelo fato de mais gente engajar-se nela.

Podemos usar essa analogia para falar do tratamento precoce no combate à covid-19. Atitudes seguras como usar máscara, lavar as mãos com frequência e manter isolamento social trazem um custo individual nada trivial. Se a pessoa acredita que há um alternativa milagrosa caso contraia a doença, porque pagaria todo esse custo?

Com isso ela passa a tomar mais risco. Só que não há evidência de que o tratamento precoce funcione. É como o novo paraquedas que não apresenta mais segurança do que os demais.

E, no caso da covid-19 há um agravante, que não se aplica ao exemplo do paraquedas: a tal da externalidade negativa. Ao tomar atitudes mais arriscadas, a pessoa também eleva o risco de contaminação dos demais.

Diversas autoridades vêm insistindo no tratamento precoce – em especial, o presidente Bolsonaro. São políticos influentes, capazes de influenciar as decisões de boa parte da população. O problema é que frequentemente muitas dessas autoridades também desincentivam ações como o uso de máscara e a manutenção do distanciamento social. Haja vista as diversas ocasiões em que o presidente provoca aglomerações e interage com seus apoiadores sem máscara.

A mensagem para a população é clara: (i) você não precisa se preocupar com a covid-19 porque há tratamentos milagrosos e (ii) não precisa tomar atitudes realmente seguras (para você e para a comunidade).

Assim, incentiva-se o comportamento pouco seguro, sem prover uma alternativa de tratamento eficaz. O resultado é desastroso.

COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE SÃO PAULO

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A alternativa milagrosa do tratamento precoce faz pessoas não pagarem custo da prevenção

A economia estuda como as pessoas fazem suas escolhas e, em particular, como elas são moldadas por incentivos e restrições. Quase sempre nossas escolhas envolvem incerteza. A mera decisão de atravessar a rua, por exemplo, está associada ao risco de atropelamento. Se determinado cruzamento mostra-se muito perigoso, os pedestres buscarão alternativas para chegar ao outro lado.

Pensemos em um exemplo hipotético: surge uma nova tecnologia para fazer saltos de paraquedas, que é mais segura que a anterior. Muita gente sonha em saltar de paraquedas, mas tem medo. Com essa tecnologia, mais pessoas se sentem seguras para entrar nessa atividade.

Mas, como o risco não é nulo, não é óbvio se teremos mais ou menos mortes. Por um lado, cada salto envolve menos risco, o que contribui para diminuir fatalidades. Mas há mais saltos agora, o que faz com que o número de mortes aumente.

Imagine agora que tudo não passava de uma mentira: a tecnologia não apresenta mais segurança do que alternativas disponíveis no mercado. Tratava-se de mais uma daquelas correntes de WhatsApp, que dessa vez circulou em grupos de amantes do paraquedismo. O problema é que muita gente foi enganada, e passou a tomar mais risco acreditando que a segurança aumentou.

O resultado é que morrem mais pessoas. Não porque a atividade ficou mais perigosa, mas pelo fato de mais gente engajar-se nela.

Podemos usar essa analogia para falar do tratamento precoce no combate à covid-19. Atitudes seguras como usar máscara, lavar as mãos com frequência e manter isolamento social trazem um custo individual nada trivial. Se a pessoa acredita que há um alternativa milagrosa caso contraia a doença, porque pagaria todo esse custo?

Com isso ela passa a tomar mais risco. Só que não há evidência de que o tratamento precoce funcione. É como o novo paraquedas que não apresenta mais segurança do que os demais.

E, no caso da covid-19 há um agravante, que não se aplica ao exemplo do paraquedas: a tal da externalidade negativa. Ao tomar atitudes mais arriscadas, a pessoa também eleva o risco de contaminação dos demais.

Diversas autoridades vêm insistindo no tratamento precoce – em especial, o presidente Bolsonaro. São políticos influentes, capazes de influenciar as decisões de boa parte da população. O problema é que frequentemente muitas dessas autoridades também desincentivam ações como o uso de máscara e a manutenção do distanciamento social. Haja vista as diversas ocasiões em que o presidente provoca aglomerações e interage com seus apoiadores sem máscara.

A mensagem para a população é clara: (i) você não precisa se preocupar com a covid-19 porque há tratamentos milagrosos e (ii) não precisa tomar atitudes realmente seguras (para você e para a comunidade).

Assim, incentiva-se o comportamento pouco seguro, sem prover uma alternativa de tratamento eficaz. O resultado é desastroso.

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