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É bem comum encontrarmos discussões sobre os impactos das medidas restritivas com base em comparações entre países. Para ter uma ideia, dê uma olhada no perfil no Twitter do deputado e ex-ministro Osmar Terra. Em geral, a discussão começa desse jeito: vemos que determinado país X implementou quarentena dura, enquanto o país Y não. E, mesmo assim, notamos que Y tem menos mortes que X por Covid-19. Por isso, as medidas de restrição não funcionam. Certo? Não.

Para uma análise empírica séria, o ideal seria que tivéssemos uma situação em que a política foi distribuída de maneira aleatória. Dois países, X e Y, teriam adotado medidas diferentes apenas por um lance de sorte. Daí poderíamos comparar a evolução do número de mortes (ou casos) por Covid-19 em ambos, o que nos daria uma boa ideia dos impactos das medidas restritivas.

Mas, em geral, políticas públicas não acontecem por um lance de sorte. Países as escolhem, e os motivos para essa escolha podem estar relacionados à própria evolução da doença. No linguajar do economista, as medidas são endógenas. Isso bagunça tudo, e não nos permite fazer afirmações sobre a efetividade da política apenas pelo resultado observado em países distintos.

Pode ser que, dadas as condições do país X, a doença se espalhará rapidamente. Assim, políticos e gestores acreditam que quarentenas duras são necessárias. Já no país Y, as condições são menos favoráveis para a doença, de modo que restrições não são tão necessárias. Essas condições podem envolver o grau de integração do país com estrangeiros (que poderiam trazer a doença), medidas de urbanização (que nos indicam quão próximas as pessoas se encontram), a capacidade e eficiência do sistema de saúde, além da própria capacidade que o governo tem de induzir as pessoas a tomar medidas básicas para evitar a difusão da doença.

No fim das contas, só olhando para os dados dos países, não dá para saber se o efeito veio das medidas de contenção, ou de todos esses outros possíveis fatores que condicionam sua implementação.  

Um exemplo ajuda a ilustrar: você observa que morrem mais pessoas dentro de hospitais do que fora. Você poderia então concluir que ir a um hospital aumenta suas chances de morte?

Óbvio que não. Ninguém joga uma moeda para cima e, com base nisso, dirige-se a um hospital. As pessoas tomam essa decisão com base em suas condições de saúde. Para começo de conversa, quem vai a um hospital provavelmente já está em piores condições do que outras pessoas.

Em países que estão tomando uma decisão de política pública, a situação é análoga. Quem implementa medidas duras de contenção provavelmente já apresenta condições mais propícias para a difusão do coronavírus. 


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A quarentena é endógena!

É bem comum encontrarmos discussões sobre os impactos das medidas restritivas com base em comparações entre países. Para ter uma ideia, dê uma olhada no perfil no Twitter do deputado e ex-ministro Osmar Terra. Em geral, a discussão começa desse jeito: vemos que determinado país X implementou quarentena dura, enquanto o país Y não. E, mesmo assim, notamos que Y tem menos mortes que X por Covid-19. Por isso, as medidas de restrição não funcionam. Certo? Não.

Para uma análise empírica séria, o ideal seria que tivéssemos uma situação em que a política foi distribuída de maneira aleatória. Dois países, X e Y, teriam adotado medidas diferentes apenas por um lance de sorte. Daí poderíamos comparar a evolução do número de mortes (ou casos) por Covid-19 em ambos, o que nos daria uma boa ideia dos impactos das medidas restritivas.

Mas, em geral, políticas públicas não acontecem por um lance de sorte. Países as escolhem, e os motivos para essa escolha podem estar relacionados à própria evolução da doença. No linguajar do economista, as medidas são endógenas. Isso bagunça tudo, e não nos permite fazer afirmações sobre a efetividade da política apenas pelo resultado observado em países distintos.

Pode ser que, dadas as condições do país X, a doença se espalhará rapidamente. Assim, políticos e gestores acreditam que quarentenas duras são necessárias. Já no país Y, as condições são menos favoráveis para a doença, de modo que restrições não são tão necessárias. Essas condições podem envolver o grau de integração do país com estrangeiros (que poderiam trazer a doença), medidas de urbanização (que nos indicam quão próximas as pessoas se encontram), a capacidade e eficiência do sistema de saúde, além da própria capacidade que o governo tem de induzir as pessoas a tomar medidas básicas para evitar a difusão da doença.

No fim das contas, só olhando para os dados dos países, não dá para saber se o efeito veio das medidas de contenção, ou de todos esses outros possíveis fatores que condicionam sua implementação.  

Um exemplo ajuda a ilustrar: você observa que morrem mais pessoas dentro de hospitais do que fora. Você poderia então concluir que ir a um hospital aumenta suas chances de morte?

Óbvio que não. Ninguém joga uma moeda para cima e, com base nisso, dirige-se a um hospital. As pessoas tomam essa decisão com base em suas condições de saúde. Para começo de conversa, quem vai a um hospital provavelmente já está em piores condições do que outras pessoas.

Em países que estão tomando uma decisão de política pública, a situação é análoga. Quem implementa medidas duras de contenção provavelmente já apresenta condições mais propícias para a difusão do coronavírus. 


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