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Após cobrança por bagagens, preço da passagem aérea subiu ou desceu?

 

No final de abril, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) passou a permitir que companhias aéreas cobrassem por bagagens despachadas por passageiros. A ideia faz sentido. Antes, o preço da passagem incorporava tanto o transporte do passageiro, como o de suas malas. Quem não quisesse despachar pagava por um serviço que não estava usando, e acabava bancando a viagem de quem trazia as malas para o avião.

A nova regra permite adquirir os dois produtos (transporte da pessoa e da mala) separadamente. E, assim, as pessoas que não despacham malas deixariam se subsidiar as demais. O preço da passagem sem incluir a taxa da bagagem, portanto, deveria cair como consequência.

O efeito sobre o preço incluindo a taxa não é claro. A expectativa é que ele suba, pois quem despacha malas perde o subsídio mencionado acima. Mas há um possível efeito atuando no sentido contrário: a nova taxa pode desestimular as pessoas a despacharem malas, reduzindo os custos da viagem. Parte dessa economia de custos poderia ajudar a diminuir os preços das passagens.

Recentemente, informações sobre preços médios de passagens jogaram lenha nessa discussão. Por um lado, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) divulgou que esses preços caíram de 7% a 30% logo após a mudança, dependendo do trajeto.  Por outro lado, dados do IBGE e da FGV, reportados pelo Estadão, contradizem essa afirmação, revelando altas substanciais.

Afinal, o preço subiu ou caiu?

Independente de qual valor esteja certo, definitivamente NÃO podemos olhar para a mudança nos preços e atribuí-la à nova regra. Em outras palavras, somente com base nesse dado agregado, não podemos concluir NADA: nem que a nova regra aumentou, nem que diminuiu o valor das passagens. Por quê? Porque a nova regra não foi a única coisa que mudou no mundo nos últimos tempos. Há diversos outros fatores que poderiam afetar os preços das passagens: preços de combustíveis, sazonalidade da demanda, taxa de câmbio, para citar alguns. Com base nos preços médios, como saber se o movimento no preço se deveu à cobrança de bagagens, ou a um dos fatores acima listados? Não é possível afirmar nada somente olhando para o comportamento do preço médio ao longo do tempo. Para termos uma noção realista e precisa do efeito da política, precisaríamos comparar preços de empresas que cobram pela bagagem ao de empresas que não cobram. Dessa forma, fatores comuns a todo o setor (como taxa de câmbio ou preço do combustível) se cancelam na comparação. Temos, assim, uma estimativa mais “limpa” do efeito da cobrança para despachar malas. Comparando com estudos na Medicina: suponha que se queira apurar o efeito de um remédio sobre a saúde das pessoas. Para tanto precisamos de dois grupos: um “grupo de tratamento” (pessoas que receberão o remédio) e de um “grupo de controle” (pessoas que receberão um placebo, ou seja, uma pílula neutra que não contém as substâncias usadas para fabricar o medicamento). O efeito do remédio é dado pela diferença entre o grupo de tratamento e o de controle, no que toca a indicadores de saúde. Ao fazermos a comparação, eliminamos as diferenças que são comuns aos grupos, sobrando apenas o impacto da medicação. Precisaríamos de algo parecido no caso da aviação brasileira. Do lado do tratamento, companhias que passaram a cobrar pelo transporte da bagagem; no grupo de controle, empresas que não o fizeram. Mas, infelizmente não temos algo do tipo. As principais companhias adotaram o procedimento quase que simultaneamente (das quatro principais, somente a Avianca demorou alguns meses para instituir a taxa da bagagem).

O que mostra a experiência internacional?

Nos Estados Unidos, as principais empresas do setor começaram a realizar a cobrança em 2008, porém não todas ao mesmo tempo. Isso permite que se estime o impacto da cobrança, ao comparar o preço médio de passagens de empresas que adotam o procedimento, com de empresas que não têm taxa de bagagem em dado período. Artigo acadêmico Jan Brueckner e coautores faz exatamente isso. Os resultados mostram uma queda no preço médio da passagem, como resultado da adoção da taxa de bagagem. Só que esse preço cai menos do que o valor da taxa. Ou seja, passageiros que não despacham bagagens passam a pagar tíquetes mais baratos; mas aqueles que despacham se defrontam agora com viagens mais caras. Eu não diria que o artigo fornece uma resposta definitiva à questão – afinal, a decisão de cobrar pela bagagem é da companhia. Não é exatamente como nos estudos médicos, em que indivíduos que tomarão o remédio e o placebo são definidos aleatoriamente. De qualquer forma, já dá uma noção muito melhor do que olhar simplesmente para preços médios do setor.    

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Após cobrança por bagagens, preço da passagem aérea subiu ou desceu?

Após cobrança por bagagens, preço da passagem aérea subiu ou desceu?   No final de abril, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) passou a permitir que companhias aéreas cobrassem por bagagens despachadas por passageiros. A ideia faz sentido. Antes, o preço da passagem incorporava tanto o transporte do passageiro, como o de suas malas. Quem não quisesse despachar pagava por um serviço que não estava usando, e acabava bancando a viagem de quem trazia as malas para o avião. A nova regra permite adquirir os dois produtos (transporte da pessoa e da mala) separadamente. E, assim, as pessoas que não despacham malas deixariam se subsidiar as demais. O preço da passagem sem incluir a taxa da bagagem, portanto, deveria cair como consequência. O efeito sobre o preço incluindo a taxa não é claro. A expectativa é que ele suba, pois quem despacha malas perde o subsídio mencionado acima. Mas há um possível efeito atuando no sentido contrário: a nova taxa pode desestimular as pessoas a despacharem malas, reduzindo os custos da viagem. Parte dessa economia de custos poderia ajudar a diminuir os preços das passagens. Recentemente, informações sobre preços médios de passagens jogaram lenha nessa discussão. Por um lado, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) divulgou que esses preços caíram de 7% a 30% logo após a mudança, dependendo do trajeto.  Por outro lado, dados do IBGE e da FGV, reportados pelo Estadão, contradizem essa afirmação, revelando altas substanciais. Afinal, o preço subiu ou caiu? Independente de qual valor esteja certo, definitivamente NÃO podemos olhar para a mudança nos preços e atribuí-la à nova regra. Em outras palavras, somente com base nesse dado agregado, não podemos concluir NADA: nem que a nova regra aumentou, nem que diminuiu o valor das passagens. Por quê? Porque a nova regra não foi a única coisa que mudou no mundo nos últimos tempos. Há diversos outros fatores que poderiam afetar os preços das passagens: preços de combustíveis, sazonalidade da demanda, taxa de câmbio, para citar alguns. Com base nos preços médios, como saber se o movimento no preço se deveu à cobrança de bagagens, ou a um dos fatores acima listados? Não é possível afirmar nada somente olhando para o comportamento do preço médio ao longo do tempo. Para termos uma noção realista e precisa do efeito da política, precisaríamos comparar preços de empresas que cobram pela bagagem ao de empresas que não cobram. Dessa forma, fatores comuns a todo o setor (como taxa de câmbio ou preço do combustível) se cancelam na comparação. Temos, assim, uma estimativa mais “limpa” do efeito da cobrança para despachar malas. Comparando com estudos na Medicina: suponha que se queira apurar o efeito de um remédio sobre a saúde das pessoas. Para tanto precisamos de dois grupos: um “grupo de tratamento” (pessoas que receberão o remédio) e de um “grupo de controle” (pessoas que receberão um placebo, ou seja, uma pílula neutra que não contém as substâncias usadas para fabricar o medicamento). O efeito do remédio é dado pela diferença entre o grupo de tratamento e o de controle, no que toca a indicadores de saúde. Ao fazermos a comparação, eliminamos as diferenças que são comuns aos grupos, sobrando apenas o impacto da medicação. Precisaríamos de algo parecido no caso da aviação brasileira. Do lado do tratamento, companhias que passaram a cobrar pelo transporte da bagagem; no grupo de controle, empresas que não o fizeram. Mas, infelizmente não temos algo do tipo. As principais companhias adotaram o procedimento quase que simultaneamente (das quatro principais, somente a Avianca demorou alguns meses para instituir a taxa da bagagem). O que mostra a experiência internacional? Nos Estados Unidos, as principais empresas do setor começaram a realizar a cobrança em 2008, porém não todas ao mesmo tempo. Isso permite que se estime o impacto da cobrança, ao comparar o preço médio de passagens de empresas que adotam o procedimento, com de empresas que não têm taxa de bagagem em dado período. Artigo acadêmico Jan Brueckner e coautores faz exatamente isso. Os resultados mostram uma queda no preço médio da passagem, como resultado da adoção da taxa de bagagem. Só que esse preço cai menos do que o valor da taxa. Ou seja, passageiros que não despacham bagagens passam a pagar tíquetes mais baratos; mas aqueles que despacham se defrontam agora com viagens mais caras. Eu não diria que o artigo fornece uma resposta definitiva à questão – afinal, a decisão de cobrar pela bagagem é da companhia. Não é exatamente como nos estudos médicos, em que indivíduos que tomarão o remédio e o placebo são definidos aleatoriamente. De qualquer forma, já dá uma noção muito melhor do que olhar simplesmente para preços médios do setor.     Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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