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							Inteligência artificial (IA) é o nome dado ao amplo espectro de tecnologias desenhadas para que máquinas percebam, interpretem, aprendam e ajam imitando as habilidades cognitivas humanas.

A automação foi criada para um melhor cumprimento de tarefas repetitivas, elevando a produtividade. Já a IA, com seu ritmo impressionante de evolução, serve para produzir novos conteúdos: textos, imagens, novos códigos computacionais, possivelmente diagnósticos médicos, leitura de dados e assim por diante. Não por acaso se prevê uma revolução tecnológica em seu início.

Gosto do modo como Jesús Fernández-Villaverde, da Universidade de Pensilvânia, ilustra as diferenças entre automação e IA:

“Inteligência artificial não é projetar um robô que vai colocar um parafuso em um carro em uma linha de produção quando chegar a hora, mas projetar um robô que saiba interpretar que o carro chegou torto para a esquerda ou que o parafuso está quebrado, e que seja capaz de reagir sensatamente a esta situação inesperada.”

A IA trará consequências em áreas para além da economia, como segurança nacional, política e cultura. Na economia, tende a remodelar muitas funções profissionais, assim como a divisão do trabalho e a relação entre trabalho e capital físico. Enquanto o impacto da automação se deu em trabalhos repetitivos, o da IA tende a tarefas de mão de obra qualificada.

Qual deverá ser o efeito da IA na produtividade e no crescimento econômico, bem como na inclusão social e na distribuição de renda? O impacto no processo e no mercado de trabalho será um elemento-chave da resposta a essas perguntas.

Pode-se antever que, nos segmentos do processo de trabalho onde a supervisão humana da IA continuará necessária, o resultado tendencial é de aumento substancial de produtividade e da demanda por trabalho. Já em outros segmentos a IA tende a levar a deslocamentos significativos ou a simples eliminação de postos de trabalho. Como bem posto por Daron Acemoglu e Simon Johnson em artigo na edição de dezembro da revista Finanças e Desenvolvimento do FMI, “para apoiar a prosperidade compartilhada, a IA precisa complementar trabalhadores, não os substituir”.

A elevação sistemática da produtividade no agregado poderia, em princípio, reforçar o crescimento econômico e, assim, propiciar aumentos na demanda agregada, gerando oportunidades de emprego que compensariam a destruição de postos. Além disso, essa evolução poderá também levar ao surgimento de novos setores e funções profissionais, enquanto outros desaparecem, numa dinâmica que irá além da mera realocação intersetorial.

Para além dos efeitos sobre o emprego e a distribuição na renda salarial, a distribuição de renda também dependerá dos efeitos sobre o rendimento do capital. Este tenderá a crescer nas atividades que criam e se valem de tecnologias de IA ou têm participações em indústrias impulsionadas pela IA. Dependendo das implicações em termos de “poder de mercado” das firmas, haverá efeitos sobre as distribuições de renda do capital e entre capital e trabalho.

Duas semanas atrás, o FMI divulgou resultados de uma pesquisa exploratória sobre os impactos da IA no futuro do trabalho. Estima-se que 60% dos empregos nas economias avançadas serão afetados, com o percentual caindo para 40% nas economias emergentes e 26% nos países de baixa renda, por causa das diferenças em suas estruturas de emprego. O relatório calcula que metade dos empregos sob impacto será negativamente afetada, enquanto a outra metade poderá apresentar aumentos da produtividade. O menor impacto nos emergentes e em desenvolvimento tenderá a ter como contrapartida menos benefícios em termos de incremento de produtividade.

O relatório destaca como o nível de preparação de um país para a IA será relevante no que diz respeito a maximizar os benefícios e lidar com os riscos de efeitos negativos da tecnologia. Constrói um índice para mensurar o estado de preparação dos países, considerando a infraestrutura digital, integração econômica e de inovações, níveis de capital humano e políticas de mercado de trabalho, bem como regulação e ética.

Num conjunto de 30 países avaliados em detalhe, Cingapura, Estados Unidos e Alemanha aparecem nas primeiras posições, enquanto o Brasil está em 150 lugar. Aumentar o grau de preparação para a IA do país segue como uma política que deveria ser considerada prioritária.


Otaviano Canuto foi vice-presidente e diretor-executivo no Banco Mundial, diretor executivo no FMI e vice-presidente no BID. Também foi secretário de assuntos internacionais no Ministério da Fazenda e professor da USP e da Unicamp. Atualmente é membro sênior do Policy Center for the New South, membro sênior não-residente da Brookings Institution, professor na Elliott School of International Affairs da George Washington University e professor afiliado na Universidade Mohammed VI. Fez mestrado na Concordia University em Montreal e doutorado na Unicamp, ambos em economia.

COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE S.PAULO 

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Como a inteligência artificial vai afetar a economia?

Inteligência artificial (IA) é o nome dado ao amplo espectro de tecnologias desenhadas para que máquinas percebam, interpretem, aprendam e ajam imitando as habilidades cognitivas humanas.

A automação foi criada para um melhor cumprimento de tarefas repetitivas, elevando a produtividade. Já a IA, com seu ritmo impressionante de evolução, serve para produzir novos conteúdos: textos, imagens, novos códigos computacionais, possivelmente diagnósticos médicos, leitura de dados e assim por diante. Não por acaso se prevê uma revolução tecnológica em seu início.

Gosto do modo como Jesús Fernández-Villaverde, da Universidade de Pensilvânia, ilustra as diferenças entre automação e IA:

“Inteligência artificial não é projetar um robô que vai colocar um parafuso em um carro em uma linha de produção quando chegar a hora, mas projetar um robô que saiba interpretar que o carro chegou torto para a esquerda ou que o parafuso está quebrado, e que seja capaz de reagir sensatamente a esta situação inesperada.”

A IA trará consequências em áreas para além da economia, como segurança nacional, política e cultura. Na economia, tende a remodelar muitas funções profissionais, assim como a divisão do trabalho e a relação entre trabalho e capital físico. Enquanto o impacto da automação se deu em trabalhos repetitivos, o da IA tende a tarefas de mão de obra qualificada.

Qual deverá ser o efeito da IA na produtividade e no crescimento econômico, bem como na inclusão social e na distribuição de renda? O impacto no processo e no mercado de trabalho será um elemento-chave da resposta a essas perguntas.

Pode-se antever que, nos segmentos do processo de trabalho onde a supervisão humana da IA continuará necessária, o resultado tendencial é de aumento substancial de produtividade e da demanda por trabalho. Já em outros segmentos a IA tende a levar a deslocamentos significativos ou a simples eliminação de postos de trabalho. Como bem posto por Daron Acemoglu e Simon Johnson em artigo na edição de dezembro da revista Finanças e Desenvolvimento do FMI, “para apoiar a prosperidade compartilhada, a IA precisa complementar trabalhadores, não os substituir”.

A elevação sistemática da produtividade no agregado poderia, em princípio, reforçar o crescimento econômico e, assim, propiciar aumentos na demanda agregada, gerando oportunidades de emprego que compensariam a destruição de postos. Além disso, essa evolução poderá também levar ao surgimento de novos setores e funções profissionais, enquanto outros desaparecem, numa dinâmica que irá além da mera realocação intersetorial.

Para além dos efeitos sobre o emprego e a distribuição na renda salarial, a distribuição de renda também dependerá dos efeitos sobre o rendimento do capital. Este tenderá a crescer nas atividades que criam e se valem de tecnologias de IA ou têm participações em indústrias impulsionadas pela IA. Dependendo das implicações em termos de “poder de mercado” das firmas, haverá efeitos sobre as distribuições de renda do capital e entre capital e trabalho.

Duas semanas atrás, o FMI divulgou resultados de uma pesquisa exploratória sobre os impactos da IA no futuro do trabalho. Estima-se que 60% dos empregos nas economias avançadas serão afetados, com o percentual caindo para 40% nas economias emergentes e 26% nos países de baixa renda, por causa das diferenças em suas estruturas de emprego. O relatório calcula que metade dos empregos sob impacto será negativamente afetada, enquanto a outra metade poderá apresentar aumentos da produtividade. O menor impacto nos emergentes e em desenvolvimento tenderá a ter como contrapartida menos benefícios em termos de incremento de produtividade.

O relatório destaca como o nível de preparação de um país para a IA será relevante no que diz respeito a maximizar os benefícios e lidar com os riscos de efeitos negativos da tecnologia. Constrói um índice para mensurar o estado de preparação dos países, considerando a infraestrutura digital, integração econômica e de inovações, níveis de capital humano e políticas de mercado de trabalho, bem como regulação e ética.

Num conjunto de 30 países avaliados em detalhe, Cingapura, Estados Unidos e Alemanha aparecem nas primeiras posições, enquanto o Brasil está em 150 lugar. Aumentar o grau de preparação para a IA do país segue como uma política que deveria ser considerada prioritária.


Otaviano Canuto foi vice-presidente e diretor-executivo no Banco Mundial, diretor executivo no FMI e vice-presidente no BID. Também foi secretário de assuntos internacionais no Ministério da Fazenda e professor da USP e da Unicamp. Atualmente é membro sênior do Policy Center for the New South, membro sênior não-residente da Brookings Institution, professor na Elliott School of International Affairs da George Washington University e professor afiliado na Universidade Mohammed VI. Fez mestrado na Concordia University em Montreal e doutorado na Unicamp, ambos em economia.

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