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Não há, como dissemos outras vezes, fórmula mágica para fazer a economia crescer. Não é bolinho, literalmente. Porém, há ingredientes comuns aos casos de sucesso, assim como impedimentos óbvios. Dentro desse último grupo, inclui-se a falta de estabilidade macroeconômica. Países com contas públicas insustentáveis ou inflação elevada ou equilíbrio externo entortado não crescem. Não tem como. Não há exemplos. A galinha pode até levantar voo, mas logo mete o pé no terreiro de novo.

Vinte anos atrás, parecia que tínhamos entendido isso. O país progrediu nesses quesitos, digamos assim, básicos a taxas não monotônicas até meados de 2008. Depois, inicialmente devagar e logo a todo vapor, desfizemos os pilares básicos da construção. Menosprezamos o feijão com arroz como se fôssemos príncipes. A partir de 2016, a política macroeconômica voltou aos trilhos, mas desfazer legados desastrosos não é bolinho (de novo). Temos a reforma da Previdência, a disciplina do teto e uma política monetária novamente crível. Esses fatores em conjunto possibilitaram uma queda acentuada da inflação e da taxa de juros a patamares poucas vezes vistos. Podemos concluir daí que o país vai encetar uma trajetória de crescimento sustentado de uns 3 a 3,5% ao ano por pelo menos umas duas décadas?

Acreditamos que o crescimento nos próximos anos será de fato maior que esse frustrante 1% dos últimos dois. Num cenário sem maiores confusões na economia mundial, até uns 3% podemos bater em 2020. Ou isso, ou um pouco menos. Tem o estímulo monetário acumulado ajudando, tem distribuição de dinheiro do FGTS, tem a base de comparação fraquíssima.

Só que o crescimento de 2020 pouco nos importa. O que importa mesmo é o crescimento acumulado entre 2020 e 2040, e a queda da taxa básica de juros – a Selic – não faz cócegas nesse aí. Não nos entendam errado, a estabilidade é condição necessária. O problema é que não é suficiente.

Reconquistada a normalidade macro, os esforços precisam se centrar em duas coisas: melhora da governança e detalhes micro. São batalhas menos pirotécnicas, mas não menos relevantes. Na ausência de mudanças nesses fronts, o potencial de crescimento seguirá limitado. Vejamos um exemplo recente, desta semana: não conseguimos vender as áreas de exploração de petróleo nos leilões. Interesse baixíssimo. A Selic pode estar baixa, mas o regime de partilha não agrada o investidor. O pior é que tudo ia muito bem com os regimes de concessão até 2010, quando o governo, no afã de participar mais diretamente do processo de desenvolvimento econômico do país, mudou a governança para essa tal partilha: "Não podemos deixar que explorem assim nossos recursos, a Petrobras tem que participar." O povo brasileiro estava recebendo bônus de assinatura, royalties e participação especial, mas bagunçaram com a governança.

Esse é apenas um exemplo, entre vários. Coisas que a inflação sob controle, a dívida em trajetória não explosiva e o juro bem menor não resolvem.



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Condição necessária, mas não suficiente

Não há, como dissemos outras vezes, fórmula mágica para fazer a economia crescer. Não é bolinho, literalmente. Porém, há ingredientes comuns aos casos de sucesso, assim como impedimentos óbvios. Dentro desse último grupo, inclui-se a falta de estabilidade macroeconômica. Países com contas públicas insustentáveis ou inflação elevada ou equilíbrio externo entortado não crescem. Não tem como. Não há exemplos. A galinha pode até levantar voo, mas logo mete o pé no terreiro de novo.

Vinte anos atrás, parecia que tínhamos entendido isso. O país progrediu nesses quesitos, digamos assim, básicos a taxas não monotônicas até meados de 2008. Depois, inicialmente devagar e logo a todo vapor, desfizemos os pilares básicos da construção. Menosprezamos o feijão com arroz como se fôssemos príncipes. A partir de 2016, a política macroeconômica voltou aos trilhos, mas desfazer legados desastrosos não é bolinho (de novo). Temos a reforma da Previdência, a disciplina do teto e uma política monetária novamente crível. Esses fatores em conjunto possibilitaram uma queda acentuada da inflação e da taxa de juros a patamares poucas vezes vistos. Podemos concluir daí que o país vai encetar uma trajetória de crescimento sustentado de uns 3 a 3,5% ao ano por pelo menos umas duas décadas?

Acreditamos que o crescimento nos próximos anos será de fato maior que esse frustrante 1% dos últimos dois. Num cenário sem maiores confusões na economia mundial, até uns 3% podemos bater em 2020. Ou isso, ou um pouco menos. Tem o estímulo monetário acumulado ajudando, tem distribuição de dinheiro do FGTS, tem a base de comparação fraquíssima.

Só que o crescimento de 2020 pouco nos importa. O que importa mesmo é o crescimento acumulado entre 2020 e 2040, e a queda da taxa básica de juros – a Selic – não faz cócegas nesse aí. Não nos entendam errado, a estabilidade é condição necessária. O problema é que não é suficiente.

Reconquistada a normalidade macro, os esforços precisam se centrar em duas coisas: melhora da governança e detalhes micro. São batalhas menos pirotécnicas, mas não menos relevantes. Na ausência de mudanças nesses fronts, o potencial de crescimento seguirá limitado. Vejamos um exemplo recente, desta semana: não conseguimos vender as áreas de exploração de petróleo nos leilões. Interesse baixíssimo. A Selic pode estar baixa, mas o regime de partilha não agrada o investidor. O pior é que tudo ia muito bem com os regimes de concessão até 2010, quando o governo, no afã de participar mais diretamente do processo de desenvolvimento econômico do país, mudou a governança para essa tal partilha: "Não podemos deixar que explorem assim nossos recursos, a Petrobras tem que participar." O povo brasileiro estava recebendo bônus de assinatura, royalties e participação especial, mas bagunçaram com a governança.

Esse é apenas um exemplo, entre vários. Coisas que a inflação sob controle, a dívida em trajetória não explosiva e o juro bem menor não resolvem.



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