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O DNA populista na América Latina cala mais fundo do que alguns pressupõem. Às vezes parece que a lógica é a seguinte: enquanto as coisas não vão mal, ok, tolera-se um ideal mais liberal de como deve funcionar a economia. Mas quando a coisa aperta, as convicções caem por terra.

Macri assumiu o governo na Argentina com um jeitão de modernizador, um discurso anti-Kirchnerismo, mas, esta semana, adicionou seu nome a outra galeria. Os sinais já vinham sendo dados pois, frente ao tremendo desafio fiscal, optou por uma estratégia muito gradualista, que terminou em crise e um pacote do FMI. Mas até aí, é um erro que outros poderiam ter cometido. Foi a última medida do governo argentino que alçou Mauricio Macri ao pouco respeitável panteão de governantes equivocados latino-americanos: o congelamento de preços.

O objetivo é controlar a inflação (que ronda os 60% ao ano), impedindo por lei que os preços de 60 produtos básicos e tarifas de transporte e eletricidade se elevem pelos próximos seis meses. Se o prezado leitor puder citar um caso em que tal estratégia deu bons resultados, ficaríamos gratos. Mas não perca seu tempo no Google Search, você não vai encontrar um exemplo dessa natureza. No Brasil, essa estratégia foi empregada algumas vezes, sempre com fracasso retumbante - a mais conhecida delas aconteceu durante o Plano Cruzado, lançado no governo Sarney.

Com o congelamento, varre-se a sujeira para baixo do tapete, mas ela não desaparece. O congelamento gera desabastecimento, fiscais perdidos, filas enormes, mercados negros.

Para voltar ao caso argentino, suponha que um hermano produza galletitas y mermeladas – cujo preço agora está congelado - e que o preço das muitas outras coisas que ele consome e também das que usa como insumo para produzir suas guloseimas siga subindo. Qual seria a reação dele?

Uma combinação de duas coisas: diminuir a produção e tentar burlar o congelamento vendendo por debaixo dos panos. É primário: com preço fixo lá embaixo, a oferta cai. Menor oferta, pior para o consumidor, que terá algumas opções diante de si: ficar sem comer galletitas, passar horas em uma fila ou se arriscar num beco para comprar às escondidas. Todos acossados pelos fiscais do Sarney Macri. Difícil pensar em uma medida mais ineficiente.

Inflação se controla com política monetária e fiscal de qualidade. Quando ela é muito alta, o remédio amargo pode ser um período sob o regime de câmbio fixo. Congelamento, como exemplificado neste texto, nunca funcionou e nunca vai funcionar.

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Congela aí pra você ver...

O DNA populista na América Latina cala mais fundo do que alguns pressupõem. Às vezes parece que a lógica é a seguinte: enquanto as coisas não vão mal, ok, tolera-se um ideal mais liberal de como deve funcionar a economia. Mas quando a coisa aperta, as convicções caem por terra.

Macri assumiu o governo na Argentina com um jeitão de modernizador, um discurso anti-Kirchnerismo, mas, esta semana, adicionou seu nome a outra galeria. Os sinais já vinham sendo dados pois, frente ao tremendo desafio fiscal, optou por uma estratégia muito gradualista, que terminou em crise e um pacote do FMI. Mas até aí, é um erro que outros poderiam ter cometido. Foi a última medida do governo argentino que alçou Mauricio Macri ao pouco respeitável panteão de governantes equivocados latino-americanos: o congelamento de preços.

O objetivo é controlar a inflação (que ronda os 60% ao ano), impedindo por lei que os preços de 60 produtos básicos e tarifas de transporte e eletricidade se elevem pelos próximos seis meses. Se o prezado leitor puder citar um caso em que tal estratégia deu bons resultados, ficaríamos gratos. Mas não perca seu tempo no Google Search, você não vai encontrar um exemplo dessa natureza. No Brasil, essa estratégia foi empregada algumas vezes, sempre com fracasso retumbante - a mais conhecida delas aconteceu durante o Plano Cruzado, lançado no governo Sarney.

Com o congelamento, varre-se a sujeira para baixo do tapete, mas ela não desaparece. O congelamento gera desabastecimento, fiscais perdidos, filas enormes, mercados negros.

Para voltar ao caso argentino, suponha que um hermano produza galletitas y mermeladas – cujo preço agora está congelado - e que o preço das muitas outras coisas que ele consome e também das que usa como insumo para produzir suas guloseimas siga subindo. Qual seria a reação dele?

Uma combinação de duas coisas: diminuir a produção e tentar burlar o congelamento vendendo por debaixo dos panos. É primário: com preço fixo lá embaixo, a oferta cai. Menor oferta, pior para o consumidor, que terá algumas opções diante de si: ficar sem comer galletitas, passar horas em uma fila ou se arriscar num beco para comprar às escondidas. Todos acossados pelos fiscais do Sarney Macri. Difícil pensar em uma medida mais ineficiente.

Inflação se controla com política monetária e fiscal de qualidade. Quando ela é muito alta, o remédio amargo pode ser um período sob o regime de câmbio fixo. Congelamento, como exemplificado neste texto, nunca funcionou e nunca vai funcionar.

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