Uma plataforma que vai te ajudar a entender um pouco mais de economia.

Em artigo publicado na Folha de S.Paulo lá em 2005, o hoje presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, afirmava que Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil, tinha razão. A crítica fundamental da hoje ex-presidente era feita à política econômica adotada pelo então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e sua equipe de técnicos.

Essencialmente, Rabello de Castro dizia que a política econômica convencional dava frutos minguados: inflação controladamente baixa, mas crescimento fraquinho. Para crescer mais, seria preciso ousar! E, num descabido exercício retroativo, amaldiçoou o Plano Real por ter trocado inflação alta por juros altos.

E, de fato, o país ousou nos anos que se seguiram. Mais precisamente a partir de 2008 a política econômica começa a mudar de cara e vai se transmutando de “tradicional” para “ousada”. Retirando o interregno da crise para não atrapalhar nossa avaliação, qual foi o resultado de tanta ousadia?

gráfico_brasil_américa latina

Veja o gráfico. O período influenciado pelas políticas tradicionais vai de 2004 a 2007 (talvez 2008?), enquanto o intervalo sob a égide (ou resquícios da influência, essa sim nefasta) da política econômica “ousada” é 2012 a 2016. Para quem chegou atrasado no debate, o gráfico mostra que o Brasil já foi um país normal... quando não era ousado. E olha que sequer adicionamos inflação na brincadeira.

O presidente do BNDES, autointitulado um dos maiores acadêmicos do Brasil, vai além. Afirmou no mesmo artigo que a ausência de crescimento no Brasil se devia ao juro excessivamente alto. Mas, em primeiro lugar, esquece que o juro real é uma variável endógena; e, em segundo lugar, que se ele tivesse sido assim tão excessivamente alto a inflação teria que ter sido excessivamente baixa – coisa que ela nunca tinha sido ou viria a ser por estas paragens.

Para alguém que via os juros como principal inimigo do crescimento, chega a ser curioso que Rabello de Castro tenha virado presidente da instituição que mais contribui para os elevados juros no mercado de crédito livre no Brasil: o BNDES.



Também parece ter se esquecido da vasta literatura empírica sob crescimento de longo prazo e seus determinantes. A qualidade e quantidade de educação; abertura ao comércio; fornecimento eficiente de bens públicos essenciais; regras claras e direitos de propriedade bem definidos; incentivos de natureza horizontal à produção/inovação; ambiente favorável aos negócios; liberdade para oscilação dos preços relativos na economia; e política fiscal sustentável. Isso tudo, caros leitores, para o país voltar crescer uns 3% ao ano por uma geração. Não se iludam. O Brasil é um país de renda não tão baixa e, portanto, não vai voltar a crescer a uma média de 6% ao ano, como nos anos 1970. Números dessa monta seriam sinal claro de políticas inconsistentes, não ousadas.

presidentesteste

O mais espantoso é ouvir pelas alcovas renovados pedidos de ousadia e frases de efeito como “seis anos em seis meses”, enquanto o cadáver das estratégias heterodoxas ainda jaz quente na sala de estar. Assassinaram o crescimento econômico no Brasil e foi agorinha mesmo: flagrante delito de um crime planejado desde 2005. E insistem em repetir o ato. Como disse De Gaulle (ou seu assistente): Le Brésil n’est pas un pays serieux.

Dilma não tinha razão

Em artigo publicado na Folha de S.Paulo lá em 2005, o hoje presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, afirmava que Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil, tinha razão. A crítica fundamental da hoje ex-presidente era feita à política econômica adotada pelo então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e sua equipe de técnicos. Essencialmente, Rabello de Castro dizia que a política econômica convencional dava frutos minguados: inflação controladamente baixa, mas crescimento fraquinho. Para crescer mais, seria preciso ousar! E, num descabido exercício retroativo, amaldiçoou o Plano Real por ter trocado inflação alta por juros altos. E, de fato, o país ousou nos anos que se seguiram. Mais precisamente a partir de 2008 a política econômica começa a mudar de cara e vai se transmutando de “tradicional” para “ousada”. Retirando o interregno da crise para não atrapalhar nossa avaliação, qual foi o resultado de tanta ousadia? gráfico_brasil_américa latina Veja o gráfico. O período influenciado pelas políticas tradicionais vai de 2004 a 2007 (talvez 2008?), enquanto o intervalo sob a égide (ou resquícios da influência, essa sim nefasta) da política econômica “ousada” é 2012 a 2016. Para quem chegou atrasado no debate, o gráfico mostra que o Brasil já foi um país normal... quando não era ousado. E olha que sequer adicionamos inflação na brincadeira. O presidente do BNDES, autointitulado um dos maiores acadêmicos do Brasil, vai além. Afirmou no mesmo artigo que a ausência de crescimento no Brasil se devia ao juro excessivamente alto. Mas, em primeiro lugar, esquece que o juro real é uma variável endógena; e, em segundo lugar, que se ele tivesse sido assim tão excessivamente alto a inflação teria que ter sido excessivamente baixa – coisa que ela nunca tinha sido ou viria a ser por estas paragens. Para alguém que via os juros como principal inimigo do crescimento, chega a ser curioso que Rabello de Castro tenha virado presidente da instituição que mais contribui para os elevados juros no mercado de crédito livre no Brasil: o BNDES. Também parece ter se esquecido da vasta literatura empírica sob crescimento de longo prazo e seus determinantes. A qualidade e quantidade de educação; abertura ao comércio; fornecimento eficiente de bens públicos essenciais; regras claras e direitos de propriedade bem definidos; incentivos de natureza horizontal à produção/inovação; ambiente favorável aos negócios; liberdade para oscilação dos preços relativos na economia; e política fiscal sustentável. Isso tudo, caros leitores, para o país voltar crescer uns 3% ao ano por uma geração. Não se iludam. O Brasil é um país de renda não tão baixa e, portanto, não vai voltar a crescer a uma média de 6% ao ano, como nos anos 1970. Números dessa monta seriam sinal claro de políticas inconsistentes, não ousadas. presidentesteste O mais espantoso é ouvir pelas alcovas renovados pedidos de ousadia e frases de efeito como “seis anos em seis meses”, enquanto o cadáver das estratégias heterodoxas ainda jaz quente na sala de estar. Assassinaram o crescimento econômico no Brasil e foi agorinha mesmo: flagrante delito de um crime planejado desde 2005. E insistem em repetir o ato. Como disse De Gaulle (ou seu assistente): Le Brésil n’est pas un pays serieux.
Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?clique aqui e assine a nossa Newsletter.

Siga a gente no Facebook e Twitter!
Inscreva-se no nosso canal no YouTube!
Curta as nossas fotos no Instagram!

O que você achou desse texto?

*Não é necessário cadastro.

Avaliação de quem leu:

Avalie esse texto Não é necessário cadastro

A plataforma Por Quê?Economês em bom português nasceu em 2015, com o objetivo de explicar conceitos básicos de economia e tornar o noticiário econômico acessível ao público não especializado. Acreditamos que o raciocínio econômico é essencial para a compreensão da realidade que nos cerca.

Iniciativa

Bei editora
Usamos cookies por vários motivos, como manter o site do PQ? confiável ​​e seguro, personalizar conteúdo e anúncios,
fornecer recursos de mídia social e analisar como o site é usado. Para maiores informações veja nossa Política de Privacidade.