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"Eu sou você amanhã." O alerta vinha seguido do slogan: "Pense em você amanhã, exija Orloff hoje." A mensagem da propaganda de vodca veiculada nos anos 80 era evitar a ressaca do dia seguinte. 

Nesse mesmo período, tanto no Brasil como na Argentina, as equipes econômicas se alternavam procurando tirar das mangas o plano que iria conter a inflação que assolava os dois países.

Na Argentina, o Plano Austral, de junho de 1985, optou pelo congelamento de preços, tarifas e salários. O congelamento acabou por distorcer os preços relativos da economia e afetar o abastecimento de produtos básicos como a carne. Alguns ajustes ao plano foram feitos em fevereiro de 1986, mas já em agosto de 1986 estava claro que o congelamento de preços não funcionara. Em 1987 a crise econômica se agrava, com a inflação se acelerando e o governo argentino enfrentando grandes dificuldades fiscais. Em agosto de 1988, o plano Primavera foi a última tentativa do governo Raul Alfonsín de controlar a inflação, mas sem sucesso.

Enquanto isso, o Brasil acompanhava seus hermanos por um caminho curiosamente parecido. Em março de 1986, o Plano Cruzado congelava preços e salários. Assim como na Argentina, a dificuldade em se fixar preços relativos gerou graves distorções e desabastecimento. Ajustes ao Plano Cruzado foram feitos em novembro de 1986 (plano Cruzado 2), e um novo plano em junho de 1987 (Plano Bresser) repete o controle de preços, mas sem resultado. A crise econômica se agrava em 1987, e o governo brasileiro tem dificuldades em pagar a dívida externa. Em janeiro de 1989, o Plano Verão foi a última tentativa do governo José Sarney de tentar controlar a inflação pelo controle de preços, novamente sem sucesso.

A sequência de insucessos compartilhados pelos dois países ficou conhecido como efeito Orloff: “O Brasil é a Argentina amanhã.” Ou seja, para saber o que iria acontecer no Brasil, bastava ver o que tinha acontecido na Argentina.

Os anos 80 ficaram para trás, mas as incertezas políticas e econômicas não.

Na Argentina, o governo de Mauricio Macri não conseguiu implementar as reformas necessárias para colocar o país no caminho do crescimento econômico e da estabilidade social. Como resultado, perdeu as eleições deste ano para o peronista Alberto Fernandez, que tem como vice a ex-presidente com forte viés populista Cristina Kirchner.

Algumas das primeiras medidas adotadas pelo novo governo argentino lembram as medidas inusitadas dos anos 80: imposto de exportação sobre o setor mais produtivo da economia, multa para demissão sem justa causa para conter o desemprego e controle das tarifas dos serviços públicos. Tudo indica que a ressaca será brava na Argentina, infelizmente.

Já no Brasil, a situação atual da economia permite imaginar um descolamento do efeito Orloff. No entanto, é importante que a sociedade permaneça vigilante para evitar retrocessos e garantir que as reformas econômicas que o país necessita sejam rapidamente implementadas.


COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE SÃO PAULO




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Eu (não) sou você amanhã



"Eu sou você amanhã." O alerta vinha seguido do slogan: "Pense em você amanhã, exija Orloff hoje." A mensagem da propaganda de vodca veiculada nos anos 80 era evitar a ressaca do dia seguinte. 

Nesse mesmo período, tanto no Brasil como na Argentina, as equipes econômicas se alternavam procurando tirar das mangas o plano que iria conter a inflação que assolava os dois países.

Na Argentina, o Plano Austral, de junho de 1985, optou pelo congelamento de preços, tarifas e salários. O congelamento acabou por distorcer os preços relativos da economia e afetar o abastecimento de produtos básicos como a carne. Alguns ajustes ao plano foram feitos em fevereiro de 1986, mas já em agosto de 1986 estava claro que o congelamento de preços não funcionara. Em 1987 a crise econômica se agrava, com a inflação se acelerando e o governo argentino enfrentando grandes dificuldades fiscais. Em agosto de 1988, o plano Primavera foi a última tentativa do governo Raul Alfonsín de controlar a inflação, mas sem sucesso.

Enquanto isso, o Brasil acompanhava seus hermanos por um caminho curiosamente parecido. Em março de 1986, o Plano Cruzado congelava preços e salários. Assim como na Argentina, a dificuldade em se fixar preços relativos gerou graves distorções e desabastecimento. Ajustes ao Plano Cruzado foram feitos em novembro de 1986 (plano Cruzado 2), e um novo plano em junho de 1987 (Plano Bresser) repete o controle de preços, mas sem resultado. A crise econômica se agrava em 1987, e o governo brasileiro tem dificuldades em pagar a dívida externa. Em janeiro de 1989, o Plano Verão foi a última tentativa do governo José Sarney de tentar controlar a inflação pelo controle de preços, novamente sem sucesso.

A sequência de insucessos compartilhados pelos dois países ficou conhecido como efeito Orloff: “O Brasil é a Argentina amanhã.” Ou seja, para saber o que iria acontecer no Brasil, bastava ver o que tinha acontecido na Argentina.

Os anos 80 ficaram para trás, mas as incertezas políticas e econômicas não.

Na Argentina, o governo de Mauricio Macri não conseguiu implementar as reformas necessárias para colocar o país no caminho do crescimento econômico e da estabilidade social. Como resultado, perdeu as eleições deste ano para o peronista Alberto Fernandez, que tem como vice a ex-presidente com forte viés populista Cristina Kirchner.

Algumas das primeiras medidas adotadas pelo novo governo argentino lembram as medidas inusitadas dos anos 80: imposto de exportação sobre o setor mais produtivo da economia, multa para demissão sem justa causa para conter o desemprego e controle das tarifas dos serviços públicos. Tudo indica que a ressaca será brava na Argentina, infelizmente.

Já no Brasil, a situação atual da economia permite imaginar um descolamento do efeito Orloff. No entanto, é importante que a sociedade permaneça vigilante para evitar retrocessos e garantir que as reformas econômicas que o país necessita sejam rapidamente implementadas.


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