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Patamar inflacionário do Brasil não é consistente com história de que a política monetária tem sido dura

Quais são as responsabilidades típicas de um Banco Central? Assegurar que o sistema financeiro do país apresente a necessária solidez para que o sistema de pagamentos na economia funcione sem maiores traumas e manipular a política monetária de modo que a inflação gire em torno de uma meta pré-estabelecida. Qual meta? Não há um número mágico, mas a maioria dos países estipula algo entre 2% e 3%. No Brasil, o valor é 4%, um tantinho mais alto, mas ainda bem razoável. Aliás, após a crise financeira alguns economistas passaram a defender que melhor 4% do que 2%, porque, se a inflação é muito baixa, o juro nominal também o será, o que pode ser problemático quando a economia entra em recessão: o Banco Central fica com pouca munição para combater a deflação. Como bem sabe o leitor, vira e mexe surgem queixas sobre a atuação dos bancos centrais, umas mais exóticas que as outras, muitas contaminadas pelo ambiente político. Para trazer a discussão um pouco mais para perto do chão, talvez faça sentido começar pelo final, perguntando-nos: a inflação foi muito baixa/alta no Brasil nos últimos 15 anos? A definição de uma política monetária dura é uma inflação muito baixa alguns trimestres adiante; de uma política monetária frouxa, é inflação alta. A dificuldade, claro, é determinar o que é alto e o que é baixo. Uma maneira de determinar esses valores é olhar para a meta de inflação estipulada pelo CMN, hoje em 4,25% com intervalo de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Por essa ótica, uma inflação muito baixa se situaria abaixo de 2,5%; e muito alta, acima de 5,5%. Como se vê no gráfico, nos últimos 14 anos nunca tivemos uma inflação acumulada em 12 meses muito baixa. E mais: em cerca de 70% dos meses, a inflação se situou acima de 5,5%. Note o leitor que estamos usando o dado de núcleo de inflação, não da inflação cheia. Ou seja, já expurgando efeitos adversos de choques de oferta.
De fato, a inflação em 2018 fechou nos 3%, abaixo do ponto central da meta, que é 4%. Mas 3% é absurdamente baixo? Para ter melhor ideia, vamos olhar mundo afora. Para evitar idiossincrasias associadas a um ano estranho, os dados representados abaixo são a média do efetivamente realizado em 2018 e o que se espera que seja a inflação no fechar do ano de 2019 (segundo o FMI). Excluímos da amostra países com inflação acima de 20% (pouquíssimos). O Brasil é o pontilhado verdinho. Como se vê, nosso patamar inflacionário não é consistente com a história de que a política monetária tem sido excessivamente dura. Nossa inflação, mesmo depois de baixar muito, ainda se encontra acima da mediana da dos países emergentes.   COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE S.PAULO

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Patamar inflacionário do Brasil não é consistente com história de que a política monetária tem sido dura Quais são as responsabilidades típicas de um Banco Central? Assegurar que o sistema financeiro do país apresente a necessária solidez para que o sistema de pagamentos na economia funcione sem maiores traumas e manipular a política monetária de modo que a inflação gire em torno de uma meta pré-estabelecida. Qual meta? Não há um número mágico, mas a maioria dos países estipula algo entre 2% e 3%. No Brasil, o valor é 4%, um tantinho mais alto, mas ainda bem razoável. Aliás, após a crise financeira alguns economistas passaram a defender que melhor 4% do que 2%, porque, se a inflação é muito baixa, o juro nominal também o será, o que pode ser problemático quando a economia entra em recessão: o Banco Central fica com pouca munição para combater a deflação. Como bem sabe o leitor, vira e mexe surgem queixas sobre a atuação dos bancos centrais, umas mais exóticas que as outras, muitas contaminadas pelo ambiente político. Para trazer a discussão um pouco mais para perto do chão, talvez faça sentido começar pelo final, perguntando-nos: a inflação foi muito baixa/alta no Brasil nos últimos 15 anos? A definição de uma política monetária dura é uma inflação muito baixa alguns trimestres adiante; de uma política monetária frouxa, é inflação alta. A dificuldade, claro, é determinar o que é alto e o que é baixo. Uma maneira de determinar esses valores é olhar para a meta de inflação estipulada pelo CMN, hoje em 4,25% com intervalo de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Por essa ótica, uma inflação muito baixa se situaria abaixo de 2,5%; e muito alta, acima de 5,5%. Como se vê no gráfico, nos últimos 14 anos nunca tivemos uma inflação acumulada em 12 meses muito baixa. E mais: em cerca de 70% dos meses, a inflação se situou acima de 5,5%. Note o leitor que estamos usando o dado de núcleo de inflação, não da inflação cheia. Ou seja, já expurgando efeitos adversos de choques de oferta.
De fato, a inflação em 2018 fechou nos 3%, abaixo do ponto central da meta, que é 4%. Mas 3% é absurdamente baixo? Para ter melhor ideia, vamos olhar mundo afora. Para evitar idiossincrasias associadas a um ano estranho, os dados representados abaixo são a média do efetivamente realizado em 2018 e o que se espera que seja a inflação no fechar do ano de 2019 (segundo o FMI). Excluímos da amostra países com inflação acima de 20% (pouquíssimos). O Brasil é o pontilhado verdinho. Como se vê, nosso patamar inflacionário não é consistente com a história de que a política monetária tem sido excessivamente dura. Nossa inflação, mesmo depois de baixar muito, ainda se encontra acima da mediana da dos países emergentes.   COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE S.PAULO Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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