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Dos 11 titulares da seleção brasileira que iniciaram a Copa do Mundo da Rússianenhum atua no Brasil. Alguns deles fizeram toda a carreira no exterior, principalmente em clubes europeus. Isso gera questionamentos quanto à identificação da seleção com seu país. Um exemplo encontra-se na entrevista recente do professor Flávio de Campos, da USP, ao Estadão - veja aqui.

Para mudar esse quadro, o professor propõe um imposto sobre transferências de jogadores para o exterior. Esse imposto diminuiria de acordo com a idade do atleta: bem elevado para os jovens (17 a 20 anos), depois menor, até chegar aos 23 anos, quando seria zerado.

Não entrarei na discussão sobre a identificação dos jogadores com nosso país (e se a proposta de imposto melhoraria isso). Tentarei neste texto entender os possíveis impactos da medida. Ela contribuiria para manter jovens jogadores no Brasil por mais tempo?

 



 

Certamente a medida vai nessa direção. Ela reduz o valor recebido pelo jogador, pelo seu clube, pelos empresários etc. em uma eventual transação, diminuindo assim o incentivo a sair do país. E aumentaria o preço do atleta para os clubes no exterior, reduzindo também  o interesse deles em  realizar contratações em nosso país.

A proposta do professor Flávio de Campos tem um componente adicional que incentiva uma maior permanência dos jovens futebolistas no Brasil – o fato de o imposto decair com a idade. Isso porque compradores e vendedores nesse mercado podem querer esperar mais para fazer uma transferência, com o intuito de evitar uma taxação muito pesada.

Entretanto, a proposta tende a afetar menos os grandes craques – justamente aqueles que têm as maiores chances de integrar a seleção brasileira no futuro. Jogadores com esse perfil têm habilidades únicas e dificilmente há substitutos para eles no mercado.

Se aparece um jovem no Brasil com potencial de estar entre os melhores do mundo, os clubes europeus mais ricos passarão a competir fortemente entre si para contratá-lo. Se, por exemplo, o Real Madrid desistisse da contratação por causa do imposto, pode ter certeza que Barcelona, PSG, Manchester United ou algum outro clube endinheirado toparia pagar.

Isso implica que o imposto tem menos poder de dissuadir um clube estrangeiro de fazer uma contratação no caso de grandes craques.

A coisa é mais complicada para aqueles que não fazem parte da elite técnica dos jogadores de futebol. Por não serem tão únicos, encontram-se substitutos mais próximos no exterior. Pense em um clube estrangeiro cogitando contratar um jogador brasileiro, mas agora essa operação está mais custosa por causa do imposto. Como o jogador não possui habilidades especiais, o clube pode ir ao Leste Europeu ou à África, por exemplo, e contratar alguém tão bom quanto, mas a um preço mais baixo.

Ou seja, quem tem mais a perder com a política não seriam os grandes craques, mas sim jogadores de nível médio, que deixam de ter oportunidades fora do Brasil.

Quando as coisas não vão tão bem na economia do Brasil, vários jovens buscam oportunidades no exterior. Essas oportunidades, entretanto, estão disponíveis principalmente às pessoas mais ricas, que tiveram acesso a boas escolas e ao aprendizado de uma língua estrangeira. Além disso, países desenvolvidos estão mais abertos a indivíduos com formação universitária, e tendem a não aceitar trabalhadores de baixa qualificação. Falamos mais sobre isso aqui.

Pessoas mais pobres não têm essa opção, com exceção de alguns casos – como de quem tem talento para ser um bom jogador de futebol. A proposta do professor Flávio de Campos  pode fechar portas no exterior para boa parte desses jovens.

 

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Imposto é solução contra êxodo de jogadores?

Dos 11 titulares da seleção brasileira que iniciaram a Copa do Mundo da Rússianenhum atua no Brasil. Alguns deles fizeram toda a carreira no exterior, principalmente em clubes europeus. Isso gera questionamentos quanto à identificação da seleção com seu país. Um exemplo encontra-se na entrevista recente do professor Flávio de Campos, da USP, ao Estadão - veja aqui. Para mudar esse quadro, o professor propõe um imposto sobre transferências de jogadores para o exterior. Esse imposto diminuiria de acordo com a idade do atleta: bem elevado para os jovens (17 a 20 anos), depois menor, até chegar aos 23 anos, quando seria zerado. Não entrarei na discussão sobre a identificação dos jogadores com nosso país (e se a proposta de imposto melhoraria isso). Tentarei neste texto entender os possíveis impactos da medida. Ela contribuiria para manter jovens jogadores no Brasil por mais tempo?     Certamente a medida vai nessa direção. Ela reduz o valor recebido pelo jogador, pelo seu clube, pelos empresários etc. em uma eventual transação, diminuindo assim o incentivo a sair do país. E aumentaria o preço do atleta para os clubes no exterior, reduzindo também  o interesse deles em  realizar contratações em nosso país. A proposta do professor Flávio de Campos tem um componente adicional que incentiva uma maior permanência dos jovens futebolistas no Brasil – o fato de o imposto decair com a idade. Isso porque compradores e vendedores nesse mercado podem querer esperar mais para fazer uma transferência, com o intuito de evitar uma taxação muito pesada. Entretanto, a proposta tende a afetar menos os grandes craques – justamente aqueles que têm as maiores chances de integrar a seleção brasileira no futuro. Jogadores com esse perfil têm habilidades únicas e dificilmente há substitutos para eles no mercado. Se aparece um jovem no Brasil com potencial de estar entre os melhores do mundo, os clubes europeus mais ricos passarão a competir fortemente entre si para contratá-lo. Se, por exemplo, o Real Madrid desistisse da contratação por causa do imposto, pode ter certeza que Barcelona, PSG, Manchester United ou algum outro clube endinheirado toparia pagar. Isso implica que o imposto tem menos poder de dissuadir um clube estrangeiro de fazer uma contratação no caso de grandes craques. A coisa é mais complicada para aqueles que não fazem parte da elite técnica dos jogadores de futebol. Por não serem tão únicos, encontram-se substitutos mais próximos no exterior. Pense em um clube estrangeiro cogitando contratar um jogador brasileiro, mas agora essa operação está mais custosa por causa do imposto. Como o jogador não possui habilidades especiais, o clube pode ir ao Leste Europeu ou à África, por exemplo, e contratar alguém tão bom quanto, mas a um preço mais baixo. Ou seja, quem tem mais a perder com a política não seriam os grandes craques, mas sim jogadores de nível médio, que deixam de ter oportunidades fora do Brasil. Quando as coisas não vão tão bem na economia do Brasil, vários jovens buscam oportunidades no exterior. Essas oportunidades, entretanto, estão disponíveis principalmente às pessoas mais ricas, que tiveram acesso a boas escolas e ao aprendizado de uma língua estrangeira. Além disso, países desenvolvidos estão mais abertos a indivíduos com formação universitária, e tendem a não aceitar trabalhadores de baixa qualificação. Falamos mais sobre isso aqui. Pessoas mais pobres não têm essa opção, com exceção de alguns casos – como de quem tem talento para ser um bom jogador de futebol. A proposta do professor Flávio de Campos  pode fechar portas no exterior para boa parte desses jovens.   Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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