Uma plataforma que vai te ajudar a entender um pouco mais de economia.

O trânsito é um problema sério nas principais cidades brasileiras. E em São Paulo nem se fala. Recentemente, no entanto, tivemos algumas boas notícias, como a redução no número de acidentes fatais.

A prefeitura de São Paulo tem tomado medidas ousadas na direção de diminuir as mortes no trânsito. Talvez a mais polêmica delas seja a redução da velocidade máxima em vias importantes da cidade, com destaque para as marginais.

Muita gente comemora o suposto êxito dessas políticas, haja vista a redução nas mortes. E a ideia faz, sim, bastante sentido: claro, um carro em alta velocidade tem maiores chances de matar alguém.

Mas, somente observando esses dados de fatalidades, é possível concluir que a redução de velocidade nas marginais, diretamente, fez com que as mortes em acidentes fossem reduzidas?

Antes de tudo, um aviso: o objetivo aqui não é defender ou condenar as medidas adotadas. A intenção deste texto apenas é explicar que, ao olharmos meramente para a trajetória de acidentes fatais ao longo do tempo, não é possível atribuir a diminuição das mortes em trânsito à Prefeitura.

Por quê?

Por que há diversos possíveis fatores que variam no tempo e que poderiam, também, afetar o número de mortes. Trata-se de uma questão recorrente na análise empírica em economia, conhecida como problema da variável omitida.

Gostaríamos de saber se a redução da velocidade máxima causa queda nas mortes no trânsito. No entanto, se observarmos uma diminuição na velocidade máxima simultânea à redução nas mortes, somente podemos concluir que essas variáveis estão correlacionadas. Mas existe causa e efeito nessa história?

Não é possível afirmar.

A existência de uma relação causal é crucial aqui. Só assim podemos concluir que mexer na velocidade máxima levará a uma redução nas fatalidades.

A simples correlação, no entanto, não é suficiente. Pode haver um terceiro fator (ou conjunto de fatores) que também interfere no caso. E que, potencialmente, provoca mudanças no número de mortes. A redução da velocidade máxima pode estar justamente captando as mudanças desses fatores.

A própria recessão que estamos vivenciando agora, por exemplo, é forte candidata para ser esse terceiro fator.

Por quê?

Por causa da queda na renda, as pessoas tendem a deixar mais seus carros em casa. E também faz todo o sentido supor que menos carros nas ruas também levam a uma queda no número de acidentes.

Ok. Mas qual seria a verdadeira causa da queda nas mortes: (1) as medidas do prefeito; (2) a recessão; (3) ou algum outro fator que, embora ainda não esteja claro qual é, está sofrendo alterações ao longo do tempo?

Caso analisemos apenas olhando para a trajetória de acidentes fatais, a resposta é: não sabemos.

Significa que não devemos adotar políticas apenas por desconhecermos o impacto delas? Não. É somente colocando medidas em prática que aprenderemos sobre seu real efeito. No entanto, se olharmos apenas para a tendência de acidentes fatais, é impossível, economicamente falando, concluir pela efetividade ou não da política de baixar a velocidade máxima para reduzir acidentes letais.

 

Por que caiu o número de mortes no trânsito de SP?

O trânsito é um problema sério nas principais cidades brasileiras. E em São Paulo nem se fala. Recentemente, no entanto, tivemos algumas boas notícias, como a redução no número de acidentes fatais. A prefeitura de São Paulo tem tomado medidas ousadas na direção de diminuir as mortes no trânsito. Talvez a mais polêmica delas seja a redução da velocidade máxima em vias importantes da cidade, com destaque para as marginais. Muita gente comemora o suposto êxito dessas políticas, haja vista a redução nas mortes. E a ideia faz, sim, bastante sentido: claro, um carro em alta velocidade tem maiores chances de matar alguém. Mas, somente observando esses dados de fatalidades, é possível concluir que a redução de velocidade nas marginais, diretamente, fez com que as mortes em acidentes fossem reduzidas? Antes de tudo, um aviso: o objetivo aqui não é defender ou condenar as medidas adotadas. A intenção deste texto apenas é explicar que, ao olharmos meramente para a trajetória de acidentes fatais ao longo do tempo, não é possível atribuir a diminuição das mortes em trânsito à Prefeitura. Por quê? Por que há diversos possíveis fatores que variam no tempo e que poderiam, também, afetar o número de mortes. Trata-se de uma questão recorrente na análise empírica em economia, conhecida como problema da variável omitida. Gostaríamos de saber se a redução da velocidade máxima causa queda nas mortes no trânsito. No entanto, se observarmos uma diminuição na velocidade máxima simultânea à redução nas mortes, somente podemos concluir que essas variáveis estão correlacionadas. Mas existe causa e efeito nessa história? Não é possível afirmar. A existência de uma relação causal é crucial aqui. Só assim podemos concluir que mexer na velocidade máxima levará a uma redução nas fatalidades. A simples correlação, no entanto, não é suficiente. Pode haver um terceiro fator (ou conjunto de fatores) que também interfere no caso. E que, potencialmente, provoca mudanças no número de mortes. A redução da velocidade máxima pode estar justamente captando as mudanças desses fatores. A própria recessão que estamos vivenciando agora, por exemplo, é forte candidata para ser esse terceiro fator. Por quê? Por causa da queda na renda, as pessoas tendem a deixar mais seus carros em casa. E também faz todo o sentido supor que menos carros nas ruas também levam a uma queda no número de acidentes. Ok. Mas qual seria a verdadeira causa da queda nas mortes: (1) as medidas do prefeito; (2) a recessão; (3) ou algum outro fator que, embora ainda não esteja claro qual é, está sofrendo alterações ao longo do tempo? Caso analisemos apenas olhando para a trajetória de acidentes fatais, a resposta é: não sabemos. Significa que não devemos adotar políticas apenas por desconhecermos o impacto delas? Não. É somente colocando medidas em prática que aprenderemos sobre seu real efeito. No entanto, se olharmos apenas para a tendência de acidentes fatais, é impossível, economicamente falando, concluir pela efetividade ou não da política de baixar a velocidade máxima para reduzir acidentes letais.  
Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?clique aqui e assine a nossa Newsletter.

Siga a gente no Facebook e Twitter!
Inscreva-se no nosso canal no YouTube!
Curta as nossas fotos no Instagram!

O que você achou desse texto?

*Não é necessário cadastro.

Avaliação de quem leu:

Avalie esse texto Não é necessário cadastro

A plataforma Por Quê?Economês em bom português nasceu em 2015, com o objetivo de explicar conceitos básicos de economia e tornar o noticiário econômico acessível ao público não especializado. Acreditamos que o raciocínio econômico é essencial para a compreensão da realidade que nos cerca.

Iniciativa

Bei editora
Usamos cookies por vários motivos, como manter o site do PQ? confiável ​​e seguro, personalizar conteúdo e anúncios,
fornecer recursos de mídia social e analisar como o site é usado. Para maiores informações veja nossa Política de Privacidade.