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cortes em ciência

A comunidade científica vem se posicionando enfaticamente contra os cortes no orçamento alocado à ciência pelo governo federal. Não apenas acadêmicos brasileiros, mas também internacionais, têm-se manifestado. Mais de 20 ganhadores do prêmio Nobel assinaram um manifesto repudiando a decisão do governo brasileiro.

De fato, há muito em jogo nesses cortes. Projetos científicos podem ser interrompidos precocemente, laboratórios correm o risco de fechamento e estudantes de pós-graduação ficariam sem bolsas. Isso certamente seria prejudicial, senão catastrófico, para a ciência brasileira. Sem muitas perspectivas de trabalho por aqui, muitos acadêmicos brasileiros de prestígio podem se mudar para o exterior.

É preciso, porém, colocar esses cortes em uma perspectiva mais ampla. O país passa por uma grave crise fiscal. Não falta apenas dinheiro para ciência. Se quisermos manter ou até aumentar o investimento em ciência, de onde virá esse dinheiro? Deixaremos de gastar com educação, saúde, saneamento, esporte, cultura, infraestrutura etc.? Ou cobraremos mais impostos da população?

Muito da discussão de política pública no Brasil tende a enfatizar apenas seus benefícios. Investir em ciência traz benefícios para o país? Certamente que sim. Mas há custos. Esse dinheiro não cai do céu. Gastar em ciência implica não gastar em outro lugar. Isso é o que chamamos de custo de oportunidade: a alternativa que deixamos de exercer, quando escolhemos gastar o dinheiro em determinada atividade (no caso, em ciência).

A falta de dinheiro público é agravada pela evolução do gasto com aposentadorias. Trata-se uma despesa obrigatória, ou seja, que o governo não pode cortar (isso está na Constituição). As mudanças demográficas estão ampliando rapidamente esses gastos, pois, com o envelhecimento da população e queda no número de filhos por casal, há cada vez menos trabalhadores para cada aposentado.

Com o crescimento da despesa obrigatória, sobra cada vez menos margem de manobra para ajustar o orçamento – que deve ser feito nas tais das despesas discricionárias, as quais o governo tem mais liberdade para cortar. É aí que se encaixa o investimento em ciência.

Se quisermos evitar mais cortes no orçamento da ciência, precisamos urgentemente reformar a Previdência para evitar o crescimento insustentável dessa despesa. A importância da ciência para o país é inquestionável. Mas a discussão tem de se ancorar na realidade do Brasil. Qualquer reivindicação, seja ela de qualquer área de governo, por mais justa que seja, tem de considerar esse ponto.

 

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Novos cortes em ciência podem ser evitados?

cortes em ciência A comunidade científica vem se posicionando enfaticamente contra os cortes no orçamento alocado à ciência pelo governo federal. Não apenas acadêmicos brasileiros, mas também internacionais, têm-se manifestado. Mais de 20 ganhadores do prêmio Nobel assinaram um manifesto repudiando a decisão do governo brasileiro. De fato, há muito em jogo nesses cortes. Projetos científicos podem ser interrompidos precocemente, laboratórios correm o risco de fechamento e estudantes de pós-graduação ficariam sem bolsas. Isso certamente seria prejudicial, senão catastrófico, para a ciência brasileira. Sem muitas perspectivas de trabalho por aqui, muitos acadêmicos brasileiros de prestígio podem se mudar para o exterior. É preciso, porém, colocar esses cortes em uma perspectiva mais ampla. O país passa por uma grave crise fiscal. Não falta apenas dinheiro para ciência. Se quisermos manter ou até aumentar o investimento em ciência, de onde virá esse dinheiro? Deixaremos de gastar com educação, saúde, saneamento, esporte, cultura, infraestrutura etc.? Ou cobraremos mais impostos da população? Muito da discussão de política pública no Brasil tende a enfatizar apenas seus benefícios. Investir em ciência traz benefícios para o país? Certamente que sim. Mas há custos. Esse dinheiro não cai do céu. Gastar em ciência implica não gastar em outro lugar. Isso é o que chamamos de custo de oportunidade: a alternativa que deixamos de exercer, quando escolhemos gastar o dinheiro em determinada atividade (no caso, em ciência). A falta de dinheiro público é agravada pela evolução do gasto com aposentadorias. Trata-se uma despesa obrigatória, ou seja, que o governo não pode cortar (isso está na Constituição). As mudanças demográficas estão ampliando rapidamente esses gastos, pois, com o envelhecimento da população e queda no número de filhos por casal, há cada vez menos trabalhadores para cada aposentado. Com o crescimento da despesa obrigatória, sobra cada vez menos margem de manobra para ajustar o orçamento – que deve ser feito nas tais das despesas discricionárias, as quais o governo tem mais liberdade para cortar. É aí que se encaixa o investimento em ciência. Se quisermos evitar mais cortes no orçamento da ciência, precisamos urgentemente reformar a Previdência para evitar o crescimento insustentável dessa despesa. A importância da ciência para o país é inquestionável. Mas a discussão tem de se ancorar na realidade do Brasil. Qualquer reivindicação, seja ela de qualquer área de governo, por mais justa que seja, tem de considerar esse ponto.   Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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