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1-monopoly

Banco Imobiliário ou Monopoly é um dos jogos de tabuleiro mais populares da história. Gerações e gerações de jogadores já se divertiram dando voltas em torno da cidade fictícia, recebendo créditos toda vez que algum jogador cai em sua propriedade, e pagando quando caem na propriedade de outro.

O dono de determinada propriedade é monopolista. Quem deu azar de passar por ali tem que pagar o preço.

A BBC fez uma matéria muito interessante sobre a história do jogo. Ele surgiu em 1904, inventado pela norte-americana Elizabeth Magie. O interessante é que Monopoly tinha um irmão gêmeo, chamado Prosperity. A ideia de Magie era usar os dois jogos para denunciar as mazelas do capitalismo.

Monopoly era tudo de ruim do sistema, com donos de imóveis arrancando o couro de quem ousava passar por suas propriedades. Também resulta em uma desigualdade brutal: no fim há apenas um vencedor, e todos os outros jogadores estão falidos.

Já Prosperity é um mundo mais humano e igualitário. Quando uma propriedade é vendida, todos os outros jogadores ganham uma grana. Funciona como se fosse um esquema de taxação: cobra-se imposto na transação, que é distribuído entre os demais (na vida real, poderíamos pensar que a grana é usada para prover bens e serviços públicos, que beneficiam um número grande de pessoas). E no fim todos os jogadores ganham (ou perdem, dependendo do ponto de vista).

Na vida real, faz sentido sim taxar propriedades. A taxação tem custos sociais que vão além do dinheiro que sai dos nossos bolsos. Isso porque impostos fazem com que compradores e vendedores mudem seu comportamento. Por exemplo, se taxarmos livros, desestimulamos as vendas; ao mesmo tempo, o imposto é repassado em parte para o preço do produto, o que reduz as compras.

No fim, terminamos com menos livros no mercado, o que constitui um custo para a sociedade. Isso ocorre porque consumidores e empresas buscam evitar a taxação mais elevada. Não se trata de burlar o fisco, mas sim de comprar ou vender menos por causa da alteração nos preços.

Com propriedades, isso não ocorre, pelo menos no curto prazo. Em economia, dizemos que a oferta é inelástica. O dono não tem muita margem de manobra: não consegue derrubar ou construir uma casa da noite para o dia. Como resultado, ele tem dificuldade de fugir da taxação mudando seu comportamento. Ao contrário do mercado de livros, a quantidade de imóveis pouco se altera como resultado da taxação mais alta. Assim, o custo social tende a ser mais baixo nesse caso. Logo, faz sentido para o governo financiar seus gastos mais pesadamente com taxação sobre propriedades, relativamente a coisas como bens de consumo e até renda.

Esse tipo de imposto ainda ajuda na distribuição de renda. Lembre-se: a ponta inelástica (isto é, que não consegue alterar seu comportamento) nesse mercado é a oferta, formada pelos donos de propriedades. Por conta disso, eles acabam pagando a maior parte do imposto nessa situação. Como a posse de terra tende a ser concentrada, a medida atua no sentido de reduzir a desigualdade.

No longo prazo essas vantagens de taxar propriedades podem não ser tão grandes assim, pois a oferta torna-se mais elástica, na medida em que os proprietários decidem ou não investir na manutenção e melhoria dos imóveis. Seria, dessa forma, melhor taxar a terra, independente do seu uso (veja mais detalhes nesse artigo da revista The Economist).

Mas, no mundo de Monopoly e Prosperity, a ideia de taxar de terra e propriedades naufragou. Monopoly prosperou, e quase ninguém hoje sabe o que é Prosperity. Quem matou Prosperity foi o sistema de mercado, que determinadas pessoas chamam de “capitalismo”. Justamente aquilo que Magie queria combater em seus jogos. E não porque os rentistas poderosos do mundo se uniram para acabar com a ideia de um mundo novo e justo de Magie. Quem fez o serviço foram os consumidores mesmo.

Convenhamos, um jogo de tabuleiro em que não há vencedor é uma das coisas mais chatas do mundo. Ninguém se interessou por Prosperity. Por isso, não há lucratividade em produzi-lo e, portanto, as empresas não se interessam em comercializá-lo. O produto morre.

Já em Monopoly há um vencedor que leva todos os seus oponentes à falência. É muito mais divertido. Consumidores querem comprar; como consequência, há lucro em vender o produto, o que atrai empresas para produzi-lo.

O interessante é que a inventora se beneficiou do monopólio de Monopoly. Ela patenteou o jogo quando o criou. Uma patente é de fato o monopólio de um produto: ninguém tem permissão de produzi-lo além do detentor do registro. Ela acabou vendendo a patente, transferindo a exclusividade para outra empresa.

Normalmente identificamos um monopólio como uma mazela econômica, com preços altos e quantidade produzida baixa (excluindo consumidores do mercado). A patente, entretanto, tem um papel importante, pois dá incentivos à inovação e à geração de novos produtos. Deixo essa discussão para outro texto.

 

 

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O que o sucesso de Monopoly ensina sobre o sistema de mercado?

1-monopoly Banco Imobiliário ou Monopoly é um dos jogos de tabuleiro mais populares da história. Gerações e gerações de jogadores já se divertiram dando voltas em torno da cidade fictícia, recebendo créditos toda vez que algum jogador cai em sua propriedade, e pagando quando caem na propriedade de outro. O dono de determinada propriedade é monopolista. Quem deu azar de passar por ali tem que pagar o preço. A BBC fez uma matéria muito interessante sobre a história do jogo. Ele surgiu em 1904, inventado pela norte-americana Elizabeth Magie. O interessante é que Monopoly tinha um irmão gêmeo, chamado Prosperity. A ideia de Magie era usar os dois jogos para denunciar as mazelas do capitalismo. Monopoly era tudo de ruim do sistema, com donos de imóveis arrancando o couro de quem ousava passar por suas propriedades. Também resulta em uma desigualdade brutal: no fim há apenas um vencedor, e todos os outros jogadores estão falidos. Já Prosperity é um mundo mais humano e igualitário. Quando uma propriedade é vendida, todos os outros jogadores ganham uma grana. Funciona como se fosse um esquema de taxação: cobra-se imposto na transação, que é distribuído entre os demais (na vida real, poderíamos pensar que a grana é usada para prover bens e serviços públicos, que beneficiam um número grande de pessoas). E no fim todos os jogadores ganham (ou perdem, dependendo do ponto de vista). Na vida real, faz sentido sim taxar propriedades. A taxação tem custos sociais que vão além do dinheiro que sai dos nossos bolsos. Isso porque impostos fazem com que compradores e vendedores mudem seu comportamento. Por exemplo, se taxarmos livros, desestimulamos as vendas; ao mesmo tempo, o imposto é repassado em parte para o preço do produto, o que reduz as compras. No fim, terminamos com menos livros no mercado, o que constitui um custo para a sociedade. Isso ocorre porque consumidores e empresas buscam evitar a taxação mais elevada. Não se trata de burlar o fisco, mas sim de comprar ou vender menos por causa da alteração nos preços. Com propriedades, isso não ocorre, pelo menos no curto prazo. Em economia, dizemos que a oferta é inelástica. O dono não tem muita margem de manobra: não consegue derrubar ou construir uma casa da noite para o dia. Como resultado, ele tem dificuldade de fugir da taxação mudando seu comportamento. Ao contrário do mercado de livros, a quantidade de imóveis pouco se altera como resultado da taxação mais alta. Assim, o custo social tende a ser mais baixo nesse caso. Logo, faz sentido para o governo financiar seus gastos mais pesadamente com taxação sobre propriedades, relativamente a coisas como bens de consumo e até renda. Esse tipo de imposto ainda ajuda na distribuição de renda. Lembre-se: a ponta inelástica (isto é, que não consegue alterar seu comportamento) nesse mercado é a oferta, formada pelos donos de propriedades. Por conta disso, eles acabam pagando a maior parte do imposto nessa situação. Como a posse de terra tende a ser concentrada, a medida atua no sentido de reduzir a desigualdade. No longo prazo essas vantagens de taxar propriedades podem não ser tão grandes assim, pois a oferta torna-se mais elástica, na medida em que os proprietários decidem ou não investir na manutenção e melhoria dos imóveis. Seria, dessa forma, melhor taxar a terra, independente do seu uso (veja mais detalhes nesse artigo da revista The Economist). Mas, no mundo de Monopoly e Prosperity, a ideia de taxar de terra e propriedades naufragou. Monopoly prosperou, e quase ninguém hoje sabe o que é Prosperity. Quem matou Prosperity foi o sistema de mercado, que determinadas pessoas chamam de “capitalismo”. Justamente aquilo que Magie queria combater em seus jogos. E não porque os rentistas poderosos do mundo se uniram para acabar com a ideia de um mundo novo e justo de Magie. Quem fez o serviço foram os consumidores mesmo. Convenhamos, um jogo de tabuleiro em que não há vencedor é uma das coisas mais chatas do mundo. Ninguém se interessou por Prosperity. Por isso, não há lucratividade em produzi-lo e, portanto, as empresas não se interessam em comercializá-lo. O produto morre. Já em Monopoly há um vencedor que leva todos os seus oponentes à falência. É muito mais divertido. Consumidores querem comprar; como consequência, há lucro em vender o produto, o que atrai empresas para produzi-lo. O interessante é que a inventora se beneficiou do monopólio de Monopoly. Ela patenteou o jogo quando o criou. Uma patente é de fato o monopólio de um produto: ninguém tem permissão de produzi-lo além do detentor do registro. Ela acabou vendendo a patente, transferindo a exclusividade para outra empresa. Normalmente identificamos um monopólio como uma mazela econômica, com preços altos e quantidade produzida baixa (excluindo consumidores do mercado). A patente, entretanto, tem um papel importante, pois dá incentivos à inovação e à geração de novos produtos. Deixo essa discussão para outro texto.     Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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