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Recentemente o Datasus disponibilizou a base de dados referente ao ano de 2017, na qual são computados os números de mortos por município e por causa mortis no Brasil. Nosso interesse é no item “morte por agressão”, que totalizou 61.616 pessoas. O número absoluto em si não nos diz muito. O que importa é o número de assassinatos como proporção da população ou algo similar, como os homicídios para cada 100 mil habitantes, que é a medida mais utilizada para comparações. No Brasil de cerca de 200 milhões de habitantes, isso dá mais ou menos 30 homicídios por 100 mil, o que de fato nos coloca entre os países mais violentos do mundo (quase todos os países que lideram o ranking são latino-americanos).

A dupla de gráficos abaixo mostra, contudo, que existe uma enorme variabilidade entre os mais de 5 mil municípios nacionais (as fontes são o Datasus e o IBGE).

O gráfico à esquerda é uma densidade, uma espécie de histograma em forma contínua com as diversas possibilidades para a variável de interesse no eixo x, e sua frequência no eixo y. Vê-se que os valores mais frequentes (maior concentração de municípios) para a taxa de homicídio estão em torno de 15 por 100 mil. É o que os estatísticos chamam de “moda” (a linha tracejada azul). O gráfico à direita é a chamada densidade acumulada, feita a partir do valor acumulado da densidade. Deve ser lido assim: “acumulando os municípios desde os mais seguros até os menos seguros da amostra, uma fração y dos municípios tem taxa de homícidio inferior ao valor do eixo x”. Por exemplo, ¼ dos municípios apresentou em 2017 menos que 12,5 assassinatos por 100 mil. E metade dos municípios (a linha vermelha, a mediana) teve menos que 25 assassinatos por 100 mil pessoas.

E os grandes centros? Como ficou a violência nessas localidades? A definição de grandes centros que adotamos tem por base a população total (dados do IBGE 2018): mais de 700 mil habitantes.



Algumas curiosidades empíricas: (i) São Paulo é, por boa margem, a cidade grande mais segura do país; (ii) o Rio de Janeiro, apesar de tanto noticiário, não está assim tão péssimo na fita; (iii) Porto Alegre é perigosíssima e (iv) as capitais dos estados do nordeste são todas extremamente violentas. Fica claro que não existe algo que possa ser corretamente chamado de “violência no Brasil”. Fortaleza e São Paulo estão ambas no Brasil! Violência é um fenômeno muito localizado. Até dentro de um mesmo estado da federação, a variabilidade é bem alta, como se vê na figura abaixo, em que os municípios de cada estado estão distribuídos no eixo x de acordo com sua taxa de homicídios.



Voltaremos ao tema, para discutir possíveis soluções. Nenhuma, no entanto, é bala de prata.

PUBLICADO NA FOLHA DE S. PAULO

 

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Os dados da violência de 2017

Recentemente o Datasus disponibilizou a base de dados referente ao ano de 2017, na qual são computados os números de mortos por município e por causa mortis no Brasil. Nosso interesse é no item “morte por agressão”, que totalizou 61.616 pessoas. O número absoluto em si não nos diz muito. O que importa é o número de assassinatos como proporção da população ou algo similar, como os homicídios para cada 100 mil habitantes, que é a medida mais utilizada para comparações. No Brasil de cerca de 200 milhões de habitantes, isso dá mais ou menos 30 homicídios por 100 mil, o que de fato nos coloca entre os países mais violentos do mundo (quase todos os países que lideram o ranking são latino-americanos). A dupla de gráficos abaixo mostra, contudo, que existe uma enorme variabilidade entre os mais de 5 mil municípios nacionais (as fontes são o Datasus e o IBGE). O gráfico à esquerda é uma densidade, uma espécie de histograma em forma contínua com as diversas possibilidades para a variável de interesse no eixo x, e sua frequência no eixo y. Vê-se que os valores mais frequentes (maior concentração de municípios) para a taxa de homicídio estão em torno de 15 por 100 mil. É o que os estatísticos chamam de “moda” (a linha tracejada azul). O gráfico à direita é a chamada densidade acumulada, feita a partir do valor acumulado da densidade. Deve ser lido assim: “acumulando os municípios desde os mais seguros até os menos seguros da amostra, uma fração y dos municípios tem taxa de homícidio inferior ao valor do eixo x”. Por exemplo, ¼ dos municípios apresentou em 2017 menos que 12,5 assassinatos por 100 mil. E metade dos municípios (a linha vermelha, a mediana) teve menos que 25 assassinatos por 100 mil pessoas. E os grandes centros? Como ficou a violência nessas localidades? A definição de grandes centros que adotamos tem por base a população total (dados do IBGE 2018): mais de 700 mil habitantes. Algumas curiosidades empíricas: (i) São Paulo é, por boa margem, a cidade grande mais segura do país; (ii) o Rio de Janeiro, apesar de tanto noticiário, não está assim tão péssimo na fita; (iii) Porto Alegre é perigosíssima e (iv) as capitais dos estados do nordeste são todas extremamente violentas. Fica claro que não existe algo que possa ser corretamente chamado de “violência no Brasil”. Fortaleza e São Paulo estão ambas no Brasil! Violência é um fenômeno muito localizado. Até dentro de um mesmo estado da federação, a variabilidade é bem alta, como se vê na figura abaixo, em que os municípios de cada estado estão distribuídos no eixo x de acordo com sua taxa de homicídios. Voltaremos ao tema, para discutir possíveis soluções. Nenhuma, no entanto, é bala de prata. PUBLICADO NA FOLHA DE S. PAULO   Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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