Uma plataforma que vai te ajudar a entender um pouco mais de economia.

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Wladimir Costa (foto), o deputado que tatuou Temer no ombro, foi flagrado no WhatsApp durante a votação da abertura de processo criminal contra o presidente pedindo a alguém do outro lado do aplicativo o seguinte: “Mostra tua bunda, mostra, afinal não são suas profissões que te destacam como mulher, é a sua bunda”.

Asqueroso e deprimente é pouco. Como é possível uma pessoa desse nível representar verdadeiramente os anseios da população – além dos seus próprios - no parlamento com p minúsculo?

Claro que a culpa é nossa, pois Wladimir não tomou a cadeira pela força. Mas não somos os únicos culpados. O sistema eleitoral vigente no Brasil dá uma bela contribuição para a eleição de delinquentes, de gente despreparada e de interesseiros. Urge reformá-lo.

Nosso sistema é o de voto proporcional. E funciona assim: o candidato compete por votos de um estado inteiro. Vejamos o caso de São Paulo, com 70 representantes no Congresso. Os candidatos são listados do mais votado para o menos, e os 70 mais votados no estado inteiro ganham uma cadeira em Brasília. Tiririca, recordista em 2010, recebeu 6% do total dos votos. Normalmente um cara que recebe 2% dos votos está lá nas cabeças. Parece muito pouco? É porque é muito pouco mesmo. Veja só: se o recordista arrebanha 6% e o segundo colocado uns 4%, ainda sobraram 90% dos votos para as 68 cadeiras restantes, certo? Suponha, para facilitar a conta, que esses sejam distribuídos de modo igual. O resultado é que os outros 68 se elegem com 1,3% dos votos. É justamente por isso que você vê uns mil caras se candidatando: afinal, se basta conseguir uma parcela ínfima do eleitorado para se eleger, por que não tentar?

Daí se originam dois problemões. Primeiro: a campanha sai necessariamente cara porque o sujeito tem que percorrer todo um estado atrás de votos, encontrar centenas de prefeitos, etc. E campanha cara chama você já sabe o quê: corrupção. Segundo: o elevadíssimo número de candidatos confunde muito a cabeça do eleitor; você vê mil caras falando na TV por 3 segundos e a partir disso precisa escolher. Dureza. Não é à toa que quase ninguém lembra em quem votou. Terceiro: essa estrutura facilita muito a vida de políticos ruins com plataformas voltadas para pequenos grupos. Vejamos por que com um exemplinho.

Se no eleitorado do estado X há 1,5% de pessoas de olhos cor-de-rosa, qual a melhor estratégia para um candidato se eleger? Caso seja picareta, ele pode se lançar com a plataforma de lutar por um subsídio para o colírio específico que trata inflamações em pupilas de tão bela cor. E terminará eleito, digamos que com 1,3% dos votos. Mas veja esse número sob outro ângulo: ainda que 98,7% do eleitorado julgue o candidato muito fraco e oportunista, esses serão incapazes de barrar a eleição do sujeito. Com 98,7% de rejeição! Não é absolutamente incrível?

No voto distrital isso não ocorre, por construção. A diferença é a seguinte: o sistema é majoritário e restrito geograficamente.

Usando São Paulo como exemplo, teríamos o estado fatiado em 70 distritos geográficos, delineados de modo a manter a proporcionalidade da população: distritos geograficamente maiores para áreas menos populosas, e menores para áreas mais adensadas. Nesse sistema o candidato concorre por um dado distrito, não por 70, e a eleição é majoritária dentro de cada distrito, não proporcional. Em outras palavras, ganha quem receber mais votos e ponto final. Ou, num modelo alternativo que visa aumentar a concorrência dentro do distrito, os dois primeiros colocados (nesse caso o número de distritos deixaria de ser 70 para ser 35). Mais ninguém além do mais votado (ou dos dois mais votados).

Só para começar, o número de candidatos despenca. Os picaretas têm suas chances muito reduzidas nesse tipo de arranjo, e nem sequer participam. O cara do colírio, veja você, nunca vai se eleger com os 1,3% dos votos do seu grupo de apoio. Ele agora precisa ter a maioria dos votos daquele distrito, 1,3% não chega nem perto! Note o que isso implica: que a sua plataforma, muito estreita em abrangência, não funcionará; ele precisa agora agradar diferentes grupos de pessoas para se eleger. Só com subsídio para o colírio não vai rolar. Um político com elevada rejeição não tem como ganhar numa eleição distrital. Mais uma vez, o voto é majoritário, ele precisa arrebanhar a maioria. Numa eleição com uns dez candidatos por distrito, o cara para vencer vai precisar de uns 30% dos votos. Se 98,5% das pessoas o acharem um baita picareta, não tem como ele se eleger.

A eleição distrital é mais barata, porque circunscrita geograficamente. Isso ajuda a reduzir corrupção via caixa 2. Não resolve, mas altera os incentivos na direção correta. Além disso, o monitoramento melhora. O deputado agora é seu vizinho, ou seja, é mais fácil você cruzar com ele na padaria no sábado e dizer que não gostou do jeito que ele votou: o monitoramento é muito mais efetivo. E como o número de candidatos por distrito é bem menor, você pode se informar de modo mais produtivo sobre cada um deles. Em vez de mil, você precisará olhar o currículo de 10 apenas.

A mãe de todas as reformas é a política, e a única que vemos como realmente revolucionária tem como ingrediente principal o voto distrital. Claro, falta combinar com os russos.

 

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Por que adotar o voto distrital no Brasil?

wladimir-costa-tatuagem Wladimir Costa (foto), o deputado que tatuou Temer no ombro, foi flagrado no WhatsApp durante a votação da abertura de processo criminal contra o presidente pedindo a alguém do outro lado do aplicativo o seguinte: “Mostra tua bunda, mostra, afinal não são suas profissões que te destacam como mulher, é a sua bunda”. Asqueroso e deprimente é pouco. Como é possível uma pessoa desse nível representar verdadeiramente os anseios da população – além dos seus próprios - no parlamento com p minúsculo? Claro que a culpa é nossa, pois Wladimir não tomou a cadeira pela força. Mas não somos os únicos culpados. O sistema eleitoral vigente no Brasil dá uma bela contribuição para a eleição de delinquentes, de gente despreparada e de interesseiros. Urge reformá-lo. Nosso sistema é o de voto proporcional. E funciona assim: o candidato compete por votos de um estado inteiro. Vejamos o caso de São Paulo, com 70 representantes no Congresso. Os candidatos são listados do mais votado para o menos, e os 70 mais votados no estado inteiro ganham uma cadeira em Brasília. Tiririca, recordista em 2010, recebeu 6% do total dos votos. Normalmente um cara que recebe 2% dos votos está lá nas cabeças. Parece muito pouco? É porque é muito pouco mesmo. Veja só: se o recordista arrebanha 6% e o segundo colocado uns 4%, ainda sobraram 90% dos votos para as 68 cadeiras restantes, certo? Suponha, para facilitar a conta, que esses sejam distribuídos de modo igual. O resultado é que os outros 68 se elegem com 1,3% dos votos. É justamente por isso que você vê uns mil caras se candidatando: afinal, se basta conseguir uma parcela ínfima do eleitorado para se eleger, por que não tentar? Daí se originam dois problemões. Primeiro: a campanha sai necessariamente cara porque o sujeito tem que percorrer todo um estado atrás de votos, encontrar centenas de prefeitos, etc. E campanha cara chama você já sabe o quê: corrupção. Segundo: o elevadíssimo número de candidatos confunde muito a cabeça do eleitor; você vê mil caras falando na TV por 3 segundos e a partir disso precisa escolher. Dureza. Não é à toa que quase ninguém lembra em quem votou. Terceiro: essa estrutura facilita muito a vida de políticos ruins com plataformas voltadas para pequenos grupos. Vejamos por que com um exemplinho. Se no eleitorado do estado X há 1,5% de pessoas de olhos cor-de-rosa, qual a melhor estratégia para um candidato se eleger? Caso seja picareta, ele pode se lançar com a plataforma de lutar por um subsídio para o colírio específico que trata inflamações em pupilas de tão bela cor. E terminará eleito, digamos que com 1,3% dos votos. Mas veja esse número sob outro ângulo: ainda que 98,7% do eleitorado julgue o candidato muito fraco e oportunista, esses serão incapazes de barrar a eleição do sujeito. Com 98,7% de rejeição! Não é absolutamente incrível? No voto distrital isso não ocorre, por construção. A diferença é a seguinte: o sistema é majoritário e restrito geograficamente. Usando São Paulo como exemplo, teríamos o estado fatiado em 70 distritos geográficos, delineados de modo a manter a proporcionalidade da população: distritos geograficamente maiores para áreas menos populosas, e menores para áreas mais adensadas. Nesse sistema o candidato concorre por um dado distrito, não por 70, e a eleição é majoritária dentro de cada distrito, não proporcional. Em outras palavras, ganha quem receber mais votos e ponto final. Ou, num modelo alternativo que visa aumentar a concorrência dentro do distrito, os dois primeiros colocados (nesse caso o número de distritos deixaria de ser 70 para ser 35). Mais ninguém além do mais votado (ou dos dois mais votados). Só para começar, o número de candidatos despenca. Os picaretas têm suas chances muito reduzidas nesse tipo de arranjo, e nem sequer participam. O cara do colírio, veja você, nunca vai se eleger com os 1,3% dos votos do seu grupo de apoio. Ele agora precisa ter a maioria dos votos daquele distrito, 1,3% não chega nem perto! Note o que isso implica: que a sua plataforma, muito estreita em abrangência, não funcionará; ele precisa agora agradar diferentes grupos de pessoas para se eleger. Só com subsídio para o colírio não vai rolar. Um político com elevada rejeição não tem como ganhar numa eleição distrital. Mais uma vez, o voto é majoritário, ele precisa arrebanhar a maioria. Numa eleição com uns dez candidatos por distrito, o cara para vencer vai precisar de uns 30% dos votos. Se 98,5% das pessoas o acharem um baita picareta, não tem como ele se eleger. A eleição distrital é mais barata, porque circunscrita geograficamente. Isso ajuda a reduzir corrupção via caixa 2. Não resolve, mas altera os incentivos na direção correta. Além disso, o monitoramento melhora. O deputado agora é seu vizinho, ou seja, é mais fácil você cruzar com ele na padaria no sábado e dizer que não gostou do jeito que ele votou: o monitoramento é muito mais efetivo. E como o número de candidatos por distrito é bem menor, você pode se informar de modo mais produtivo sobre cada um deles. Em vez de mil, você precisará olhar o currículo de 10 apenas. A mãe de todas as reformas é a política, e a única que vemos como realmente revolucionária tem como ingrediente principal o voto distrital. Claro, falta combinar com os russos.   Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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