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A diferença de desempenho entre as equipes masculina e feminina de futebol do Brasil é gritante nos Jogos Olímpicos do Rio. Elas já emplacaram duas goleadas, com raça que salta aos olhos. Mesmo o empate sem gols da terceira partida não tira a empolgação da torcida. Já os homens... Nas duas primeiras partidas, não tomaram gols, mas também não fizeram nenhum. Em dois empates por 0 a 0 contra equipes de pouca expressão, apresentaram futebol sofrível.

Outra diferença absurda está entre os salários de jogadores e jogadoras de futebol, só que no sentido contrário. Os mesmos homens que representam a pior fase do futebol brasileiro na história ganham salários milionários, são badalados e tratados como superstars. As mulheres estão muito, mas muito longe desse padrão.

Injusto, certo? Como Marta e companhia jogam bem mais bola e, mesmo assim, ganham um salário bem mais baixo que o de Neymar e sua patota?

Antes de tudo, precisamos entender o porquê de jogadores homens ganharem salários tão altos. Pense nos atletas como funcionários de empresas com habilidades especiais e muito produtivos. As equipes de futebol são essas empresas; os clientes são torcedores e admiradores do futebol em geral.

Quanto melhor a qualidade do jogo (e, logo, as chances de ganhar títulos), mais gente quer assistir partidas de futebol, no estádio ou pela TV. Se o espetáculo agrada, pode-se cobrar mais caro por ingressos e por direitos de transmissão; mais companhias querem associar suas marcas a clubes e jogadores, o que aumenta o preço das cotas de patrocínio; e mais produtos ligados à imagem do time e dos jogadores são comerciados. Qual o resultado disso tudo? Uma equipe mais rentável.

É essa perspectiva de lucratividade que faz com que os clubes estejam dispostos a gastar milhões e milhões com os melhores talentos. Daí os salários altíssimos que observamos para jogadores de futebol nos melhores clubes do país e do mundo.

Mas e as jogadoras, as mulheres? Não contribuem decisivamente para o desempenho de suas equipes? Não deveriam, portanto, ganhar tão bem quanto os homens?

Explicação econômica: muito mais gente acompanha futebol masculino do que o feminino, assim, o tamanho do mercado do futebol masculino é muito maior, bem como o retorno trazido para quem participa desse mercado. Nessas condições, o impacto de um jogador do sexo masculino na lucratividade de seu clube é bastante superior ao de uma jogadora mulher.

Digamos que Marta aumente as chances de seu clube vencer um campeonato em incríveis 100%; e que Neymar aumente as chances de seu clube em apenas 10%. Ainda assim, o impacto de Neymar no lucro do empregador seria certamente maior.

Por quê?

Como dissemos, o mercado para o futebol masculino é muito maior, hoje, que o mercado para o feminino. E, sendo assim, em dinheiro vivo, os 10% que Neymar traz em retorno são bem maiores que os 100% de Marta.

Mas por que existe essa diferença de tamanho de mercado?

A maioria das pessoas ao redor do mundo prefere acompanhar homens correndo atrás da bola a mulheres. Clubes de futebol (lembre-se: empresas!) respondem a essa preferência pagando salários mais altos a homens em vez de a mulheres.

A mídia faz o mesmo: a cobertura do futebol masculino nem se compara a dedicada às mulheres. Isso explica as cotas de patrocínio astronômicas pagas aos times masculinos.

Como diminuir a diferença salarial de homens e mulheres no futebol?

Pessoas do mundo inteiro precisam ser persuadidas a acompanhar o futebol feminino não só nas Olimpíadas, mas também ao longo do hiato de quatro anos que separam as edições dos Jogos – assim como é feito em relação ao futebol masculino. Isso motivaria emissoras de TV a transmitirem mais campeonatos; atrairia novos patrocinadores; e a prática profissional do futebol entre mulheres seria mais rentável.

Sob as lentes do raciocínio econômico, esse é o incentivo que falta para os clubes pagarem salários estratosféricos também para as mulheres.

Uma eventual conquista do ouro pelas meninas do Brasil na Rio 2016 pode ajudar nessa missão. Pode criar o hábito em algumas pessoas de torcer mais vezes pelo futebol feminino. Isso aconteceu no vôlei, por exemplo, a partir de 1992. Com a medalha de ouro dos homens em Barcelona, a primeira do nosso esporte coletivo, cresceu nossa atenção com o esporte e a lucratividade de quem participa desse mercado.

Desconfio, no entanto, que esse efeito possa ser pequeno no caso do futebol feminino. O sucesso de nossas seleções de vôlei nos últimos tempos é enorme, mas os jogadores dessa modalidade ainda ganham muito abaixo de quem joga futebol em equipes de ponta. Algo semelhante provavelmente se passaria na comparação entre os salários do futebol feminino e masculino.

Mas não custa sonhar.

Nós do PQ? defendemos pautas feministas como esta. Buscamos, na teoria econômica, soluções factíveis para um mundo em que as mulheres ainda não são tão bem recompensadas quanto os homens pelo suor de seu trabalho.

No caso da seleção feminina de futebol do Brasil, entendemos que o público e o marketing precisam dar mais atenção para nossas atletas. Só assim a diferença salarial entre uma Marta e um Neymar – e o sentimento de injustiça que essa diferenciação acarreta – poderá diminuir.

Por que a Marta ganha menos se é melhor que o Neymar?

A diferença de desempenho entre as equipes masculina e feminina de futebol do Brasil é gritante nos Jogos Olímpicos do Rio. Elas já emplacaram duas goleadas, com raça que salta aos olhos. Mesmo o empate sem gols da terceira partida não tira a empolgação da torcida. Já os homens... Nas duas primeiras partidas, não tomaram gols, mas também não fizeram nenhum. Em dois empates por 0 a 0 contra equipes de pouca expressão, apresentaram futebol sofrível. Outra diferença absurda está entre os salários de jogadores e jogadoras de futebol, só que no sentido contrário. Os mesmos homens que representam a pior fase do futebol brasileiro na história ganham salários milionários, são badalados e tratados como superstars. As mulheres estão muito, mas muito longe desse padrão. Injusto, certo? Como Marta e companhia jogam bem mais bola e, mesmo assim, ganham um salário bem mais baixo que o de Neymar e sua patota? Antes de tudo, precisamos entender o porquê de jogadores homens ganharem salários tão altos. Pense nos atletas como funcionários de empresas com habilidades especiais e muito produtivos. As equipes de futebol são essas empresas; os clientes são torcedores e admiradores do futebol em geral. Quanto melhor a qualidade do jogo (e, logo, as chances de ganhar títulos), mais gente quer assistir partidas de futebol, no estádio ou pela TV. Se o espetáculo agrada, pode-se cobrar mais caro por ingressos e por direitos de transmissão; mais companhias querem associar suas marcas a clubes e jogadores, o que aumenta o preço das cotas de patrocínio; e mais produtos ligados à imagem do time e dos jogadores são comerciados. Qual o resultado disso tudo? Uma equipe mais rentável. É essa perspectiva de lucratividade que faz com que os clubes estejam dispostos a gastar milhões e milhões com os melhores talentos. Daí os salários altíssimos que observamos para jogadores de futebol nos melhores clubes do país e do mundo. Mas e as jogadoras, as mulheres? Não contribuem decisivamente para o desempenho de suas equipes? Não deveriam, portanto, ganhar tão bem quanto os homens? Explicação econômica: muito mais gente acompanha futebol masculino do que o feminino, assim, o tamanho do mercado do futebol masculino é muito maior, bem como o retorno trazido para quem participa desse mercado. Nessas condições, o impacto de um jogador do sexo masculino na lucratividade de seu clube é bastante superior ao de uma jogadora mulher. Digamos que Marta aumente as chances de seu clube vencer um campeonato em incríveis 100%; e que Neymar aumente as chances de seu clube em apenas 10%. Ainda assim, o impacto de Neymar no lucro do empregador seria certamente maior. Por quê? Como dissemos, o mercado para o futebol masculino é muito maior, hoje, que o mercado para o feminino. E, sendo assim, em dinheiro vivo, os 10% que Neymar traz em retorno são bem maiores que os 100% de Marta. Mas por que existe essa diferença de tamanho de mercado? A maioria das pessoas ao redor do mundo prefere acompanhar homens correndo atrás da bola a mulheres. Clubes de futebol (lembre-se: empresas!) respondem a essa preferência pagando salários mais altos a homens em vez de a mulheres. A mídia faz o mesmo: a cobertura do futebol masculino nem se compara a dedicada às mulheres. Isso explica as cotas de patrocínio astronômicas pagas aos times masculinos. Como diminuir a diferença salarial de homens e mulheres no futebol? Pessoas do mundo inteiro precisam ser persuadidas a acompanhar o futebol feminino não só nas Olimpíadas, mas também ao longo do hiato de quatro anos que separam as edições dos Jogos – assim como é feito em relação ao futebol masculino. Isso motivaria emissoras de TV a transmitirem mais campeonatos; atrairia novos patrocinadores; e a prática profissional do futebol entre mulheres seria mais rentável. Sob as lentes do raciocínio econômico, esse é o incentivo que falta para os clubes pagarem salários estratosféricos também para as mulheres. Uma eventual conquista do ouro pelas meninas do Brasil na Rio 2016 pode ajudar nessa missão. Pode criar o hábito em algumas pessoas de torcer mais vezes pelo futebol feminino. Isso aconteceu no vôlei, por exemplo, a partir de 1992. Com a medalha de ouro dos homens em Barcelona, a primeira do nosso esporte coletivo, cresceu nossa atenção com o esporte e a lucratividade de quem participa desse mercado. Desconfio, no entanto, que esse efeito possa ser pequeno no caso do futebol feminino. O sucesso de nossas seleções de vôlei nos últimos tempos é enorme, mas os jogadores dessa modalidade ainda ganham muito abaixo de quem joga futebol em equipes de ponta. Algo semelhante provavelmente se passaria na comparação entre os salários do futebol feminino e masculino. Mas não custa sonhar. Nós do PQ? defendemos pautas feministas como esta. Buscamos, na teoria econômica, soluções factíveis para um mundo em que as mulheres ainda não são tão bem recompensadas quanto os homens pelo suor de seu trabalho. No caso da seleção feminina de futebol do Brasil, entendemos que o público e o marketing precisam dar mais atenção para nossas atletas. Só assim a diferença salarial entre uma Marta e um Neymar – e o sentimento de injustiça que essa diferenciação acarreta – poderá diminuir.
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