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Foi ao som de Garota de Ipanema ("... que coisa mais linda, mais cheia de graça...") que Gisele Bündchen desfilou na abertura dos Jogos Olímpicos no Maracanã – você deve se lembrar. E enquanto o mundo parava para olhar, nós do PQ? parávamos para pensar em desigualdade de renda – acredite se quiser!

Gisele é muito rica. Não herdou milhões, conseguiu alavancar sua fortuna genética com disciplina ("Não, obrigada, não gosto de coxinha com Catupiry!") e profissionalismo, tornando-se a modelo mais bem paga do planeta. Como se já não bastassem os milhões do mundo da moda, casou-se com um dos atletas mais bem pagos do mercado esportivo: Tom Brady, do futebol americano.

Pois bem. Haveria menos concentração de renda caso Gisele se casasse com um professor, por exemplo, em vez de com um atleta milionário.

Sabe por que esse cenário alternativo parece pouco plausível? Porque não é o que você vê no dia a dia. Em boa parte das vezes, casamentos acontecem entre pessoas de condições financeiras semelhantes.

O QUE DIZEM OS DADOS?

No Brasil, isso pode ser observado nos padrões de casamento. Na comparação com homens sem diploma universitário, os que têm o terceiro grau completo são aproximadamente 7 vezes mais propensos a ter uma parceira diplomada —os números dessa conta estão no último Censo do IBGE.

O nível de educação interfere na remuneração dos trabalhadores. E o casamento entre iguais ajuda a elevar a desigualdade. Alguns estudos apontam: o matrimônio entre indivíduos cujas rendas estão em nível parecido aumentou nos países avançados (fica a sugestão para algum pesquisador descobrir se o mesmo acontece por aqui).

Essa é uma das consequências da entrada da mulher no mercado de trabalho. Nos tempos do Onça, os atributos valorizados numa mulher eram as suas qualidades como companheira e futura mãe. Hoje em dia, sua capacidade de ganhar dinheiro também entra na conta.

Não queremos voltar ao mundo de nossos avós, quando mulheres viviam à margem do mercado de trabalho. Por isso, a imagem de Gisele desfilando faz pensar sobre como políticas públicas para reduzir a desigualdade devem tomar cuidado para não prejudicar as mulheres.

Alíquotas mais altas e mais progressivas do imposto de renda reduzem a desigualdade –é verdade. Mas também incentivam as famílias a reduzir a participação feminina no mercado de trabalho.

O fato é: não há uma alavanca mágica que resolva esse problema –a economia, aliás, desconfia sempre quando a solução parecer muito "simples". Se quisermos reduzir a desigualdade econômica, não será mexendo nas escolhas de casamento das pessoas.

*Texto originalmente publicado na nossa Coluna da Folha, em 6 de setembro de 2016

Por que o casamento de Gisele Bündchen contribui para a desigualdade?

gisele-reprodução Foi ao som de Garota de Ipanema ("... que coisa mais linda, mais cheia de graça...") que Gisele Bündchen desfilou na abertura dos Jogos Olímpicos no Maracanã – você deve se lembrar. E enquanto o mundo parava para olhar, nós do PQ? parávamos para pensar em desigualdade de renda – acredite se quiser! Gisele é muito rica. Não herdou milhões, conseguiu alavancar sua fortuna genética com disciplina ("Não, obrigada, não gosto de coxinha com Catupiry!") e profissionalismo, tornando-se a modelo mais bem paga do planeta. Como se já não bastassem os milhões do mundo da moda, casou-se com um dos atletas mais bem pagos do mercado esportivo: Tom Brady, do futebol americano. Pois bem. Haveria menos concentração de renda caso Gisele se casasse com um professor, por exemplo, em vez de com um atleta milionário. Sabe por que esse cenário alternativo parece pouco plausível? Porque não é o que você vê no dia a dia. Em boa parte das vezes, casamentos acontecem entre pessoas de condições financeiras semelhantes. O QUE DIZEM OS DADOS? No Brasil, isso pode ser observado nos padrões de casamento. Na comparação com homens sem diploma universitário, os que têm o terceiro grau completo são aproximadamente 7 vezes mais propensos a ter uma parceira diplomada —os números dessa conta estão no último Censo do IBGE. O nível de educação interfere na remuneração dos trabalhadores. E o casamento entre iguais ajuda a elevar a desigualdade. Alguns estudos apontam: o matrimônio entre indivíduos cujas rendas estão em nível parecido aumentou nos países avançados (fica a sugestão para algum pesquisador descobrir se o mesmo acontece por aqui). Essa é uma das consequências da entrada da mulher no mercado de trabalho. Nos tempos do Onça, os atributos valorizados numa mulher eram as suas qualidades como companheira e futura mãe. Hoje em dia, sua capacidade de ganhar dinheiro também entra na conta. Não queremos voltar ao mundo de nossos avós, quando mulheres viviam à margem do mercado de trabalho. Por isso, a imagem de Gisele desfilando faz pensar sobre como políticas públicas para reduzir a desigualdade devem tomar cuidado para não prejudicar as mulheres. Alíquotas mais altas e mais progressivas do imposto de renda reduzem a desigualdade –é verdade. Mas também incentivam as famílias a reduzir a participação feminina no mercado de trabalho. O fato é: não há uma alavanca mágica que resolva esse problema –a economia, aliás, desconfia sempre quando a solução parecer muito "simples". Se quisermos reduzir a desigualdade econômica, não será mexendo nas escolhas de casamento das pessoas. *Texto originalmente publicado na nossa Coluna da Folha, em 6 de setembro de 2016
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