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O sistema de preços não foi inventado por um economista genial ou qualquer outra criatura mortal. Nenhuma mente poderia ter criado tal maravilha, assim como nenhuma mente poderia ter criado a diversidade da vida na Terra.

Digamos que aumente a demanda de algum produto; a carne bovina, por exemplo. Mais consumidores vão procurar comprar carne, esvaziando as prateleiras dos supermercados e açougues, que vão então encomendar mais carne dos frigoríficos; estes, por sua vez, vão buscar mais animais para o abate nas fazendas. Mas se não houver boi “sobrando” para vender, os pecuaristas receberão mais por cada cabeça. Quando o preço do boi no pasto aumenta, o efeito se transmite em cadeia para os frigoríficos e finalmente para o consumidor, que vai pagar mais caro pela carne.



Agora, vamos imaginar o mesmo processo, mas sem o aumento de preços?

Uma maior demanda por carne levaria ao esvaziamento das prateleiras nos supermercados e açougues, que então pediriam mais do produto aos frigoríficos, que, por sua vez, transmitiriam o pedido aos pecuaristas. Mas estes, na ausência de uma remuneração maior, escolheriam deixar o boi no pasto, engordando para a venda futura.

Ou seja, é o sistema de preços quem transmite o recado do consumidor para o produtor, avisando que quer consumir mais carne.

Digamos, agora, que o choque no sistema tenha ocorrido longe do consumidor. Por exemplo, o aumento nas tensões no Oriente Médio e na Venezuela diminui a oferta de petróleo no mundo. Com menos petróleo sendo produzido, logo o sistema de preços reage, e o preço do barril de petróleo aumenta em mercados internacionais. Com um petróleo mais caro, o custo de produzir gasolina e diesel também aumenta. Se deixarmos o sistema de preços funcionar, o preço no posto de gasolina sobe também.

É assim que funciona na maioria dos países avançados, inclusive nos Estados Unidos. O preço da gasolina e do diesel no posto reflete as flutuações no preço do petróleo nos mercados internacionais. No outro extremo, temos a Venezuela, onde a gasolina é praticamente doada para o consumidor a despeito do que está acontecendo mundo afora —bem como a maioria dos países pobres onde o governo subsidia uma minoria que dirige carros ao custo de negar serviços básicos à grande maioria da população.

No Brasil, até recentemente, a política de preços de derivados de petróleo tentava isolar o consumidor das flutuações internacionais. Dessa forma, quando o preço do petróleo e o custo de produzir gasolina e diesel aumentavam, a Petrobras era forçada a vender gasolina abaixo do custo, acumulando perdas para subsidiar principalmente os donos de carro no Brasil.

Há problemas em isolar o mercado interno dos preços internacionais. Primeiro, o consumidor assim não responderá ao aumento de custos que representa uma escassez real. Segundo, se a gasolina e o diesel estão sendo vendidos abaixo do custo, alguém está pagando a conta —provavelmente o cidadão pagador de impostos, mesmo aquele que vai andando para o trabalho. Nos tempos do governo Dilma, a conta ficava com a Petrobras, que acabou em posição financeira estrangulada, sem recursos para aumentar a produção ou desenvolver as reservas do pré-sal.

Caberia ao governo dizer um enfático “NÃO!” às tentativas do sistema político de regredir para a política de preços controlados para os derivados de petróleo —caminho que preferiu não seguir. É lamentável que deputados e senadores irresponsavelmente advoguem um retorno à política de preços do governo Dilma ou cortes de impostos (isto é, menos recursos para saúde, segurança e educação) para proteger o consumidor do aumento de preços internacionais do petróleo.

A crise no Oriente Médio e Venezuela provoca uma escassez real de petróleo. Precisamos que o sistema de preços funcione para que não desperdicemos esse recurso, agora ainda mais caro.

Publicado originalmente na Coluna do Por Quê? na Folha

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Por que os combustíveis estão mais caros?

O sistema de preços não foi inventado por um economista genial ou qualquer outra criatura mortal. Nenhuma mente poderia ter criado tal maravilha, assim como nenhuma mente poderia ter criado a diversidade da vida na Terra. Digamos que aumente a demanda de algum produto; a carne bovina, por exemplo. Mais consumidores vão procurar comprar carne, esvaziando as prateleiras dos supermercados e açougues, que vão então encomendar mais carne dos frigoríficos; estes, por sua vez, vão buscar mais animais para o abate nas fazendas. Mas se não houver boi “sobrando” para vender, os pecuaristas receberão mais por cada cabeça. Quando o preço do boi no pasto aumenta, o efeito se transmite em cadeia para os frigoríficos e finalmente para o consumidor, que vai pagar mais caro pela carne. Agora, vamos imaginar o mesmo processo, mas sem o aumento de preços? Uma maior demanda por carne levaria ao esvaziamento das prateleiras nos supermercados e açougues, que então pediriam mais do produto aos frigoríficos, que, por sua vez, transmitiriam o pedido aos pecuaristas. Mas estes, na ausência de uma remuneração maior, escolheriam deixar o boi no pasto, engordando para a venda futura. Ou seja, é o sistema de preços quem transmite o recado do consumidor para o produtor, avisando que quer consumir mais carne. Digamos, agora, que o choque no sistema tenha ocorrido longe do consumidor. Por exemplo, o aumento nas tensões no Oriente Médio e na Venezuela diminui a oferta de petróleo no mundo. Com menos petróleo sendo produzido, logo o sistema de preços reage, e o preço do barril de petróleo aumenta em mercados internacionais. Com um petróleo mais caro, o custo de produzir gasolina e diesel também aumenta. Se deixarmos o sistema de preços funcionar, o preço no posto de gasolina sobe também. É assim que funciona na maioria dos países avançados, inclusive nos Estados Unidos. O preço da gasolina e do diesel no posto reflete as flutuações no preço do petróleo nos mercados internacionais. No outro extremo, temos a Venezuela, onde a gasolina é praticamente doada para o consumidor a despeito do que está acontecendo mundo afora —bem como a maioria dos países pobres onde o governo subsidia uma minoria que dirige carros ao custo de negar serviços básicos à grande maioria da população. No Brasil, até recentemente, a política de preços de derivados de petróleo tentava isolar o consumidor das flutuações internacionais. Dessa forma, quando o preço do petróleo e o custo de produzir gasolina e diesel aumentavam, a Petrobras era forçada a vender gasolina abaixo do custo, acumulando perdas para subsidiar principalmente os donos de carro no Brasil. Há problemas em isolar o mercado interno dos preços internacionais. Primeiro, o consumidor assim não responderá ao aumento de custos que representa uma escassez real. Segundo, se a gasolina e o diesel estão sendo vendidos abaixo do custo, alguém está pagando a conta —provavelmente o cidadão pagador de impostos, mesmo aquele que vai andando para o trabalho. Nos tempos do governo Dilma, a conta ficava com a Petrobras, que acabou em posição financeira estrangulada, sem recursos para aumentar a produção ou desenvolver as reservas do pré-sal. Caberia ao governo dizer um enfático “NÃO!” às tentativas do sistema político de regredir para a política de preços controlados para os derivados de petróleo —caminho que preferiu não seguir. É lamentável que deputados e senadores irresponsavelmente advoguem um retorno à política de preços do governo Dilma ou cortes de impostos (isto é, menos recursos para saúde, segurança e educação) para proteger o consumidor do aumento de preços internacionais do petróleo. A crise no Oriente Médio e Venezuela provoca uma escassez real de petróleo. Precisamos que o sistema de preços funcione para que não desperdicemos esse recurso, agora ainda mais caro. Publicado originalmente na Coluna do Por Quê? na Folha Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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