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O governo brasileiro parece um tanto perdido na questão dos caminhoneiros. Compreensível, dado que ninguém quer passar por uma nova greve. Mas as ações do governo estão gerando mais problemas do que apresentando soluções.

O primeiro problema foi  a interferência do Executivo na política de preços da Petrobras. A empresa anunciou inicialmente um aumento pesado, de mais de 5%, no diesel, porém, diante da  intervenção do presidente, acabou voltando atrás. O aumento era necessário, pois o preço do petróleo internacional e o dólar estavam em alta. A decisão de não reajustar derrubaria a lucratividade da empresa, que ainda se recupera do desastre sofrido nos governos petistas.

A ação de Bolsonaro lembrou muito as interferências do governo Dilma, que represou o preço dos combustíveis para segurar a inflação. A antecipação do retorno desse cenário levou a uma queda brutal nos preços das ações da Petrobras, logo após a empresa desistir do reajuste.

Alguns dias depois, a decisão foi revertida e a empresa pôde realizar o aumento. O estrago, porém, já tinha ocorrido. O que garante que o governo não interferirá novamente ? Essa perspectiva espanta investimentos na empresa, que precisa deles para se reerguer.

Talvez como forma de compensação, o governo fez um aceno aos caminhoneiros ao garantir-lhes crédito via BNDES. Isso, entretanto, só posterga o problema.

Na primeira metade da década de 2010, presenciamos uma explosão do tamanho do BNDES na economia, concedendo crédito a taxas subsidiadas. Aquisições de caminhões não ficaram de fora dessa farra.

Veja o gráfico abaixo, que apresenta o valor dos financiamentos do BNDES para caminhões, em milhões de reais de 2015. Os desembolsos já vinham crescendo ao longo da década passada, porém mais que duplicaram entre 2009 e 2010, permanecendo nesse patamar mais elevado até 2015.



Taxas de juros para esse tipo de financiamento foram também reduzidas substancialmente, como pode ser visto no gráfico a seguir. Depois de levar em conta a inflação (isto é, a taxa real), os juros chegaram a ficar negativos nos primeiros anos da década. Os dados de valor financiado e juros podem ser obtidos aqui.



O crédito barato possibilitou a expansão da frota, mas contribuiu para a queda nos preços do frete, fator que está por trás da insatisfação dos caminhoneiros. O desempenho ruim da economia brasileira certamente ajudou a complicar o caldo ao reduzir a demanda por transporte de carga.

A baixa lucratividade no setor é um indicador de que temos um excesso de caminhões no mercado. Com o tempo, alguns caminhoneiros simplesmente optariam por sair do negócio, o que  ajudaria a aliviar a queda no preço do frete ao longo do tempo.

Ao conceder mais crédito, o governo possibilita que muitos caminhoneiros continuem operando,  mantendo sua lucratividade em um patamar artificial. O resultado é que muitos caminhões continuam rodando e, consequentemente,  o frete continua no chão.

Como dito, a solução do problema passa pela diminuição do número de caminhões. Mas, para que isso aconteça,   a lucratividade dos caminhoneiros teria que cair a um ponto em que abririam mão da ocupação. Ou seja, seria um baque enorme para várias pessoas.

Se o governo deseja ajudar os caminhoneiros, deveria buscar alternativas para suavizar essa transição. Por exemplo, usando o crédito para recomprar (e tirar de circulação) caminhões mais velhos. Ajudaria inclusive a reduzir a poluição e melhorar o meio ambiente.

 

Obs: Para ajustar juros e valores pela inflação, utilizamos o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE.

 

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Por que precisamos de menos caminhões?

O governo brasileiro parece um tanto perdido na questão dos caminhoneiros. Compreensível, dado que ninguém quer passar por uma nova greve. Mas as ações do governo estão gerando mais problemas do que apresentando soluções. O primeiro problema foi  a interferência do Executivo na política de preços da Petrobras. A empresa anunciou inicialmente um aumento pesado, de mais de 5%, no diesel, porém, diante da  intervenção do presidente, acabou voltando atrás. O aumento era necessário, pois o preço do petróleo internacional e o dólar estavam em alta. A decisão de não reajustar derrubaria a lucratividade da empresa, que ainda se recupera do desastre sofrido nos governos petistas. A ação de Bolsonaro lembrou muito as interferências do governo Dilma, que represou o preço dos combustíveis para segurar a inflação. A antecipação do retorno desse cenário levou a uma queda brutal nos preços das ações da Petrobras, logo após a empresa desistir do reajuste. Alguns dias depois, a decisão foi revertida e a empresa pôde realizar o aumento. O estrago, porém, já tinha ocorrido. O que garante que o governo não interferirá novamente ? Essa perspectiva espanta investimentos na empresa, que precisa deles para se reerguer. Talvez como forma de compensação, o governo fez um aceno aos caminhoneiros ao garantir-lhes crédito via BNDES. Isso, entretanto, só posterga o problema. Na primeira metade da década de 2010, presenciamos uma explosão do tamanho do BNDES na economia, concedendo crédito a taxas subsidiadas. Aquisições de caminhões não ficaram de fora dessa farra. Veja o gráfico abaixo, que apresenta o valor dos financiamentos do BNDES para caminhões, em milhões de reais de 2015. Os desembolsos já vinham crescendo ao longo da década passada, porém mais que duplicaram entre 2009 e 2010, permanecendo nesse patamar mais elevado até 2015. Taxas de juros para esse tipo de financiamento foram também reduzidas substancialmente, como pode ser visto no gráfico a seguir. Depois de levar em conta a inflação (isto é, a taxa real), os juros chegaram a ficar negativos nos primeiros anos da década. Os dados de valor financiado e juros podem ser obtidos aqui. O crédito barato possibilitou a expansão da frota, mas contribuiu para a queda nos preços do frete, fator que está por trás da insatisfação dos caminhoneiros. O desempenho ruim da economia brasileira certamente ajudou a complicar o caldo ao reduzir a demanda por transporte de carga. A baixa lucratividade no setor é um indicador de que temos um excesso de caminhões no mercado. Com o tempo, alguns caminhoneiros simplesmente optariam por sair do negócio, o que  ajudaria a aliviar a queda no preço do frete ao longo do tempo. Ao conceder mais crédito, o governo possibilita que muitos caminhoneiros continuem operando,  mantendo sua lucratividade em um patamar artificial. O resultado é que muitos caminhões continuam rodando e, consequentemente,  o frete continua no chão. Como dito, a solução do problema passa pela diminuição do número de caminhões. Mas, para que isso aconteça,   a lucratividade dos caminhoneiros teria que cair a um ponto em que abririam mão da ocupação. Ou seja, seria um baque enorme para várias pessoas. Se o governo deseja ajudar os caminhoneiros, deveria buscar alternativas para suavizar essa transição. Por exemplo, usando o crédito para recomprar (e tirar de circulação) caminhões mais velhos. Ajudaria inclusive a reduzir a poluição e melhorar o meio ambiente.   Obs: Para ajustar juros e valores pela inflação, utilizamos o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE.   Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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