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O Brasil está na segunda divisão mundial da produção de ciência e tecnologia. Até aí, nada novo. A baixa qualidade da educação, afinal, não deixa espaço para surpresas. Mas a crise torna esse quadro ainda mais agudo. Há uma potencial perda de talentos em curso, motivada pela busca de melhores condições de trabalho no exterior.

Mostra recente desse efeito é o caso da professora Suzana Herculano-Houzel. Ela anunciou que partiria para os Estados Unidos em busca de oportunidades melhores e o caso ganhou forte repercussão na internet. Suzana é pesquisadora, respeitada mundialmente por seu trabalho com Neurociência, e está migrando da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para a Vanderbilt University, em Nashville, Tennessee.

A saída de indivíduos com alto nível educacional de países pobres para ricos é um fenômeno bem documentado na literatura acadêmica de economia. Trata-se da chamada “fuga de cérebros” ou “de talentos”.

Evidentemente, o efeito disso é ruim para o país que perde trabalhadores. Economias mais pobres, em situações normais, já se defrontam com escassez de mão de obra qualificada. A saída dessa turma, portanto, agrava o problema. Ora, nesses lugares já há relativamente poucos médicos, engenheiros, cientistas, etc. E se, dentre esses profissionais, os melhores passam a escolher o exterior?

Mas há também desdobramentos positivos associados à ida de pessoas para o exterior. Em particular, elas podem estabelecer uma rede de contatos que ajudaria outros profissionais em seu país de origem. Entre os acadêmicos brasileiros isso é bem evidente: profissionais empregados lá fora ajudam a “fazer a ponte” entre universidades do país de origem e instituições de prestígio internacional.

Há outro efeito benéfico esperado, sobretudo numa crise como nossa. O exterior oferece opções adicionais de trabalho justamente quando elas estão escassas por aqui. Dessa forma, a consequência da perda de emprego e renda podem ser menores para pessoas com nível educacional elevado, já que essas pessoas podem migrar para países mais bem estabilizados.

Infelizmente, essa chance não está disponível para todo mundo. Em geral, países desenvolvidos aceitam imigrantes de alto nível educacional (e até os incentivam a migrar), mas colocam pesadas barreiras ao recebimento de pessoas com nível educacional mais baixo. Os menos qualificadas também tendem a ser mais pobres.

Além disso, há um custo considerável em migrar, a começar pela passagem aérea e a instalação no novo país. Sem falar na barreira da língua, o que torna essa alternativa ainda mais custosa para os pobres.

Esse canal mostra que os mais ricos têm mais possibilidades de proteção contra choques como a crise brasileira. Já os pobres têm menos acesso a essas oportunidades, logo, têm mais chances de sofrer mais. Ou seja, podemos ainda não saber o efeito exato da crise sobre a desigualdade no Brasil, mas o estrago, ao que tudo indica, será grande.


 

Por que "fuga de cérebros" ameaça o Brasil?

O Brasil está na segunda divisão mundial da produção de ciência e tecnologia. Até aí, nada novo. A baixa qualidade da educação, afinal, não deixa espaço para surpresas. Mas a crise torna esse quadro ainda mais agudo. Há uma potencial perda de talentos em curso, motivada pela busca de melhores condições de trabalho no exterior. Mostra recente desse efeito é o caso da professora Suzana Herculano-Houzel. Ela anunciou que partiria para os Estados Unidos em busca de oportunidades melhores e o caso ganhou forte repercussão na internet. Suzana é pesquisadora, respeitada mundialmente por seu trabalho com Neurociência, e está migrando da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para a Vanderbilt University, em Nashville, Tennessee. A saída de indivíduos com alto nível educacional de países pobres para ricos é um fenômeno bem documentado na literatura acadêmica de economia. Trata-se da chamada “fuga de cérebros” ou “de talentos”. Evidentemente, o efeito disso é ruim para o país que perde trabalhadores. Economias mais pobres, em situações normais, já se defrontam com escassez de mão de obra qualificada. A saída dessa turma, portanto, agrava o problema. Ora, nesses lugares já há relativamente poucos médicos, engenheiros, cientistas, etc. E se, dentre esses profissionais, os melhores passam a escolher o exterior? Mas há também desdobramentos positivos associados à ida de pessoas para o exterior. Em particular, elas podem estabelecer uma rede de contatos que ajudaria outros profissionais em seu país de origem. Entre os acadêmicos brasileiros isso é bem evidente: profissionais empregados lá fora ajudam a “fazer a ponte” entre universidades do país de origem e instituições de prestígio internacional. Há outro efeito benéfico esperado, sobretudo numa crise como nossa. O exterior oferece opções adicionais de trabalho justamente quando elas estão escassas por aqui. Dessa forma, a consequência da perda de emprego e renda podem ser menores para pessoas com nível educacional elevado, já que essas pessoas podem migrar para países mais bem estabilizados. Infelizmente, essa chance não está disponível para todo mundo. Em geral, países desenvolvidos aceitam imigrantes de alto nível educacional (e até os incentivam a migrar), mas colocam pesadas barreiras ao recebimento de pessoas com nível educacional mais baixo. Os menos qualificadas também tendem a ser mais pobres. Além disso, há um custo considerável em migrar, a começar pela passagem aérea e a instalação no novo país. Sem falar na barreira da língua, o que torna essa alternativa ainda mais custosa para os pobres. Esse canal mostra que os mais ricos têm mais possibilidades de proteção contra choques como a crise brasileira. Já os pobres têm menos acesso a essas oportunidades, logo, têm mais chances de sofrer mais. Ou seja, podemos ainda não saber o efeito exato da crise sobre a desigualdade no Brasil, mas o estrago, ao que tudo indica, será grande.  
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