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Argumentos protecionistas sempre aparecem no debate sobre políticas públicas, especialmente envolvendo a defesa de empregos ameaçados pela competição externa. Donald Trump se elegeu presidente dos Estados Unidos com essa bandeira. E vem honrando suas promessas, com aumentos de tarifas substanciais em determinados setores (como alumínio, aço, máquinas de lavar e painéis solares), com vistas a elevar o preço de produtos importados. Políticas comerciais tão restritivas não eram vistas desde os anos 1930 nos Estados Unidos, e acabaram desencadeando retaliações de países parceiros e uma guerra comercial com a China.

É importante ter em mente que essas políticas têm custos que incidem sobre milhões de consumidores, os quais passam a pagar preços mais altos e a ter acesso a menor variedade de produto. Isso vale não apenas para o consumidor final, mas também para empresas que usam tais bens como insumos, podendo provocar perda de eficiência para a economia.

Em teoria, esse custo poderia ser mitigado para a economia americana, por conta de seu tamanho. Sendo um país muito grande, os Estados Unidos conseguem afetar os preços dos produtos importados no mercado mundial. Uma tarifa que reduz as compras externas do país pode derrubar os preços desses produtos nos países de origem. Isso acabaria empurrando parte da conta para os parceiros comerciais. Dependendo do caso, os Estados Unidos poderiam até sair ganhando com as restrições comerciais.

Empiricamente, entretanto, esse efeito é negligenciável. Dois artigos acadêmicos recentes examinam o impacto das tarifas de Trump sobre preços dos produtos nos Estados Unidos (veja aqui aqui). Os autores verificam que os preços ao consumidor americano subiram na mesma proporção do aumento das tarifas, e preços internacionais quase não se mexeram. Em outras palavras, consumidores americanos pagaram por todo o custo da política comercial.

Lógico, tem gente que ganha com as tarifas de Trump —por exemplo, empresários e trabalhadores especializados dos setores protegidos. Além disso, essas indústrias passam a produzir mais, elevando a demanda por trabalhadores– o que beneficia quem mora nos lugares em que elas estão situadas. E o governo passa a arrecadar mais com a elevação do imposto sobre importados.

Mas a evidência sugere que as perdas superam os ganhos. Seria mais barato para a economia simplesmente transferir fundos (financiados por impostos) para regiões e trabalhadores prejudicados pela competição externa do que lançar mão de tarifas para proteger a renda deles.

Há um efeito perverso adicional: os parceiros comerciais não ficaram parados. Também recorreram à proteção contra produtos americanos como retaliação. Isso prejudica setores exportadores, que justamente tendem a ser mais produtivos, incluindo trabalhadores que neles atuam e regiões em que se situam. Produtos agrícolas são um bom exemplo.

No fim, isso afetou negativamente também os parceiros que fizeram a retaliação, pois seus consumidores passaram a pagar preços mais elevados. Como no caso americano, não há evidência de que conseguiram baixar os preços dos produtos exportados pelos Estados Unidos.

Os efeitos, todavia, não são homogêneos. E há uma correlação interessante com o resultado da eleição que levou Trump à Casa Branca. Em particular, tarifas subiram mais, em média, para os produtos das regiões com votação mais apertada entre Trump e Clinton. Nesse caso, a promessa de proteção pode ter ajudado Trump a vencer em muitos condados que estavam em aberto.

No entanto, justamente os condados fortemente republicanos foram os que mais perderam em média com a política, pois seus produtos foram alvo de retaliação de parceiros comerciais – como as regiões rurais do Meio Oeste, que são fortemente agrícolas.

A discussão de política comercial quase sempre se concentra nos empregos gerados e perdidos. Mas essa  é só parte da história. Em geral, não se fala dos efeitos sobre consumidores e reações de parceiros comerciais. Isso precisa entrar na conta.

COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE S.PAULO

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Argumentos protecionistas sempre aparecem no debate sobre políticas públicas, especialmente envolvendo a defesa de empregos ameaçados pela competição externa. Donald Trump se elegeu presidente dos Estados Unidos com essa bandeira. E vem honrando suas promessas, com aumentos de tarifas substanciais em determinados setores (como alumínio, aço, máquinas de lavar e painéis solares), com vistas a elevar o preço de produtos importados. Políticas comerciais tão restritivas não eram vistas desde os anos 1930 nos Estados Unidos, e acabaram desencadeando retaliações de países parceiros e uma guerra comercial com a China. É importante ter em mente que essas políticas têm custos que incidem sobre milhões de consumidores, os quais passam a pagar preços mais altos e a ter acesso a menor variedade de produto. Isso vale não apenas para o consumidor final, mas também para empresas que usam tais bens como insumos, podendo provocar perda de eficiência para a economia. Em teoria, esse custo poderia ser mitigado para a economia americana, por conta de seu tamanho. Sendo um país muito grande, os Estados Unidos conseguem afetar os preços dos produtos importados no mercado mundial. Uma tarifa que reduz as compras externas do país pode derrubar os preços desses produtos nos países de origem. Isso acabaria empurrando parte da conta para os parceiros comerciais. Dependendo do caso, os Estados Unidos poderiam até sair ganhando com as restrições comerciais. Empiricamente, entretanto, esse efeito é negligenciável. Dois artigos acadêmicos recentes examinam o impacto das tarifas de Trump sobre preços dos produtos nos Estados Unidos (veja aqui aqui). Os autores verificam que os preços ao consumidor americano subiram na mesma proporção do aumento das tarifas, e preços internacionais quase não se mexeram. Em outras palavras, consumidores americanos pagaram por todo o custo da política comercial. Lógico, tem gente que ganha com as tarifas de Trump —por exemplo, empresários e trabalhadores especializados dos setores protegidos. Além disso, essas indústrias passam a produzir mais, elevando a demanda por trabalhadores– o que beneficia quem mora nos lugares em que elas estão situadas. E o governo passa a arrecadar mais com a elevação do imposto sobre importados. Mas a evidência sugere que as perdas superam os ganhos. Seria mais barato para a economia simplesmente transferir fundos (financiados por impostos) para regiões e trabalhadores prejudicados pela competição externa do que lançar mão de tarifas para proteger a renda deles. Há um efeito perverso adicional: os parceiros comerciais não ficaram parados. Também recorreram à proteção contra produtos americanos como retaliação. Isso prejudica setores exportadores, que justamente tendem a ser mais produtivos, incluindo trabalhadores que neles atuam e regiões em que se situam. Produtos agrícolas são um bom exemplo. No fim, isso afetou negativamente também os parceiros que fizeram a retaliação, pois seus consumidores passaram a pagar preços mais elevados. Como no caso americano, não há evidência de que conseguiram baixar os preços dos produtos exportados pelos Estados Unidos. Os efeitos, todavia, não são homogêneos. E há uma correlação interessante com o resultado da eleição que levou Trump à Casa Branca. Em particular, tarifas subiram mais, em média, para os produtos das regiões com votação mais apertada entre Trump e Clinton. Nesse caso, a promessa de proteção pode ter ajudado Trump a vencer em muitos condados que estavam em aberto. No entanto, justamente os condados fortemente republicanos foram os que mais perderam em média com a política, pois seus produtos foram alvo de retaliação de parceiros comerciais – como as regiões rurais do Meio Oeste, que são fortemente agrícolas. A discussão de política comercial quase sempre se concentra nos empregos gerados e perdidos. Mas essa  é só parte da história. Em geral, não se fala dos efeitos sobre consumidores e reações de parceiros comerciais. Isso precisa entrar na conta. COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE S.PAULO Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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