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Os dados de emprego no Brasil continuam desanimadores. Na última edição da PNAD contínua, que contempla o trimestre novembro-dezembro-janeiro, a taxa de desemprego ficou em 12%. Aumentou em relação ao trimestre anterior, em que era 11,7%.

Na verdade, a comparação com o trimestre anterior não faz muito sentido, pois as estatísticas de desemprego têm sazonalidade, ou seja, todo ano apresentam subidas e descidas mais ou menos previsíveis. Por causa disso, o correto é contrastar com o mesmo período do ano anterior. E, nessa comparação, a taxa de desemprego apresenta uma pequena queda, de 12,2% para 12%.

A tendência, de modo geral, é de uma redução bem lenta no desemprego.

O presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar as estatísticas de desemprego apresentadas pelo IBGE. Já havia feito isso antes de tomar posse. O presidente tem razão ao salientar que a taxa de desemprego não oferece uma visão satisfatória das condições do mercado de trabalho. Entretanto, o IBGE emprega uma metodologia adotada internacionalmente, que inclui não apenas a taxa de desemprego para caracterizar esse mercado.

Uma das preocupações levantadas por Bolsonaro é a de que, se há uma pessoa que não tem emprego, mas que também não está procurando, ela não é considerada desempregada pelo IBGE. De fato, no cálculo da taxa de desemprego (ou desocupação), consideram-se apenas as pessoas que estão na força de trabalho, isto é, aquelas que se encontram empregadas, e aquelas que não têm emprego, mas que estão buscando. Se um indivíduo não tem emprego e não está procurando, ele está fora da força de trabalho.

Dessa forma, a estatística exclui os chamados desalentados, isto é, quem desistiu de procurar trabalho. Esse contingente de pessoas pode crescer significativamente caso as condições no mercado de trabalho se deteriorem. Diante de uma perspectiva muito ruim de arranjar emprego, muitas pessoas podem simplesmente decidir que nem vale a pena procurar.

Isso contribuiria para reduzir a força de trabalho, não refletindo o quão adverso está o mercado.

Essa definição de desemprego pode ainda mascarar uma melhora na economia. Isso aconteceria se várias pessoas, ao perceberem uma chance maior de arrumarem trabalho, deixassem a situação de desalento e passassem a procurar emprego. Como elas não encontram emprego imediatamente, passariam a integrar o conjunto de desempregados. Dependendo de quão forte for esse movimento, a taxa de desemprego poderia até subir temporariamente.

https://youtu.be/47ekQvHYdd8

O IBGE, contudo, usa outras estatísticas que, em conjunto com a taxa de desemprego, podem nos dar uma visão mais ampla do mercado de trabalho. Elas captam alterações justamente nessa margem de desalento. É o caso da taxa de subutilização da força de trabalho.

Ela considera o conceito de força de trabalho ampla, que inclui também indivíduos sem emprego e que não estão procurando trabalho, mas que aceitariam um emprego se tivessem a oportunidade. Trabalhadores desalentados cairiam nessa categoria. A força de trabalho ampla incorpora também pessoas que trabalharam um número insuficiente de horas para ingressar nas estatísticas usuais de emprego/desemprego.

A taxa de subutilização é a fração de indivíduos sem emprego (ou com horas insuficientes) na força de trabalho ampla.

Não faz sentido afirmar que a taxa de desemprego é uma farsa, como disse o presidente Bolsonaro. Ela é informativa sobre as condições do mercado de trabalho, mas muitas vezes não nos traz uma descrição completa. O uso dela em conjunto com estatísticas alternativas (como a taxa de subutilização) ajuda a mitigar esse problema.

Felizmente, o IBGE já calcula esses indicadores. Entretanto, a taxa de desemprego ainda recebe muita ênfase na discussão sobre o mercado de trabalho. Talvez seja o caso de o próprio governo dar maior destaque a medidas que descrevem o mercado de trabalho, além da taxa de desemprego.

Nos dados, a taxa de subutilização continua alta e, na verdade, cresceu no trimestre novembro-dezembro-janeiro em relação ao mesmo período do ano passado – parte disso em função do aumento do desalento entre os trabalhadores. Sinal de que as condições no mercado de trabalho ainda continuam bem adversas.

 

COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE S.PAULO

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Taxa de desemprego e mercado de trabalho

Os dados de emprego no Brasil continuam desanimadores. Na última edição da PNAD contínua, que contempla o trimestre novembro-dezembro-janeiro, a taxa de desemprego ficou em 12%. Aumentou em relação ao trimestre anterior, em que era 11,7%. Na verdade, a comparação com o trimestre anterior não faz muito sentido, pois as estatísticas de desemprego têm sazonalidade, ou seja, todo ano apresentam subidas e descidas mais ou menos previsíveis. Por causa disso, o correto é contrastar com o mesmo período do ano anterior. E, nessa comparação, a taxa de desemprego apresenta uma pequena queda, de 12,2% para 12%. A tendência, de modo geral, é de uma redução bem lenta no desemprego. O presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar as estatísticas de desemprego apresentadas pelo IBGE. Já havia feito isso antes de tomar posse. O presidente tem razão ao salientar que a taxa de desemprego não oferece uma visão satisfatória das condições do mercado de trabalho. Entretanto, o IBGE emprega uma metodologia adotada internacionalmente, que inclui não apenas a taxa de desemprego para caracterizar esse mercado. Uma das preocupações levantadas por Bolsonaro é a de que, se há uma pessoa que não tem emprego, mas que também não está procurando, ela não é considerada desempregada pelo IBGE. De fato, no cálculo da taxa de desemprego (ou desocupação), consideram-se apenas as pessoas que estão na força de trabalho, isto é, aquelas que se encontram empregadas, e aquelas que não têm emprego, mas que estão buscando. Se um indivíduo não tem emprego e não está procurando, ele está fora da força de trabalho. Dessa forma, a estatística exclui os chamados desalentados, isto é, quem desistiu de procurar trabalho. Esse contingente de pessoas pode crescer significativamente caso as condições no mercado de trabalho se deteriorem. Diante de uma perspectiva muito ruim de arranjar emprego, muitas pessoas podem simplesmente decidir que nem vale a pena procurar. Isso contribuiria para reduzir a força de trabalho, não refletindo o quão adverso está o mercado. Essa definição de desemprego pode ainda mascarar uma melhora na economia. Isso aconteceria se várias pessoas, ao perceberem uma chance maior de arrumarem trabalho, deixassem a situação de desalento e passassem a procurar emprego. Como elas não encontram emprego imediatamente, passariam a integrar o conjunto de desempregados. Dependendo de quão forte for esse movimento, a taxa de desemprego poderia até subir temporariamente. https://youtu.be/47ekQvHYdd8 O IBGE, contudo, usa outras estatísticas que, em conjunto com a taxa de desemprego, podem nos dar uma visão mais ampla do mercado de trabalho. Elas captam alterações justamente nessa margem de desalento. É o caso da taxa de subutilização da força de trabalho. Ela considera o conceito de força de trabalho ampla, que inclui também indivíduos sem emprego e que não estão procurando trabalho, mas que aceitariam um emprego se tivessem a oportunidade. Trabalhadores desalentados cairiam nessa categoria. A força de trabalho ampla incorpora também pessoas que trabalharam um número insuficiente de horas para ingressar nas estatísticas usuais de emprego/desemprego. A taxa de subutilização é a fração de indivíduos sem emprego (ou com horas insuficientes) na força de trabalho ampla. Não faz sentido afirmar que a taxa de desemprego é uma farsa, como disse o presidente Bolsonaro. Ela é informativa sobre as condições do mercado de trabalho, mas muitas vezes não nos traz uma descrição completa. O uso dela em conjunto com estatísticas alternativas (como a taxa de subutilização) ajuda a mitigar esse problema. Felizmente, o IBGE já calcula esses indicadores. Entretanto, a taxa de desemprego ainda recebe muita ênfase na discussão sobre o mercado de trabalho. Talvez seja o caso de o próprio governo dar maior destaque a medidas que descrevem o mercado de trabalho, além da taxa de desemprego. Nos dados, a taxa de subutilização continua alta e, na verdade, cresceu no trimestre novembro-dezembro-janeiro em relação ao mesmo período do ano passado – parte disso em função do aumento do desalento entre os trabalhadores. Sinal de que as condições no mercado de trabalho ainda continuam bem adversas.   COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE S.PAULO Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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