Uma plataforma que vai te ajudar a entender um pouco mais de economia.

O texto do PQ? que saiu na Folha de S. Paulo desta semana foi sobre o grande número de pessoas que entram todos os meses no cheque especial[1]. Mais precisamente 4 milhões de pessoas, de acordo com o Relatório de Economia Bancária do Banco Central[2]. Em termos absolutos, é bastante gente. Em termos relativos, também. Mais ou menos 80 milhões de brasileiros têm conta em banco. Ou seja, 5% dos brasileiros com conta em banco usam o negócio da maneira completamente errada.

Em geral, ocorre o seguinte. Todo fim de mês, essas 4 milhões de pessoas ficam com suas contas correntes no vermelho. Aí, quando o salário cai no começo do mês seguinte, as coisas voltam a ficar aparentemente bem e a vida continua.

Só que no texto da Folha desta semana, avisamos que, com os juros do cheque especial a 13% ao mês, essa dinâmica mensal do “entra no vermelho, sai do vermelho” fica mais ou menos estável durante uns 4 anos. Depois disso, a coisa explode. Vamos explicar melhor com um exemplo.

O Bruno ganha R$ 2,5 mil por mês, gasta R$ 2,5 mil por mês e vive assim há bastante tempo. Todo começo de mês entram os R$ 2,5 mil na sua conta corrente. Ele então vai gastando um pouquinho a cada dia, até que no último dia do mês a conta fica zerada. Então, o gráfico que ilustra o saldo diário da sua conta-corrente em um mês normal é assim:



Cada barrinha é o saldo na conta em um determinado dia útil do mês. Um belo dia, o último de um mês que vamos chamar de “mês 1”, a avó do Bruno quebra a perna e ele precisa gastar R$ 500 para ajudá-la. Ele tem então de recorrer ao cheque especial, coisa que nunca antes tinha feito. Dessa forma, nesse último dia do mês ele fica R$ 500 no vermelho:



Mas logo no dia seguinte cai o salário de R$ 2,5 mil. Tudo então parece ficar bem novamente! A conta sai do vermelho e fica R$ 2 mil positiva. Ufa...

E o Bruno continua gastando R$ 2,5 mil por mês. Só que agora, como ele começa o mês com menos de R$ 2,5 mil, todo fim de mês a conta fica negativa. Embora isso seja meio chato, durante alguns meses parece que tudo está sob controle. Fim do mês no negativo, começo do mês no positivo de novo. Qual é o problema? Por exemplo, 12 meses depois da avó do Bruno quebrar a perna, a conta corrente fica no vermelho “só” nos últimos 5 dias do mês. Aparentemente, nada muito desesperador.



E o suposto controle continua por algum tempo. Dois anos depois do acidente, a conta fica no vermelho por 7 dias no fim do mês. Três anos depois, por 9 dias. Por exemplo, o gráfico do mês 36 é assim:



A bomba relógio está quase para explodir sem o Bruno perceber... O xis da questão é que juros sobre juros vão se acumulando de maneira exponencial. Sabe qual é a cara de uma curva exponencial? É traiçoeira, bem traiçoeira... Ela é meio estável por um bom tempo e, de repente, explode. Vejam só a cara de má da dita cuja:

Voltemos ao saldo da conta-corrente do Bruno. Vimos que 36 meses depois da sua avó ter quebrado a perna, ele ficava 9 dias no negativo. Quer ver o que acontece com a conta corrente dele 60 meses depois do acidente da avó, ou seja, 2 anos mais adiante? Ela não fica mais positiva. Nem no dia que cai o salário!



E 10 anos depois do acidente da avó? Bom, se o Bruno chegasse nesse ponto, seria coisa de maluco! Ele começaria o mês devendo mais de R$ 1 milhão!



Bem, provavelmente, em algum momento entre o terceiro e o quinto ano, o Bruno deve perceber que, na verdade, ao contrário do que parecia, nada estava sob controle. Imagina começar o mês já no vermelho? Só que daí, para resolver a questão, é muito mais difícil.

Como avisamos lá no artigo da Folha, se você é uma das 4 milhões de pessoas que entram todos os meses no cheque especial faça alguma coisa para mudar essa história. Cheque especial é para ser usado esporadicamente. Nunca todos os meses. A curva exponencial vai te pegar lá na frente. Ela é implacável.

[1] https://www1.folha.uol.com.br/colunas/por-que-economes-em-bom-portugues/2019/06/viciados-do-cheque-especial.shtml

[2] https://www.bcb.gov.br/publicacoes/relatorioeconomiabancaria

Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.

Siga a gente no Facebook e Twitter! Inscreva-se no nosso canal no YouTube! Curta as nossas fotos no Instagram!

Mande uma mensagem pra gente e receba nosso conteúdo no seu celular: (11) 99435-0365

Todo mês no cheque especial? Pare com isso!

O texto do PQ? que saiu na Folha de S. Paulo desta semana foi sobre o grande número de pessoas que entram todos os meses no cheque especial[1]. Mais precisamente 4 milhões de pessoas, de acordo com o Relatório de Economia Bancária do Banco Central[2]. Em termos absolutos, é bastante gente. Em termos relativos, também. Mais ou menos 80 milhões de brasileiros têm conta em banco. Ou seja, 5% dos brasileiros com conta em banco usam o negócio da maneira completamente errada. Em geral, ocorre o seguinte. Todo fim de mês, essas 4 milhões de pessoas ficam com suas contas correntes no vermelho. Aí, quando o salário cai no começo do mês seguinte, as coisas voltam a ficar aparentemente bem e a vida continua. Só que no texto da Folha desta semana, avisamos que, com os juros do cheque especial a 13% ao mês, essa dinâmica mensal do “entra no vermelho, sai do vermelho” fica mais ou menos estável durante uns 4 anos. Depois disso, a coisa explode. Vamos explicar melhor com um exemplo. O Bruno ganha R$ 2,5 mil por mês, gasta R$ 2,5 mil por mês e vive assim há bastante tempo. Todo começo de mês entram os R$ 2,5 mil na sua conta corrente. Ele então vai gastando um pouquinho a cada dia, até que no último dia do mês a conta fica zerada. Então, o gráfico que ilustra o saldo diário da sua conta-corrente em um mês normal é assim: Cada barrinha é o saldo na conta em um determinado dia útil do mês. Um belo dia, o último de um mês que vamos chamar de “mês 1”, a avó do Bruno quebra a perna e ele precisa gastar R$ 500 para ajudá-la. Ele tem então de recorrer ao cheque especial, coisa que nunca antes tinha feito. Dessa forma, nesse último dia do mês ele fica R$ 500 no vermelho: Mas logo no dia seguinte cai o salário de R$ 2,5 mil. Tudo então parece ficar bem novamente! A conta sai do vermelho e fica R$ 2 mil positiva. Ufa... E o Bruno continua gastando R$ 2,5 mil por mês. Só que agora, como ele começa o mês com menos de R$ 2,5 mil, todo fim de mês a conta fica negativa. Embora isso seja meio chato, durante alguns meses parece que tudo está sob controle. Fim do mês no negativo, começo do mês no positivo de novo. Qual é o problema? Por exemplo, 12 meses depois da avó do Bruno quebrar a perna, a conta corrente fica no vermelho “só” nos últimos 5 dias do mês. Aparentemente, nada muito desesperador. E o suposto controle continua por algum tempo. Dois anos depois do acidente, a conta fica no vermelho por 7 dias no fim do mês. Três anos depois, por 9 dias. Por exemplo, o gráfico do mês 36 é assim: A bomba relógio está quase para explodir sem o Bruno perceber... O xis da questão é que juros sobre juros vão se acumulando de maneira exponencial. Sabe qual é a cara de uma curva exponencial? É traiçoeira, bem traiçoeira... Ela é meio estável por um bom tempo e, de repente, explode. Vejam só a cara de má da dita cuja: Voltemos ao saldo da conta-corrente do Bruno. Vimos que 36 meses depois da sua avó ter quebrado a perna, ele ficava 9 dias no negativo. Quer ver o que acontece com a conta corrente dele 60 meses depois do acidente da avó, ou seja, 2 anos mais adiante? Ela não fica mais positiva. Nem no dia que cai o salário! E 10 anos depois do acidente da avó? Bom, se o Bruno chegasse nesse ponto, seria coisa de maluco! Ele começaria o mês devendo mais de R$ 1 milhão! Bem, provavelmente, em algum momento entre o terceiro e o quinto ano, o Bruno deve perceber que, na verdade, ao contrário do que parecia, nada estava sob controle. Imagina começar o mês já no vermelho? Só que daí, para resolver a questão, é muito mais difícil. Como avisamos lá no artigo da Folha, se você é uma das 4 milhões de pessoas que entram todos os meses no cheque especial faça alguma coisa para mudar essa história. Cheque especial é para ser usado esporadicamente. Nunca todos os meses. A curva exponencial vai te pegar lá na frente. Ela é implacável. [1] https://www1.folha.uol.com.br/colunas/por-que-economes-em-bom-portugues/2019/06/viciados-do-cheque-especial.shtml [2] https://www.bcb.gov.br/publicacoes/relatorioeconomiabancaria Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
Siga a gente no Facebook e Twitter! Inscreva-se no nosso canal no YouTube! Curta as nossas fotos no Instagram!


Mande uma mensagem pra gente e receba nosso conteúdo no seu celular: (11) 99435-0365


Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?clique aqui e assine a nossa Newsletter.

Siga a gente no Facebook e Twitter!
Inscreva-se no nosso canal no YouTube!
Curta as nossas fotos no Instagram!

O que você achou desse texto?

*Não é necessário cadastro.

Avaliação de quem leu:

Avalie esse texto Não é necessário cadastro

A plataforma Por Quê?Economês em bom português nasceu em 2015, com o objetivo de explicar conceitos básicos de economia e tornar o noticiário econômico acessível ao público não especializado. Acreditamos que o raciocínio econômico é essencial para a compreensão da realidade que nos cerca.

Iniciativa

Bei editora
Usamos cookies por vários motivos, como manter o site do PQ? confiável ​​e seguro, personalizar conteúdo e anúncios,
fornecer recursos de mídia social e analisar como o site é usado. Para maiores informações veja nossa Política de Privacidade.