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acabar ou não com o horário de verão?

O governo cogitou acabar com o horário de verão neste ano. Um estudo do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) indica que a principal função da política – incentivar a economia de energia – não está se verificando na prática, o que gerou a discussão em torno do fim da mudança nos relógios - veja mais detalhes.

No fim das contas, o governo optou por manter o esquema. Pessoalmente gosto do horário de verão (luz do sol até as 20 horas é um privilégio). Mas temo que, para a economia como um todo, a política traga mais prejuízos do que ganhos.

A conclusão de que não há economia de energia bate com o encontrado pela literatura internacional. O artigo acadêmico de Matthew Kotchen e Laura Grant é um bom exemplo de análise empírica rigorosa para entender a questão. Eles estudam o estado americano de Indiana, para o qual antes de 2006 alguns condados adotavam o horário de verão, enquanto outros mantinham seus relógios sem alteração o ano todo. Em 2006, uma lei impôs que o estado inteiro deveria aderir à política.

Com base nesse desenho, os autores podem avaliar a evolução das contas de energia nos dois grupos de condados. Para captar o efeito da política, eles comparam a evolução média do consumo de energia nos locais que passaram a adotar o horário de verão, com a evolução média nos locais que já adotavam antes. O resultado é que a conta de luz média cresceu mais no primeiro grupo.

Esses achados indicam que o horário de verão leva a um aumento no consumo médio – ao contrário da intenção, que era economizar energia. Na interpretação dos autores, isso se dá principalmente por causa do aumento no uso do ar condicionado, que mais que compensa a queda no gasto com iluminação. Nos Estados Unidos, esse crescimento no consumo induzido pelo horário de verão tem ainda impacto ambiental, já que a maior parte da energia produzida por lá vem da queima do carvão.

Para ser justo, no caso brasileiro, o ONS argumenta que há um ganho em manter o horário de verão (apesar da ausência de economia de energia), pois evita-se a concentração de carga nos horários de pico.

Quais os outros custos do horário de verão?

Sim, é legal termos dias longos com sol até tarde. Mas, a depender do dia, quem pega no batente cedo provavelmente tem que sair de casa no escuro (imagine a pessoa que pega várias conduções para chegar ao trabalho). Isso é problemático especialmente por aqui, em que as condições de segurança são precárias. Problemas também podem aparecer como resultado do horário de verão, principalmente nos primeiros dias após a mudança nos relógios, na medida em que as pessoas não se adaptam imediatamente. O padrão de sono acaba se alterando nesses dias, o que pode estar associado a desatenção, acidentes de trânsito e no trabalho e perda de produtividade. Para uma discussão mais detalhada, veja este texto do New York Times. Um artigo acadêmico interessante, de autoria de Mark Kamsta, Lisa Kramer e Maurice Levi, avalia o efeito do horário de verão nos preços de ações, com base em dados das Bolsas de Valores dos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Alemanha. Eles notam que os preços das ações caem muito na segunda-feira posterior à mudança. Em tese, em um mundo com agentes racionais, isso não deveria ocorrer. Por quê? Quem compra uma ação adquire um pedacinho de uma empresa, e tem o direito a receber uma fração dos lucros dessa empresa ao longo do tempo. Assim, se há alguma notícia que sinalize mais lucros no futuro, os investidores desejarão comprar a ação hoje, provocando aumento no preço. Da mesma forma, notícias que indiquem menor lucratividade futura deveriam empurrar os preços das ações para baixo. No entanto, eventos totalmente esperados – isto é, que todo sabe que vão acontecer – não deveriam interferir nos preços das ações, pois não se altera a percepção de como serão os lucros no futuro. A mudança de horário é algo previsto, e não deveria assim mexer com preços dos ativos financeiros. Mas mexe, e muito. A interpretação dos autores do estudo é que o efeito reflete o fato de que as pessoas (no caso, os participantes do mercado, que são de carne e osso) estão se ajustando ao novo horário, e podem assim ter dificuldade em realizar análises racionais. Como consequência, tenderiam a se arriscar menos nesse período, o que levaria a um comportamento mais conservador e, portanto, quedas na Bolsa. Será que, com computadores e robôs ocupando cada vez mais espaço no mercado financeiro, veremos o desaparecimento desses efeitos bizarros sobre os preços de ações?  

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acabar ou não com o horário de verão? O governo cogitou acabar com o horário de verão neste ano. Um estudo do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) indica que a principal função da política – incentivar a economia de energia – não está se verificando na prática, o que gerou a discussão em torno do fim da mudança nos relógios - veja mais detalhes. No fim das contas, o governo optou por manter o esquema. Pessoalmente gosto do horário de verão (luz do sol até as 20 horas é um privilégio). Mas temo que, para a economia como um todo, a política traga mais prejuízos do que ganhos. A conclusão de que não há economia de energia bate com o encontrado pela literatura internacional. O artigo acadêmico de Matthew Kotchen e Laura Grant é um bom exemplo de análise empírica rigorosa para entender a questão. Eles estudam o estado americano de Indiana, para o qual antes de 2006 alguns condados adotavam o horário de verão, enquanto outros mantinham seus relógios sem alteração o ano todo. Em 2006, uma lei impôs que o estado inteiro deveria aderir à política. Com base nesse desenho, os autores podem avaliar a evolução das contas de energia nos dois grupos de condados. Para captar o efeito da política, eles comparam a evolução média do consumo de energia nos locais que passaram a adotar o horário de verão, com a evolução média nos locais que já adotavam antes. O resultado é que a conta de luz média cresceu mais no primeiro grupo. Esses achados indicam que o horário de verão leva a um aumento no consumo médio – ao contrário da intenção, que era economizar energia. Na interpretação dos autores, isso se dá principalmente por causa do aumento no uso do ar condicionado, que mais que compensa a queda no gasto com iluminação. Nos Estados Unidos, esse crescimento no consumo induzido pelo horário de verão tem ainda impacto ambiental, já que a maior parte da energia produzida por lá vem da queima do carvão. Para ser justo, no caso brasileiro, o ONS argumenta que há um ganho em manter o horário de verão (apesar da ausência de economia de energia), pois evita-se a concentração de carga nos horários de pico. Quais os outros custos do horário de verão? Sim, é legal termos dias longos com sol até tarde. Mas, a depender do dia, quem pega no batente cedo provavelmente tem que sair de casa no escuro (imagine a pessoa que pega várias conduções para chegar ao trabalho). Isso é problemático especialmente por aqui, em que as condições de segurança são precárias. Problemas também podem aparecer como resultado do horário de verão, principalmente nos primeiros dias após a mudança nos relógios, na medida em que as pessoas não se adaptam imediatamente. O padrão de sono acaba se alterando nesses dias, o que pode estar associado a desatenção, acidentes de trânsito e no trabalho e perda de produtividade. Para uma discussão mais detalhada, veja este texto do New York Times. Um artigo acadêmico interessante, de autoria de Mark Kamsta, Lisa Kramer e Maurice Levi, avalia o efeito do horário de verão nos preços de ações, com base em dados das Bolsas de Valores dos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Alemanha. Eles notam que os preços das ações caem muito na segunda-feira posterior à mudança. Em tese, em um mundo com agentes racionais, isso não deveria ocorrer. Por quê? Quem compra uma ação adquire um pedacinho de uma empresa, e tem o direito a receber uma fração dos lucros dessa empresa ao longo do tempo. Assim, se há alguma notícia que sinalize mais lucros no futuro, os investidores desejarão comprar a ação hoje, provocando aumento no preço. Da mesma forma, notícias que indiquem menor lucratividade futura deveriam empurrar os preços das ações para baixo. No entanto, eventos totalmente esperados – isto é, que todo sabe que vão acontecer – não deveriam interferir nos preços das ações, pois não se altera a percepção de como serão os lucros no futuro. A mudança de horário é algo previsto, e não deveria assim mexer com preços dos ativos financeiros. Mas mexe, e muito. A interpretação dos autores do estudo é que o efeito reflete o fato de que as pessoas (no caso, os participantes do mercado, que são de carne e osso) estão se ajustando ao novo horário, e podem assim ter dificuldade em realizar análises racionais. Como consequência, tenderiam a se arriscar menos nesse período, o que levaria a um comportamento mais conservador e, portanto, quedas na Bolsa. Será que, com computadores e robôs ocupando cada vez mais espaço no mercado financeiro, veremos o desaparecimento desses efeitos bizarros sobre os preços de ações?   Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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