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a bomba e o equilibrista 

Há uma curiosa dissonância entre como os cientistas políticos e os economistas que se dedicam a estudar sistemas eleitorais avaliam o do Brasil. Em geral, os primeiros consideram relativamente eficiente; nós, economistas, o julgamos ruim. Há de fato aí uma questão mais ampla por trás da discordância, não limitada às fronteiras de Pindorama. Boa parte dos cientistas políticos gostam do sistema proporcional, com grandes distritos eleitorais, no nosso caso um estado inteiro; enquanto economistas tendem a gostar do distrital ou distrital misto, no qual a eleição é mais restrita geograficamente.

Indo ao que interessa para este texto, o probleminha tupiniquim é dado pela fórmula:

sistema proporcional + presidencialismo = presidencialismo de coalizão

Os cientistas políticos fazem a seguinte conta (os bons não argumentam no vácuo não, viu, fazem conta!): no frigir dos ovos, o Congresso normalmente acaba aprovando as pautas propostas pelo Executivo. Ergo, o sistema funciona. Imperfeitamente, claro, mas funciona.

Na visão de um economista, essa  continha tem um problema. O que significa "funcionar"? A que preço a coisa "funciona"?  Ao preço de Mensalão, Petrolão, etc? Além desse preço, há outra coisa importante. O que o Executivo envia para o Congresso é endógeno, o que é possível ser aprovado pode diferir - e muito - do que seria o ideal. Quanto mais fragmentado o Congresso, maior a separação entre o que é ideal e o possível. Quantas coisas deixam de ser propostas dado o custo da barganha?

Note o leitor: essa variável não é observável, não tem como ser posta na conta que nossos colegas das ciências políticas fazem.

E é um sistema político assim, em conjunção com um governo especialmente fragilizado, que gera as tais das "pautas-bombas" que voltaram a fazer notícia nos jornais. Atualmente, os bombardeiros levam na barriga da aeronave: reajuste da tabela do imposto de renda (demanda dos 20% mais ricos que se dizem ser classe média!), perdão de dívida de produtores rurais (sempre pedindo perdão), ajuda às prefeituras com dívidas de Previdência, etc.

Bombas são aparatos de destruição, mas raramente são usadas. Pegue o estoque de bombas existentes e divida "bombas lançadas por ano" por estoque de bombas. O número é perto de zero. Mas bombas geram poder de barganha. Persuadem. Nesse sentido, as bombas fiscais não são muito diferentes. Algumas de fato caem na cabeça do povo brasileiro, mas mesmo as que não caem são deletérias: "ou você nos aloca aquela diretoria ali e nos concede um imposto de importação mais alto, ou daremos apoio ao bombardeio".

O Brasil caminha numa corda fiscal bambíssima: relação dívida/PIB superelevada e crescente por anos à frente; fluxos fortemente negativos e despesas estruturais em trajetória explosiva. Basta uma bombinha de São João para lançarmos equilibrista e chapéu coco pelos ares.

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a bomba e o equilibrista Há uma curiosa dissonância entre como os cientistas políticos e os economistas que se dedicam a estudar sistemas eleitorais avaliam o do Brasil. Em geral, os primeiros consideram relativamente eficiente; nós, economistas, o julgamos ruim. Há de fato aí uma questão mais ampla por trás da discordância, não limitada às fronteiras de Pindorama. Boa parte dos cientistas políticos gostam do sistema proporcional, com grandes distritos eleitorais, no nosso caso um estado inteiro; enquanto economistas tendem a gostar do distrital ou distrital misto, no qual a eleição é mais restrita geograficamente. Indo ao que interessa para este texto, o probleminha tupiniquim é dado pela fórmula: sistema proporcional + presidencialismo = presidencialismo de coalizão Os cientistas políticos fazem a seguinte conta (os bons não argumentam no vácuo não, viu, fazem conta!): no frigir dos ovos, o Congresso normalmente acaba aprovando as pautas propostas pelo Executivo. Ergo, o sistema funciona. Imperfeitamente, claro, mas funciona. Na visão de um economista, essa  continha tem um problema. O que significa "funcionar"? A que preço a coisa "funciona"?  Ao preço de Mensalão, Petrolão, etc? Além desse preço, há outra coisa importante. O que o Executivo envia para o Congresso é endógeno, o que é possível ser aprovado pode diferir - e muito - do que seria o ideal. Quanto mais fragmentado o Congresso, maior a separação entre o que é ideal e o possível. Quantas coisas deixam de ser propostas dado o custo da barganha? Note o leitor: essa variável não é observável, não tem como ser posta na conta que nossos colegas das ciências políticas fazem. E é um sistema político assim, em conjunção com um governo especialmente fragilizado, que gera as tais das "pautas-bombas" que voltaram a fazer notícia nos jornais. Atualmente, os bombardeiros levam na barriga da aeronave: reajuste da tabela do imposto de renda (demanda dos 20% mais ricos que se dizem ser classe média!), perdão de dívida de produtores rurais (sempre pedindo perdão), ajuda às prefeituras com dívidas de Previdência, etc. Bombas são aparatos de destruição, mas raramente são usadas. Pegue o estoque de bombas existentes e divida "bombas lançadas por ano" por estoque de bombas. O número é perto de zero. Mas bombas geram poder de barganha. Persuadem. Nesse sentido, as bombas fiscais não são muito diferentes. Algumas de fato caem na cabeça do povo brasileiro, mas mesmo as que não caem são deletérias: "ou você nos aloca aquela diretoria ali e nos concede um imposto de importação mais alto, ou daremos apoio ao bombardeio". O Brasil caminha numa corda fiscal bambíssima: relação dívida/PIB superelevada e crescente por anos à frente; fluxos fortemente negativos e despesas estruturais em trajetória explosiva. Basta uma bombinha de São João para lançarmos equilibrista e chapéu coco pelos ares. Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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