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Convido todos, amigas e amigos, para uma rápida viagem no tempo.

O ano era 2009, vésperas de eleições presidenciais. E tudo ia muito bem com a Petrobras. Sua produção havia crescido mais que a metade em relação a 2002. A fronteira do pré-sal estava em pleno desenvolvimento, os preços do petróleo eram favoráveis a bons rendimentos, as dívidas eram irrisórias…

Enfim, nada parecia ser capaz de segurar a Petrobras.

Estava em seus projetos o investimento audacioso de 550 bilhões de dólares pelos próximos 10 anos. A tática era dobrar a já respeitável produção da maior empresa do Brasil, uma das maiores do mundo no ramo de energia.

Por que deu tudo errado?

A Petrobras prometia enorme contribuição para o desenvolvimento da economia do Brasil com seu plano de investimentos. Mas crédito farto pode trazer sérias consequências. Tomados de maneira descontrolada, empréstimos podem se transformar em veneno quase mortal.

A conta era simples: o barril de petróleo estava cotado na casa dos 100 dólares. A Petrobras dobraria sua produção, oras. Seria fácil pagar qualquer dívida lá na frente. Na teoria, moças e rapazes, tudo certo. Mas o futuro mostrou que a aparente simplicidade não passava de má gestão.

Por que não esperar um pouco mais para pegar dinheiro emprestado? Afinal, a produção da empresa ia bem. Se segurasse um pouco a onda, seria menos arriscado pegar financiamentos lá na frente. Mas, com muito acesso a capital barato e irrestrito, a disciplina dos gastos acabou comprometida.

Importante lembrar: o petróleo é matéria-prima negociada em dólares. Por que não fazer dívidas também em dólares? Seria mais indicado, para proteger as dívidas com receitas vindas do petróleo, também em dólares.

O endividamento da empresa, em 2009, era de 60 bilhões de reais. Pode parecer muito, mas, para uma Petrobras, não faz nem cócegas. De lá até o segundo trimestre de 2015, essa dívida aumentou mais de 7 vezes e alcançou incríveis 460 bilhões de reais.

Sabe para que foram usados 120 bilhões de reais desse montante? Para subsidiar (pagar parte de) gasolina e diesel consumidos pelo brasileiro. A empresa vendeu seus combustíveis 20% mais baratos que os preços praticados no estrangeiro entre 2010 e 2014. E mais: 70 bilhões de reais serviram para fazer refinarias em Pernambuco (Renest, conhecida como Abreu e Lima) e no Rio de Janeiro (Comperj). Ambas as obras foram feitas com preços acima dos estimados para empreendimentos semelhantes fora do Brasil. Outros 100 bilhões de reais serviram para bancar dívidas em moeda estrangeira.

Apenas 100 bilhões de reais dos 460 bilhões em dívidas foram usados para desenvolver a produção futura.

A realidade acabou sendo cruel com a Petrobras, meu povo.

Primeiro, a tão esperada vinculação das receitas da empresa às variações cambiais não passou de sonho. Em segundo lugar, aquele cenário de preços de petróleo (100 dólares por barril) está muito distante. Cada barril é vendido hoje por mais ou menos metade disso.

Quando a Petrobras concentrava todos os seus esforços no pré-sal, apareceu o gás de xisto nos EUA. Os americanos descobriram esse recurso e desenvolveram a tecnologia para a sua extração quase simultaneamente, entre 2005 e 2006. Hoje, a Petrobras produz com o pré-sal 800 mil barris por dia. Os EUA produzem 8 milhões de barris de gás de xisto por dia. Em parte, foi essa forte concorrência que derrubou os preços do petróleo no mundo todo.

Não bastasse todo esse cenário, temos ainda o que o leitor talvez esteja esperando ler desde o primeiro parágrafo: a Operação Lava Jato.

A corrupção, claro, prejudicou ainda mais os negócios da Petrobras. Mas, saibam, mesmo que a honestidade resplandecesse na empresa, seus desejos do passado seriam frustrados no futuro de qualquer jeito. A crise estaria instalada com ou sem a eficiência da Polícia Federal. Por pura incompetência.

Então oremos? Oremos.

Por que os planos da Petrobras deram errado?

Convido todos, amigas e amigos, para uma rápida viagem no tempo. O ano era 2009, vésperas de eleições presidenciais. E tudo ia muito bem com a Petrobras. Sua produção havia crescido mais que a metade em relação a 2002. A fronteira do pré-sal estava em pleno desenvolvimento, os preços do petróleo eram favoráveis a bons rendimentos, as dívidas eram irrisórias… Enfim, nada parecia ser capaz de segurar a Petrobras. Estava em seus projetos o investimento audacioso de 550 bilhões de dólares pelos próximos 10 anos. A tática era dobrar a já respeitável produção da maior empresa do Brasil, uma das maiores do mundo no ramo de energia. Por que deu tudo errado? A Petrobras prometia enorme contribuição para o desenvolvimento da economia do Brasil com seu plano de investimentos. Mas crédito farto pode trazer sérias consequências. Tomados de maneira descontrolada, empréstimos podem se transformar em veneno quase mortal. A conta era simples: o barril de petróleo estava cotado na casa dos 100 dólares. A Petrobras dobraria sua produção, oras. Seria fácil pagar qualquer dívida lá na frente. Na teoria, moças e rapazes, tudo certo. Mas o futuro mostrou que a aparente simplicidade não passava de má gestão. Por que não esperar um pouco mais para pegar dinheiro emprestado? Afinal, a produção da empresa ia bem. Se segurasse um pouco a onda, seria menos arriscado pegar financiamentos lá na frente. Mas, com muito acesso a capital barato e irrestrito, a disciplina dos gastos acabou comprometida. Importante lembrar: o petróleo é matéria-prima negociada em dólares. Por que não fazer dívidas também em dólares? Seria mais indicado, para proteger as dívidas com receitas vindas do petróleo, também em dólares. O endividamento da empresa, em 2009, era de 60 bilhões de reais. Pode parecer muito, mas, para uma Petrobras, não faz nem cócegas. De lá até o segundo trimestre de 2015, essa dívida aumentou mais de 7 vezes e alcançou incríveis 460 bilhões de reais. Sabe para que foram usados 120 bilhões de reais desse montante? Para subsidiar (pagar parte de) gasolina e diesel consumidos pelo brasileiro. A empresa vendeu seus combustíveis 20% mais baratos que os preços praticados no estrangeiro entre 2010 e 2014. E mais: 70 bilhões de reais serviram para fazer refinarias em Pernambuco (Renest, conhecida como Abreu e Lima) e no Rio de Janeiro (Comperj). Ambas as obras foram feitas com preços acima dos estimados para empreendimentos semelhantes fora do Brasil. Outros 100 bilhões de reais serviram para bancar dívidas em moeda estrangeira. Apenas 100 bilhões de reais dos 460 bilhões em dívidas foram usados para desenvolver a produção futura. A realidade acabou sendo cruel com a Petrobras, meu povo. Primeiro, a tão esperada vinculação das receitas da empresa às variações cambiais não passou de sonho. Em segundo lugar, aquele cenário de preços de petróleo (100 dólares por barril) está muito distante. Cada barril é vendido hoje por mais ou menos metade disso. Quando a Petrobras concentrava todos os seus esforços no pré-sal, apareceu o gás de xisto nos EUA. Os americanos descobriram esse recurso e desenvolveram a tecnologia para a sua extração quase simultaneamente, entre 2005 e 2006. Hoje, a Petrobras produz com o pré-sal 800 mil barris por dia. Os EUA produzem 8 milhões de barris de gás de xisto por dia. Em parte, foi essa forte concorrência que derrubou os preços do petróleo no mundo todo. Não bastasse todo esse cenário, temos ainda o que o leitor talvez esteja esperando ler desde o primeiro parágrafo: a Operação Lava Jato. A corrupção, claro, prejudicou ainda mais os negócios da Petrobras. Mas, saibam, mesmo que a honestidade resplandecesse na empresa, seus desejos do passado seriam frustrados no futuro de qualquer jeito. A crise estaria instalada com ou sem a eficiência da Polícia Federal. Por pura incompetência. Então oremos? Oremos.
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