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O ano de 2020 nos reservou muitas surpresas. Se a Enciclopédia Britânica ainda editasse o livro do ano, o de 2020 certamente viria com mais de um volume. Até Nostradamus parece que foi surpreendido – não recebi nenhum e-mail resgatando alguma frase enigmática do profeta alertando para os perigos do vírus. A verdade é que a covid-19 pegou todo mundo de surpresa e o impacto que a pandemia causou na economia será sentido por muitos anos.

No mundo dos investimentos, a grande surpresa do ano foi o expressivo aumento do número de novatos na Bolsa de Valores. É verdade que 2019 já dava indícios de que uma mudança estrutural estava acontecendo – reflexo em grande medida da queda dos rendimentos dos investimentos em renda fixa. Mas a rapidez desse fluxo em 2020 surpreendeu até os mais otimistas, principalmente se levarmos em consideração o altíssimo nível de incerteza do período, o que costuma afastar as pessoas da Bolsa.

O número de novas contas na Bolsa de Valores cresceu mais de 90% em 2020 e o número de CPFs cadastrados já supera os 3 milhões. Esse número impressiona, uma vez que apenas no ano passado a marca de um milhão foi atingida, após décadas de campanhas da Bovespa (como esta, que tinha o Pelé como garoto-propaganda).

O fenômeno parece não acontecer somente no Brasil. Nos Estados Unidos, o número de pessoas que investe diretamente na Bolsa aumentou substancialmente. Essa revolução se deve, em grande medida, ao sucesso da fintech Robinhood. Além de zerar as taxas de corretagem, a plataforma de negociação desenvolvida por essa fintech mais se assemelha a um videogame do que a uma ferramenta financeira. Em pouco tempo, o número de usuários cadastrados passou de um milhão em 2016 para mais de 13 milhões em 2020, sendo que pelo menos 30% desse total se cadastrou em 2020.

O investimento na Bolsa não deve ser visto como um jogo, no entanto. Se for encarado dessa forma, game over para o investidor. As probabilidades não favorecem as pessoas que operam desde casa procurando acertar qual ação vai subir nos próximos dias.

Aos novatos que entraram na Bolsa em 2020 duas palavras: diversificação e paciência. Uma carteira bem diversificada é uma carteira com menos risco. Por sorte, montar uma carteira assim é mais fácil que parece. Existem vários fundos que fazem isso por você sem cobrar muito caro: são os Exchange Traded Funds (ETFs). Como o nome diz, as cotas desses fundos podem ser compradas e vendidas na própria Bolsa. 
E paciência: dar tempo ao tempo também é importante. Dessa forma, as oscilações de curto prazo da Bolsa ficam para trás e o investidor consegue obter a remuneração justa pelo risco. Aliás, eis uma ótima maneira de começar 2021: com paciência. Falta pouco para a vacina. 

COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE SÃO PAULO

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2020: um ano e tanto

O ano de 2020 nos reservou muitas surpresas. Se a Enciclopédia Britânica ainda editasse o livro do ano, o de 2020 certamente viria com mais de um volume. Até Nostradamus parece que foi surpreendido – não recebi nenhum e-mail resgatando alguma frase enigmática do profeta alertando para os perigos do vírus. A verdade é que a covid-19 pegou todo mundo de surpresa e o impacto que a pandemia causou na economia será sentido por muitos anos.

No mundo dos investimentos, a grande surpresa do ano foi o expressivo aumento do número de novatos na Bolsa de Valores. É verdade que 2019 já dava indícios de que uma mudança estrutural estava acontecendo – reflexo em grande medida da queda dos rendimentos dos investimentos em renda fixa. Mas a rapidez desse fluxo em 2020 surpreendeu até os mais otimistas, principalmente se levarmos em consideração o altíssimo nível de incerteza do período, o que costuma afastar as pessoas da Bolsa.

O número de novas contas na Bolsa de Valores cresceu mais de 90% em 2020 e o número de CPFs cadastrados já supera os 3 milhões. Esse número impressiona, uma vez que apenas no ano passado a marca de um milhão foi atingida, após décadas de campanhas da Bovespa (como esta, que tinha o Pelé como garoto-propaganda).

O fenômeno parece não acontecer somente no Brasil. Nos Estados Unidos, o número de pessoas que investe diretamente na Bolsa aumentou substancialmente. Essa revolução se deve, em grande medida, ao sucesso da fintech Robinhood. Além de zerar as taxas de corretagem, a plataforma de negociação desenvolvida por essa fintech mais se assemelha a um videogame do que a uma ferramenta financeira. Em pouco tempo, o número de usuários cadastrados passou de um milhão em 2016 para mais de 13 milhões em 2020, sendo que pelo menos 30% desse total se cadastrou em 2020.

O investimento na Bolsa não deve ser visto como um jogo, no entanto. Se for encarado dessa forma, game over para o investidor. As probabilidades não favorecem as pessoas que operam desde casa procurando acertar qual ação vai subir nos próximos dias.

Aos novatos que entraram na Bolsa em 2020 duas palavras: diversificação e paciência. Uma carteira bem diversificada é uma carteira com menos risco. Por sorte, montar uma carteira assim é mais fácil que parece. Existem vários fundos que fazem isso por você sem cobrar muito caro: são os Exchange Traded Funds (ETFs). Como o nome diz, as cotas desses fundos podem ser compradas e vendidas na própria Bolsa. 
E paciência: dar tempo ao tempo também é importante. Dessa forma, as oscilações de curto prazo da Bolsa ficam para trás e o investidor consegue obter a remuneração justa pelo risco. Aliás, eis uma ótima maneira de começar 2021: com paciência. Falta pouco para a vacina. 

COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE SÃO PAULO

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