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							Nas últimas semanas, foi divulgada uma boa quantidade de dados sobre o estado da economia mundial. Em conjunto com o que temos observado já há algum tempo, esses dados confirmam um quadro de clássico descolamento entre os três maiores blocos econômicos globais: Estados Unidos, Europa e China, que juntos representam aproximadamente 60% do PIB mundial.  

Entender o que está por trás de algumas dinâmicas de curto prazo é uma tarefa mais próxima da cartomancia do que do ferramental estatístico-econômico, pois o curto prazo é uma verdadeira confusão entre ruídos, possíveis mudanças de tendência, regressão à média, eventos que não se repetem etc. Como já dissemos aqui outras vezes, se alguém prometer ao prezado leitor uma extraordinária capacidade de prever a inflação do mês que vem ou as vendas do varejo daqui a dois meses, desconfie. Um exemplo concreto: no fim da semana passada ficamos sabendo que a economia norte-americana criou o dobro de vagas do que era esperado pelos analistas, ou seja, cerca de 350 mil novas vagas em janeiro (esperava-se aproximadamente 170 mil). Muitos desses analistas empregam o que melhor há de disponível em termos de técnicas e ferramentas estatísticas para gerar suas previsões. Não são bobos. É apenas muito difícil prever variável econômica no curto prazo. 

Voltando ao quadro global, os Estados Unidos vão de vento em popa, alcançando uma sólida - porém segura - velocidade de cruzeiro. Parece estar se configurando o que ficou conhecido nos mercados como “pouso suave”. A economia segue andando diante, evita-se uma recessão, mas a inflação se modera. Essa queda no fervor de alta dos preços, diga-se, é gradual, dado que os núcleos inflacionários (construídos para expurgar altas e baixas temporárias) seguem por lá ainda bem acima da meta semioficial de 2%. Ao comunicar na semana passada que manteria sua taxa de juros inalterada em 5,25%, o Federal Reserve também mandou um recado: "Não parece claro que estejam se materializando as condições para uma queda de juros".   

Já a Europa passa por situação bem mais complicada. La, a inflação também parece convergir a passos de cágado, mas a economia encontra-se em estado de letargia. É o pior dos mundos, pois se de um lado faz sentido cortar o juro para prover algum estímulo a uma atividade econômica anêmica, por outro a inflação ainda está acima do desejado, o que requer a manutenção do juro no seu atual patamar. Estímulos fiscais não parecem ser a saída, dado que muitos países se encontram com dívidas nacionais elevadíssimas para padrões históricos. 

Na visão de muitos analistas, o terceiro gigante (segunda economia mundial em termos de países individuais) se move num lugar intermediário entre os dois primeiros em matéria de indicadores de curto prazo: a China vai mal ma non troppo. Concordamos que isso seja verdade numa óptica bem estrita: a dos últimos indicadores mensais, mostrando uma melhora na atividade econômica comparada com os três primeiros trimestres de 2023. Mas nossa leitura otimista para por aí. 

Cremos que perto do fim dos próximos dez anos, a China vai desacelerar dos atuais 5% (em 2023) para algo perto de 3%, caso consiga evitar uma crise financeira até lá. Com sorte o país segurará esse crescimento a 3% sem passar por uma recessão. Os desequilíbrios por lá são fantásticos. A dívida pública caminha para 100% do PIB em alguns anos, e a privada totaliza perto de 200%. 

Os governos locais estão atolados em endividamento, e sua principal fonte de financiamento é a venda de terras. Mas a terra é um recurso finito e, ademais, seu preço vem caindo. A economia segue muito dependente do setor de construção, mas a maior empresa do setor (Evergrande) apresenta passivos da ordem de 300 bilhões de dólares e respira por aparelhos. E não apenas o valor dos terrenos vem caindo, mas também o das casas e apartamentos. A coisa vai de fato muito mal, e quando os balanços das empresas se deterioram tanto assim, é quase impossível prevenir uma queda nos investimentos. O futuro não soa alvissareiro.  

E o Brasil, como fica? Não muito bem, pois muito do nosso comércio internacional se dá com os dois blocos com pior desempenho esperado para os próximos trimestres. O momento é crucial, e a volta a políticas comprovadamente desastrosas do passado - como o incentivo artificial da produção local de navios - não ajuda.  

COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE S.PAULO 

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A conjuntura mundial 

Nas últimas semanas, foi divulgada uma boa quantidade de dados sobre o estado da economia mundial. Em conjunto com o que temos observado já há algum tempo, esses dados confirmam um quadro de clássico descolamento entre os três maiores blocos econômicos globais: Estados Unidos, Europa e China, que juntos representam aproximadamente 60% do PIB mundial.  

Entender o que está por trás de algumas dinâmicas de curto prazo é uma tarefa mais próxima da cartomancia do que do ferramental estatístico-econômico, pois o curto prazo é uma verdadeira confusão entre ruídos, possíveis mudanças de tendência, regressão à média, eventos que não se repetem etc. Como já dissemos aqui outras vezes, se alguém prometer ao prezado leitor uma extraordinária capacidade de prever a inflação do mês que vem ou as vendas do varejo daqui a dois meses, desconfie. Um exemplo concreto: no fim da semana passada ficamos sabendo que a economia norte-americana criou o dobro de vagas do que era esperado pelos analistas, ou seja, cerca de 350 mil novas vagas em janeiro (esperava-se aproximadamente 170 mil). Muitos desses analistas empregam o que melhor há de disponível em termos de técnicas e ferramentas estatísticas para gerar suas previsões. Não são bobos. É apenas muito difícil prever variável econômica no curto prazo. 

Voltando ao quadro global, os Estados Unidos vão de vento em popa, alcançando uma sólida - porém segura - velocidade de cruzeiro. Parece estar se configurando o que ficou conhecido nos mercados como “pouso suave”. A economia segue andando diante, evita-se uma recessão, mas a inflação se modera. Essa queda no fervor de alta dos preços, diga-se, é gradual, dado que os núcleos inflacionários (construídos para expurgar altas e baixas temporárias) seguem por lá ainda bem acima da meta semioficial de 2%. Ao comunicar na semana passada que manteria sua taxa de juros inalterada em 5,25%, o Federal Reserve também mandou um recado: "Não parece claro que estejam se materializando as condições para uma queda de juros".   

Já a Europa passa por situação bem mais complicada. La, a inflação também parece convergir a passos de cágado, mas a economia encontra-se em estado de letargia. É o pior dos mundos, pois se de um lado faz sentido cortar o juro para prover algum estímulo a uma atividade econômica anêmica, por outro a inflação ainda está acima do desejado, o que requer a manutenção do juro no seu atual patamar. Estímulos fiscais não parecem ser a saída, dado que muitos países se encontram com dívidas nacionais elevadíssimas para padrões históricos. 

Na visão de muitos analistas, o terceiro gigante (segunda economia mundial em termos de países individuais) se move num lugar intermediário entre os dois primeiros em matéria de indicadores de curto prazo: a China vai mal ma non troppo. Concordamos que isso seja verdade numa óptica bem estrita: a dos últimos indicadores mensais, mostrando uma melhora na atividade econômica comparada com os três primeiros trimestres de 2023. Mas nossa leitura otimista para por aí. 

Cremos que perto do fim dos próximos dez anos, a China vai desacelerar dos atuais 5% (em 2023) para algo perto de 3%, caso consiga evitar uma crise financeira até lá. Com sorte o país segurará esse crescimento a 3% sem passar por uma recessão. Os desequilíbrios por lá são fantásticos. A dívida pública caminha para 100% do PIB em alguns anos, e a privada totaliza perto de 200%. 

Os governos locais estão atolados em endividamento, e sua principal fonte de financiamento é a venda de terras. Mas a terra é um recurso finito e, ademais, seu preço vem caindo. A economia segue muito dependente do setor de construção, mas a maior empresa do setor (Evergrande) apresenta passivos da ordem de 300 bilhões de dólares e respira por aparelhos. E não apenas o valor dos terrenos vem caindo, mas também o das casas e apartamentos. A coisa vai de fato muito mal, e quando os balanços das empresas se deterioram tanto assim, é quase impossível prevenir uma queda nos investimentos. O futuro não soa alvissareiro.  

E o Brasil, como fica? Não muito bem, pois muito do nosso comércio internacional se dá com os dois blocos com pior desempenho esperado para os próximos trimestres. O momento é crucial, e a volta a políticas comprovadamente desastrosas do passado - como o incentivo artificial da produção local de navios - não ajuda.  

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