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A vacina é a esperança para derrotarmos o coronavírus e retornarmos à vida normal. A economia também depende dela para se recuperar plenamente. Infelizmente, ela não é condição suficiente. As pessoas precisarão se sentir seguras para tomá-la. Caso contrário, muita gente permanecerá não imunizada, permitindo que o vírus se dissemine.

No entanto, nossos políticos estão atuando no sentido de minar a confiança em uma eventual vacina no futuro.

Uma importante função do governo é sinalizar à população quais remédios e vacinas são efetivos, e quais não são. Esse tipo de informação tem as características do que chamamos em economia de bem público. Em geral, ele é produzido pelo governo, dado que o setor privado tem uma dificuldade enorme de se viabilizar em tal atividade.

Quanto temos um bem público, é impossível (ou extremamente custoso) impedir uma pessoa de consumir esse produto. Assim, o setor privado não conseguiria cobrar pelo consumo.

Pense em uma empresa que avalia a efetividade de vacinas. Ela precisa gastar recursos para prover esse serviço, e espera cobrar de indivíduos interessados nessa informação para disponibilizá-la. Mas, uma vez que essa informação é divulgada, dificilmente ela ficará restrita a quem pagou para recebê-la. Outros que não pagaram certamente terão acesso ao conhecimento.

Assim, as pessoas terão pouco incentivo a pagar pela informação. A empresa, consequentemente, não será economicamente viável. Em outras palavras, trata-se de um serviço que não será provisionado pelo setor privado.

Por isso é necessário que o Estado entre na jogada. Ele compulsoriamente cobra da população (via impostos) para prover esse serviço.

Contudo, não basta que o governo contrate pessoas competentes e independentes para avaliar remédios ou vacinas. É preciso que a população confie na informação. Caso contrário, pode ser que muitas pessoas optem por não aceitá-la.

A politização da vacina pode justamente acentuar esse problema de confiança. Por que motivo confiaríamos na vacina do Jair ou do João? Suas motivações são estritamente o bem-estar e a saúde pública, ou há algo escondido? Os órgãos competentes estão sendo pressionados para produzir resultados que são favoráveis a um político ou outro?

Tudo isso pode levantar dúvidas na cabeça das pessoas, o que pode torná-las reticentes a se imunizar, quando tivermos uma vacina efetiva. Afinal, como dissemos, não é necessário apenas que tenhamos uma vacina. A grande maioria da população tem que acreditar que ela funciona.

Infelizmente a política está atuando de maneira adversa nesse jogo. Dessa forma, o Estado perde sua capacidade de prover um importante bem público, principalmente nessa época de pandemia: informar a população sobre a efetividade de remédios e vacinas. Não pela falta de capacidade da máquina pública, mas pela incapacidade de passar a mensagem à população.

COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE SÃO PAULO

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A economia e a política da vacina

A vacina é a esperança para derrotarmos o coronavírus e retornarmos à vida normal. A economia também depende dela para se recuperar plenamente. Infelizmente, ela não é condição suficiente. As pessoas precisarão se sentir seguras para tomá-la. Caso contrário, muita gente permanecerá não imunizada, permitindo que o vírus se dissemine.

No entanto, nossos políticos estão atuando no sentido de minar a confiança em uma eventual vacina no futuro.

Uma importante função do governo é sinalizar à população quais remédios e vacinas são efetivos, e quais não são. Esse tipo de informação tem as características do que chamamos em economia de bem público. Em geral, ele é produzido pelo governo, dado que o setor privado tem uma dificuldade enorme de se viabilizar em tal atividade.

Quanto temos um bem público, é impossível (ou extremamente custoso) impedir uma pessoa de consumir esse produto. Assim, o setor privado não conseguiria cobrar pelo consumo.

Pense em uma empresa que avalia a efetividade de vacinas. Ela precisa gastar recursos para prover esse serviço, e espera cobrar de indivíduos interessados nessa informação para disponibilizá-la. Mas, uma vez que essa informação é divulgada, dificilmente ela ficará restrita a quem pagou para recebê-la. Outros que não pagaram certamente terão acesso ao conhecimento.

Assim, as pessoas terão pouco incentivo a pagar pela informação. A empresa, consequentemente, não será economicamente viável. Em outras palavras, trata-se de um serviço que não será provisionado pelo setor privado.

Por isso é necessário que o Estado entre na jogada. Ele compulsoriamente cobra da população (via impostos) para prover esse serviço.

Contudo, não basta que o governo contrate pessoas competentes e independentes para avaliar remédios ou vacinas. É preciso que a população confie na informação. Caso contrário, pode ser que muitas pessoas optem por não aceitá-la.

A politização da vacina pode justamente acentuar esse problema de confiança. Por que motivo confiaríamos na vacina do Jair ou do João? Suas motivações são estritamente o bem-estar e a saúde pública, ou há algo escondido? Os órgãos competentes estão sendo pressionados para produzir resultados que são favoráveis a um político ou outro?

Tudo isso pode levantar dúvidas na cabeça das pessoas, o que pode torná-las reticentes a se imunizar, quando tivermos uma vacina efetiva. Afinal, como dissemos, não é necessário apenas que tenhamos uma vacina. A grande maioria da população tem que acreditar que ela funciona.

Infelizmente a política está atuando de maneira adversa nesse jogo. Dessa forma, o Estado perde sua capacidade de prover um importante bem público, principalmente nessa época de pandemia: informar a população sobre a efetividade de remédios e vacinas. Não pela falta de capacidade da máquina pública, mas pela incapacidade de passar a mensagem à população.

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