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Nosso texto da semana passada levantou questionamentos sobre a forma como a inflação afeta a vida de todos. Sabemos que, sim, ela incomoda e machuca. Tira o sono de milhões de brasileiros. O IPCA, principal índice de inflação ao consumidor do país, já se aproxima dos 10% no acumulado dos últimos 12 meses. Trata-se de um aumento considerável no custo de vida. Quem tem um emprego estável pode até tentar negociar um aumento para repor parte dessa tungada – difícil, dado que as condições do mercado de trabalho estão ainda complicadas. Para quem está desempregado, o impacto é ainda maior.


Esse processo inflacionário está afetando ainda mais adversamente os mais pobres. É só comparar o IPCA – que se baseia no orçamento de famílias que recebem de 1 a 40 salários mínimos – com outro importante índice de inflação, o INPC, que foca em famílias mais pobres, cuja renda é de 1 a 5 salários mínimos. No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação do INPC já passou dos dois dígitos.

Isso se deve, em larga medida, ao encarecimento dos itens de alimentação, que pesam mais no orçamento de domicílios mais pobres. Ou seja, a crise da covid-19 provavelmente trará impactos enormes em termos de desigualdade. Primeiro porque indivíduos em ocupações de qualificação mais baixa têm mais dificuldade em transitar para o trabalho remoto. Segundo, porque a elevação no custo de vida está afetando mais pessoas com menor renda, por causa dos aumentos nos preços de alimentos.

A pergunta é: o que o Banco Central deveria fazer? Afinal, uma das principais missões da instituição é manter a estabilidade de preços. Neste ano, a meta de inflação é de 3,75%, com intervalo de tolerância de 1,5% para cima e para baixo. Com a inflação acumulada rondando os 10%, ela certamente não será cumprida. O Banco Central não deveria estar fazendo mais?

Ele já vem aumentando de maneira relativamente agressiva a taxa básica de juros (a Selic), sinalizando que está preocupado com a inflação alta. Mas, para que a inflação convergisse para a meta deste ano, teria de realizar um aumento cavalar na Selic, enterrando de vez a recuperação econômica. E essa estratégia teria pouca chance de sucesso em empurrar a inflação para a meta. Ou seja, a alternativa à inflação alta não é lá muito atrativa.

Mas o “furo” da meta de inflação neste ano não comprometeria a credibilidade do Banco Central?

Em nosso entendimento não. Isso porque tivemos várias situações atípicas que empurraram a inflação para cima em 2021, e que não têm muito a ver com política monetária, como crise hídrica, subida no preço internacional de commodities e falta de insumos no mercado internacional – fora os arroubos vindos da presidência da República, que vira e mexe fazem o dólar subir.

Então uma inflação elevada em um ano isolado e atípico não deverá comprometer a capacidade do Banco Central de manter a estabilidade de preços. A questão é não deixar que esse processo contamine os próximos anos. Por isso todas as declarações recentes do Banco Central de que está preocupado com a meta de 2022 e 2023.

E aqui o lado fiscal será crucial. Sem contas públicas arrumadas, não há credibilidade do Banco Central que faça milagre. Entretanto, todas as indicações vindas de Brasília vão no sentido contrário, com perspectivas de expansão de gastos e relaxamento de regras fiscais – ainda mais porque 2022 é ano eleitoral.

COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE SÃO PAULO

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A inflação de hoje não pode contaminar os próximos anos

Nosso texto da semana passada levantou questionamentos sobre a forma como a inflação afeta a vida de todos. Sabemos que, sim, ela incomoda e machuca. Tira o sono de milhões de brasileiros. O IPCA, principal índice de inflação ao consumidor do país, já se aproxima dos 10% no acumulado dos últimos 12 meses. Trata-se de um aumento considerável no custo de vida. Quem tem um emprego estável pode até tentar negociar um aumento para repor parte dessa tungada – difícil, dado que as condições do mercado de trabalho estão ainda complicadas. Para quem está desempregado, o impacto é ainda maior.


Esse processo inflacionário está afetando ainda mais adversamente os mais pobres. É só comparar o IPCA – que se baseia no orçamento de famílias que recebem de 1 a 40 salários mínimos – com outro importante índice de inflação, o INPC, que foca em famílias mais pobres, cuja renda é de 1 a 5 salários mínimos. No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação do INPC já passou dos dois dígitos.

Isso se deve, em larga medida, ao encarecimento dos itens de alimentação, que pesam mais no orçamento de domicílios mais pobres. Ou seja, a crise da covid-19 provavelmente trará impactos enormes em termos de desigualdade. Primeiro porque indivíduos em ocupações de qualificação mais baixa têm mais dificuldade em transitar para o trabalho remoto. Segundo, porque a elevação no custo de vida está afetando mais pessoas com menor renda, por causa dos aumentos nos preços de alimentos.

A pergunta é: o que o Banco Central deveria fazer? Afinal, uma das principais missões da instituição é manter a estabilidade de preços. Neste ano, a meta de inflação é de 3,75%, com intervalo de tolerância de 1,5% para cima e para baixo. Com a inflação acumulada rondando os 10%, ela certamente não será cumprida. O Banco Central não deveria estar fazendo mais?

Ele já vem aumentando de maneira relativamente agressiva a taxa básica de juros (a Selic), sinalizando que está preocupado com a inflação alta. Mas, para que a inflação convergisse para a meta deste ano, teria de realizar um aumento cavalar na Selic, enterrando de vez a recuperação econômica. E essa estratégia teria pouca chance de sucesso em empurrar a inflação para a meta. Ou seja, a alternativa à inflação alta não é lá muito atrativa.

Mas o “furo” da meta de inflação neste ano não comprometeria a credibilidade do Banco Central?

Em nosso entendimento não. Isso porque tivemos várias situações atípicas que empurraram a inflação para cima em 2021, e que não têm muito a ver com política monetária, como crise hídrica, subida no preço internacional de commodities e falta de insumos no mercado internacional – fora os arroubos vindos da presidência da República, que vira e mexe fazem o dólar subir.

Então uma inflação elevada em um ano isolado e atípico não deverá comprometer a capacidade do Banco Central de manter a estabilidade de preços. A questão é não deixar que esse processo contamine os próximos anos. Por isso todas as declarações recentes do Banco Central de que está preocupado com a meta de 2022 e 2023.

E aqui o lado fiscal será crucial. Sem contas públicas arrumadas, não há credibilidade do Banco Central que faça milagre. Entretanto, todas as indicações vindas de Brasília vão no sentido contrário, com perspectivas de expansão de gastos e relaxamento de regras fiscais – ainda mais porque 2022 é ano eleitoral.

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