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Ao que tudo indica, teremos uma temporada agitada de ofertas públicas de ações (IPO, em inglês) pela frente. Atualmente, a Comissão de Valores Mobiliários está analisando um total de 21 novos pedidos. Fazia tempo que não tínhamos um número tão grande em análise.

Essa agitação no mercado de IPOs já havia se iniciado no ano passado, mas a incerteza causada pelo coronavírus levou algumas empresas a adiar suas ofertas. A expectativa agora é que essas ofertas sejam retomadas e que outras novas sejam registradas na CVM.

Por incrível que pareça, os ventos parecem favoráveis para a captação de recursos. A crise sem precedentes causada pelo coronavírus acabou levando os bancos centrais a tomar atitudes também sem precedentes. Nem a resposta dos bancos centrais à grande crise financeira de 2008 foi tão rápida e contundente como a que estamos presenciando agora.

Com juros baixíssimos, o dinheiro sai em busca de lugares mais arriscados, como a Bolsa de Valores. No Brasil, esse movimento já era perceptível antes da crise. Com a taxa Selic no nível mais baixo da sua história, o fluxo de investidores procurando a Bolsa aumentou como nunca. O número de contas na Bolsa de Valores cresceu mais de 50% em 2020, e o número de pessoas que operam na Bolsa superou pela primeira vez a marca dos dois milhões.

As empresas utilizam os IPOs – e também as ofertas secundárias, no caso de empresas que já estão listadas na Bolsa e que querem captar mais recursos, as chamadas secondary market offerings – para levantar recursos diretamente. A empresa não precisa pagar juros sobre o dinheiro levantado, algo que teria de fazer se pegasse dinheiro emprestado – os dividendos, a remuneração que é dada aos acionistas, é discricionário e só é pago quando a empresa tem lucro. O dinheiro levantado pode ser livremente utilizado para a expansão do negócio, seja através de investimentos na capacidade produtiva, seja por meio de aquisições de outras empresas. Negócios com escalas maiores se tornam mais eficientes, algo positivo não só para a empresa, mas para a economia como um todo, que utiliza melhor seus recursos.

Isso não significa que investir em IPOs ou em ofertas secundárias não tem riscos.

Alguns setores da economia foram afetados profundamente pelo coronavírus e dificilmente necessitarão de novos investimentos tão cedo. Alguns dos prospectos que acompanham os IPOs foram escritos antes da crise e certamente terão de ser repensados. Um caso emblemático foi a recente tentativa de emissão secundária da empresa de locação de veículos Hertz. A empresa pretendia levantar 500 milhões de dólares no mês de junho, mas acabou entrando em concordata em maio por causa da crise. Mesmo assim, a Hertz pretendia levar adiante a emissão secundária por avaliar que ainda havia demanda, em grande medida impulsionada por investidores desprevenidos. Por pressão da SEC, a CVM americana, a empresa decidiu suspender a oferta, para felicidade dos desavisados.

COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE SÃO PAULO

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Aberta a temporada de IPOs

Ao que tudo indica, teremos uma temporada agitada de ofertas públicas de ações (IPO, em inglês) pela frente. Atualmente, a Comissão de Valores Mobiliários está analisando um total de 21 novos pedidos. Fazia tempo que não tínhamos um número tão grande em análise.

Essa agitação no mercado de IPOs já havia se iniciado no ano passado, mas a incerteza causada pelo coronavírus levou algumas empresas a adiar suas ofertas. A expectativa agora é que essas ofertas sejam retomadas e que outras novas sejam registradas na CVM.

Por incrível que pareça, os ventos parecem favoráveis para a captação de recursos. A crise sem precedentes causada pelo coronavírus acabou levando os bancos centrais a tomar atitudes também sem precedentes. Nem a resposta dos bancos centrais à grande crise financeira de 2008 foi tão rápida e contundente como a que estamos presenciando agora.

Com juros baixíssimos, o dinheiro sai em busca de lugares mais arriscados, como a Bolsa de Valores. No Brasil, esse movimento já era perceptível antes da crise. Com a taxa Selic no nível mais baixo da sua história, o fluxo de investidores procurando a Bolsa aumentou como nunca. O número de contas na Bolsa de Valores cresceu mais de 50% em 2020, e o número de pessoas que operam na Bolsa superou pela primeira vez a marca dos dois milhões.

As empresas utilizam os IPOs – e também as ofertas secundárias, no caso de empresas que já estão listadas na Bolsa e que querem captar mais recursos, as chamadas secondary market offerings – para levantar recursos diretamente. A empresa não precisa pagar juros sobre o dinheiro levantado, algo que teria de fazer se pegasse dinheiro emprestado – os dividendos, a remuneração que é dada aos acionistas, é discricionário e só é pago quando a empresa tem lucro. O dinheiro levantado pode ser livremente utilizado para a expansão do negócio, seja através de investimentos na capacidade produtiva, seja por meio de aquisições de outras empresas. Negócios com escalas maiores se tornam mais eficientes, algo positivo não só para a empresa, mas para a economia como um todo, que utiliza melhor seus recursos.

Isso não significa que investir em IPOs ou em ofertas secundárias não tem riscos.

Alguns setores da economia foram afetados profundamente pelo coronavírus e dificilmente necessitarão de novos investimentos tão cedo. Alguns dos prospectos que acompanham os IPOs foram escritos antes da crise e certamente terão de ser repensados. Um caso emblemático foi a recente tentativa de emissão secundária da empresa de locação de veículos Hertz. A empresa pretendia levantar 500 milhões de dólares no mês de junho, mas acabou entrando em concordata em maio por causa da crise. Mesmo assim, a Hertz pretendia levar adiante a emissão secundária por avaliar que ainda havia demanda, em grande medida impulsionada por investidores desprevenidos. Por pressão da SEC, a CVM americana, a empresa decidiu suspender a oferta, para felicidade dos desavisados.


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