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A política para o meio ambiente é um dos pontos de discordância entre as diferentes tribos políticas no Brasil.

De um lado, uma das tribos, que chamaremos aqui de Tribo dos Destros, argumenta que intervenção governamental e regulações ambientais são entraves para o desenvolvimento da agricultura, talvez o setor mais competitivo de nossa economia, fonte de renda para milhões de brasileiros.

Essa tribo acredita, inclusive, que este obstáculo é imposto por forças externas que não querem que o Brasil se desenvolva, e apontam para a destruição das florestas em países desenvolvidos onde ficam as sedes de organizações não-governamentais que pressionam pela preservação do meio-ambiente.

Na outra margem do rio, a outra tribo, a Tribo dos Canhotos, argumenta que a expansão descontrolada do agronegócio corre o risco de matar a galinha de ovos de ouro, ao destruir o meio-ambiente. Sem a regulamentação ambiental, o agricultor não levaria em conta os danos de sua atividade sobre o meio-ambiente, legando para o futuro uma terra menos fértil e rios contaminados por agrotóxicos e resíduos agroindustriais.

A preocupação de quem é dessa tribo tem base científica, facilmente verificável por qualquer viajante que passe pela antiga zona cafeeira do Vale do Paraíba fluminense, onde práticas agrícolas não sustentáveis no século XIX deixaram para trás destruição ambiental e um rastro de cidades empobrecidas até os dias de hoje.

O presidente eleito com apoio dos Destros, Jair Bolsonaro, anunciou que sua reforma ministerial reduziria o número de ministérios e propôs a fusão das pastas da Agricultura e do Meio Ambiente.

Do ponto de vista da política ambiental, a decisão parece sob medida para agradar o agronegócio, afinal, com a pasta do Meio Ambiente subordinada à da Agricultura, seria esperado que os limites impostos pelas políticas ambientais poderiam ser removidos, permitindo maior expansão do agronegócio e maiores lucros.

Exceto que não.

Foi o próprio ministro da Agricultura do governo Temer, Blairo Maggi –um dos maiores plantadores de soja do mundo, representante do agro-negócio e membro da Tribo dos Destros– que soou o alerta.

O relaxamento das políticas ambientais pode ser danoso para a própria agricultura. Gostemos ou não, é um fato da vida: nossos produtos agrícolas são exportados para países que trazem sua própria agenda de conservação ambiental.

Se o Brasil for visto como país que não faz sua parte para preservar o meio-ambiente e garantir o bem-estar das populações futuras, nossos produtos podem ser taxados ou até banidos em alguns de nossos maiores importadores.

Mas há ainda outros problemas com a fusão dos dois ministérios. A maior parte das regulamentações ambientais não dizem respeito ao agronegócio, mas, sim, aos setores energético, industrial e de infraestrutura.

Tanto Destros quanto Canhotos devem concordar que não faz o menor sentido passar ao Ministério da Agricultura a responsabilidade de regular as emissões das chaminés dos fornos industriais ou os alvarás para usinas hidrelétricas.

Coluna publicada na Folha.com

 

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Agricultura e Meio Ambiente cabem num só ministério?

A política para o meio ambiente é um dos pontos de discordância entre as diferentes tribos políticas no Brasil. De um lado, uma das tribos, que chamaremos aqui de Tribo dos Destros, argumenta que intervenção governamental e regulações ambientais são entraves para o desenvolvimento da agricultura, talvez o setor mais competitivo de nossa economia, fonte de renda para milhões de brasileiros. Essa tribo acredita, inclusive, que este obstáculo é imposto por forças externas que não querem que o Brasil se desenvolva, e apontam para a destruição das florestas em países desenvolvidos onde ficam as sedes de organizações não-governamentais que pressionam pela preservação do meio-ambiente. Na outra margem do rio, a outra tribo, a Tribo dos Canhotos, argumenta que a expansão descontrolada do agronegócio corre o risco de matar a galinha de ovos de ouro, ao destruir o meio-ambiente. Sem a regulamentação ambiental, o agricultor não levaria em conta os danos de sua atividade sobre o meio-ambiente, legando para o futuro uma terra menos fértil e rios contaminados por agrotóxicos e resíduos agroindustriais. A preocupação de quem é dessa tribo tem base científica, facilmente verificável por qualquer viajante que passe pela antiga zona cafeeira do Vale do Paraíba fluminense, onde práticas agrícolas não sustentáveis no século XIX deixaram para trás destruição ambiental e um rastro de cidades empobrecidas até os dias de hoje. O presidente eleito com apoio dos Destros, Jair Bolsonaro, anunciou que sua reforma ministerial reduziria o número de ministérios e propôs a fusão das pastas da Agricultura e do Meio Ambiente. Do ponto de vista da política ambiental, a decisão parece sob medida para agradar o agronegócio, afinal, com a pasta do Meio Ambiente subordinada à da Agricultura, seria esperado que os limites impostos pelas políticas ambientais poderiam ser removidos, permitindo maior expansão do agronegócio e maiores lucros. Exceto que não. Foi o próprio ministro da Agricultura do governo Temer, Blairo Maggi –um dos maiores plantadores de soja do mundo, representante do agro-negócio e membro da Tribo dos Destros– que soou o alerta. O relaxamento das políticas ambientais pode ser danoso para a própria agricultura. Gostemos ou não, é um fato da vida: nossos produtos agrícolas são exportados para países que trazem sua própria agenda de conservação ambiental. Se o Brasil for visto como país que não faz sua parte para preservar o meio-ambiente e garantir o bem-estar das populações futuras, nossos produtos podem ser taxados ou até banidos em alguns de nossos maiores importadores. Mas há ainda outros problemas com a fusão dos dois ministérios. A maior parte das regulamentações ambientais não dizem respeito ao agronegócio, mas, sim, aos setores energético, industrial e de infraestrutura. Tanto Destros quanto Canhotos devem concordar que não faz o menor sentido passar ao Ministério da Agricultura a responsabilidade de regular as emissões das chaminés dos fornos industriais ou os alvarás para usinas hidrelétricas. Coluna publicada na Folha.com   Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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