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No exterior, começaram a falar que podemos ter, em 2021, uma correção na Bolsa americana (https://www.forbes.com/sites/mikepatton/2021/06/07/preparing-for-the-next-stock-bubble-what-investors-need-to-know/?sh=1a2c24891f74, https://www.bloomberg.com/news/articles/2021-06-22/bubble-expert-jeremy-grantham-addresses-epic-equities-euphoria). Haveria uma bolha prestes a explodir, potencialmente causada pelo comportamento frenético dos investidores individuais (pessoas físicas) nesses últimos anos? Não sei. Mas neste artigo vamos entender um pouco o que os economistas sabem sobre bolhas em geral.

Bolhas financeiras crescem, crescem, crescem e, de repente, estouram. Normalmente, crescem por alguns anos e estouram em algumas semanas ou até em alguns dias. O mundo já viveu várias bolhas famosas: a bolha das tulipas na Holanda (Tulip Mania, 1634-1637), a bolha do Mississippi (Mississippi Bubble, 1719-1720), a bolha do Mar do Sul (South Sea Bubble, 1720), a bolha dos anos 1920 que precedeu o crash de 1929 (Roaring Twenties) e, mais recentemente, a bolha da internet (DotCom Bubble, 1997-2000).

Bolhas existem. Isso é fato. Se o preço de um ativo sobe, sobe, sobe e, de repente, sem nenhuma grande novidade, despenca, existia, por definição, uma bolha – nos eventos citados no parágrafo anterior aconteceu exatamente isso. No entanto, muita atenção: a parte do “sem nenhuma grande novidade” é fundamental! Caso contrário, não se trata de uma bolha. Se o cenário econômico mudou de repente, se uma pandemia apareceu, se aconteceu qualquer mudança relevante e, por causa disso, os preços despencaram, não era bolha. Ocorreu simplesmente uma mudança abrupta das expectativas baseada em um bom motivo, os famosos choques.

As bolhas, por sua vez, são bichos bem estranhos e precisam ser compreendidos. Todo mundo está feliz, comprando, comprando e comprando. Num piscar de olhos, sem mais nem menos, todos mudam de ideia. Como assim? Os preços dos ativos financeiros afetam a economia real. Por isso, é muito importante entender as circunstâncias nas quais essas bolhas ocorrem. Como explicar teoricamente (i) o surgimento, (ii) a evolução e (iii) o estouro dessas bolhas?

Bolhas são, sem dúvida, uma das grandes pedras nos sapatos bem engraxados dos economistas. Há uns 40 anos, não tínhamos a menor ideia de como explicar (i), (ii) e (iii). A partir de 1970, no entanto, isso melhorou. Começaram a surgir diversos modelos econômicos que foram clareando o horizonte. Hoje, as perguntas “Por que as bolhas perduram por tanto tempo?” e “Por que as bolhas estouram?” já não são tão enigmáticas. Por outro lado, ainda não entendemos bem como elas surgem. Bom, vamos falar um pouco sobre o que já entendemos.

Há algumas histórias, teoricamente consistentes, que explicam a existência e a evolução de uma bolha. Uma delas nos ensina que mesmo que todos os investidores saibam que os preços estão acima dos fundamentos, a bolha ainda pode continuar a crescer. Como? Simples: basta que nem todos saibam que todos sabem disso. Nesse caso, os investidores que se acham os sabichões veem uma oportunidade de surfar por um tempo na bolha; assim, os preços altos, aparentemente irracionais, podem perdurar. Outra possibilidade é que um grupo saiba que os preços estão errados, mas outro grupo não. Se o grupo informado estiver incerto quanto ao tamanho do grupo não informado, aquele ficaria com medo de sair vendendo e, mesmo assim, a bolha continuaria a crescer por algum tempo, o que os levaria a perder dinheiro.

Como dizem lá fora, “leaning against a bubble is very risky” – ou seja, “apoiar-se em uma bolha é bem arriscado”. Esse risco é ainda maior porque há o problema da coordenação dos informados. Cada informado tenta adivinhar quando o outro informado vai atacar a bolha. Isso é muito complicado.

Tudo bem. A partir de algumas histórias que explicam como as bolhas conseguem evoluir, como podemos racionalizar o estouro das bolhas de uma hora para a outra? O final do parágrafo anterior nos dá uma dica. Notícias relativamente insignificantes podem disparar o estouro da bolha. Por quê? Não dissemos que o problema de coordenação dos informados é importante para manter a bolha crescendo? Uma notícia pouco importante pode permitir que os informados sincronizem suas vendas. Um sinal de venda é dado, os investidores informados se coordenam e, enfim, a bolha estoura. 

Dada essa discussão, fica claro quão difícil é saber se há de fato agora uma bolha e, em caso afirmativo, quando ela vai estourar. Essa será sempre uma pergunta de muitos milhões de dólares.

COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE SÃO PAULO

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Bolha nas ações dos Estados Unidos?

No exterior, começaram a falar que podemos ter, em 2021, uma correção na Bolsa americana (https://www.forbes.com/sites/mikepatton/2021/06/07/preparing-for-the-next-stock-bubble-what-investors-need-to-know/?sh=1a2c24891f74, https://www.bloomberg.com/news/articles/2021-06-22/bubble-expert-jeremy-grantham-addresses-epic-equities-euphoria). Haveria uma bolha prestes a explodir, potencialmente causada pelo comportamento frenético dos investidores individuais (pessoas físicas) nesses últimos anos? Não sei. Mas neste artigo vamos entender um pouco o que os economistas sabem sobre bolhas em geral.

Bolhas financeiras crescem, crescem, crescem e, de repente, estouram. Normalmente, crescem por alguns anos e estouram em algumas semanas ou até em alguns dias. O mundo já viveu várias bolhas famosas: a bolha das tulipas na Holanda (Tulip Mania, 1634-1637), a bolha do Mississippi (Mississippi Bubble, 1719-1720), a bolha do Mar do Sul (South Sea Bubble, 1720), a bolha dos anos 1920 que precedeu o crash de 1929 (Roaring Twenties) e, mais recentemente, a bolha da internet (DotCom Bubble, 1997-2000).

Bolhas existem. Isso é fato. Se o preço de um ativo sobe, sobe, sobe e, de repente, sem nenhuma grande novidade, despenca, existia, por definição, uma bolha – nos eventos citados no parágrafo anterior aconteceu exatamente isso. No entanto, muita atenção: a parte do “sem nenhuma grande novidade” é fundamental! Caso contrário, não se trata de uma bolha. Se o cenário econômico mudou de repente, se uma pandemia apareceu, se aconteceu qualquer mudança relevante e, por causa disso, os preços despencaram, não era bolha. Ocorreu simplesmente uma mudança abrupta das expectativas baseada em um bom motivo, os famosos choques.

As bolhas, por sua vez, são bichos bem estranhos e precisam ser compreendidos. Todo mundo está feliz, comprando, comprando e comprando. Num piscar de olhos, sem mais nem menos, todos mudam de ideia. Como assim? Os preços dos ativos financeiros afetam a economia real. Por isso, é muito importante entender as circunstâncias nas quais essas bolhas ocorrem. Como explicar teoricamente (i) o surgimento, (ii) a evolução e (iii) o estouro dessas bolhas?

Bolhas são, sem dúvida, uma das grandes pedras nos sapatos bem engraxados dos economistas. Há uns 40 anos, não tínhamos a menor ideia de como explicar (i), (ii) e (iii). A partir de 1970, no entanto, isso melhorou. Começaram a surgir diversos modelos econômicos que foram clareando o horizonte. Hoje, as perguntas “Por que as bolhas perduram por tanto tempo?” e “Por que as bolhas estouram?” já não são tão enigmáticas. Por outro lado, ainda não entendemos bem como elas surgem. Bom, vamos falar um pouco sobre o que já entendemos.

Há algumas histórias, teoricamente consistentes, que explicam a existência e a evolução de uma bolha. Uma delas nos ensina que mesmo que todos os investidores saibam que os preços estão acima dos fundamentos, a bolha ainda pode continuar a crescer. Como? Simples: basta que nem todos saibam que todos sabem disso. Nesse caso, os investidores que se acham os sabichões veem uma oportunidade de surfar por um tempo na bolha; assim, os preços altos, aparentemente irracionais, podem perdurar. Outra possibilidade é que um grupo saiba que os preços estão errados, mas outro grupo não. Se o grupo informado estiver incerto quanto ao tamanho do grupo não informado, aquele ficaria com medo de sair vendendo e, mesmo assim, a bolha continuaria a crescer por algum tempo, o que os levaria a perder dinheiro.

Como dizem lá fora, “leaning against a bubble is very risky” – ou seja, “apoiar-se em uma bolha é bem arriscado”. Esse risco é ainda maior porque há o problema da coordenação dos informados. Cada informado tenta adivinhar quando o outro informado vai atacar a bolha. Isso é muito complicado.

Tudo bem. A partir de algumas histórias que explicam como as bolhas conseguem evoluir, como podemos racionalizar o estouro das bolhas de uma hora para a outra? O final do parágrafo anterior nos dá uma dica. Notícias relativamente insignificantes podem disparar o estouro da bolha. Por quê? Não dissemos que o problema de coordenação dos informados é importante para manter a bolha crescendo? Uma notícia pouco importante pode permitir que os informados sincronizem suas vendas. Um sinal de venda é dado, os investidores informados se coordenam e, enfim, a bolha estoura. 

Dada essa discussão, fica claro quão difícil é saber se há de fato agora uma bolha e, em caso afirmativo, quando ela vai estourar. Essa será sempre uma pergunta de muitos milhões de dólares.

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