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Jair Bolsonaro será o presidente do país a partir de 2019. Como sói acontecer alhures, a crise de confiança no sistema político, a corrupção enraizada e a ineficácia dos partidos tradicionais em tratar dos problemas concretos da população –como a violência (alta e em alta) e o desemprego (alto e em baixa)– levaram à escolha de um outsider sem experiência executiva e com parca contribuição legislativa. Suas propostas são vagas, mas o que importou foi o tom e a promessa com rompimento com “tudo que está aí”.
O fim do processo eleitoral não marca, contudo, o fim das incertezas que pairam sobre o país. No que se refere à economia, há duas fases críticas pela frente. A primeira é a que vai de agora até o início do governo; a segunda são os primeiros seis meses do governo novo. Mas, antes de falar mais sobre as incertezas, um parêntese: em nossa opinião, os mercados vêm comemorando não exatamente a vitória do PSL, preanunciada nas pesquisas de intenção. Eles têm celebrado, sim, a derrota das propostas sem pé nem cabeça para a economia que constavam no programa de governo do PT (e no de Ciro). Curiosamente, o fracasso retumbante do Dilma II tornou os investidores céticos quanto à ideia de que o programa defendido na campanha seja sem importância, retórica vazia, que pode ser resolvido por Fulano ou Sicrano. Fulano e Sicrano não resolvem. Estelionato eleitoral acaba mal: Joaquim Levy durou pouquíssimo no cargo. A fala vaga, mas consistentemente liberal, do guru da economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, foi considerada menos pior. No período que vai até janeiro, duas coisas precisam acontecer. Primeiro, é preciso mostrar claramente quem será a equipe. Quais nomes do dream team atual ficarão? Em que posições, com qual prestígio? Isso é relevante porque a memória institucional precisa ser preservada; gente como Ana Paula Vescovi e Mansueto Almeida conhecem tintim por tintim a estrutura do Orçamento, as propostas debatidas, etc. Em segundo lugar, o capitão do time, Paulo Guedes, precisa detalhar ao lado de sua equipe, sem possibilidade de descambar para a enrolação, o que de fato pretende fazer ("pretende" foi um termo escolhido de modo intencional) sobre: Previdência, reforma tributária, Banco Central, agências reguladoras, comércio internacional, privatizações, PEC do Teto etc. Se mostrar inabilidade para meter a mão na massa, ou tentar reinventar a roda – por exemplo, jogando fora anos de discussão sobre reforma previdenciária para pôr em pauta uma mudança de regime (para capitalização) – , a lua de mel com o mercado acaba antes mesmo de primeiro de janeiro. Didaticamente, suponhamos que a fase 1 das reduções das incertezas seja superada com nota alta e o governo passe na prova. Aí vem a fase 2, talvez ainda mais crítica: a de apresentar à sociedade e ao Congresso e, em não mais do que em alguns trimestres, aprovar as reformas detalhadas na fase 1. Para isso, considerando fechada a opção bastante usada no passado de comprar (literalmente) os votos das Nossas Excelências, Jair Bolsonaro e Onyx Lorenzoni, indicado como ministro da Casa Civil, precisarão mostrar uma até aqui não revelada capacidade de dialogar e negociar com gente variada. Quais as chances de conseguirem fazer isso com sucesso? Recapitulando: até aqui as propostas econômicas apresentadas por Paulo Guedes foram vagas. Em poucas semanas, não podem mais sê-lo. Além disso, como o fiscal está na berlinda, logo nos primeiros meses de 2019 precisaremos de resultados concretos, como reforma previdenciária aprovada em primeira rodada. Não é pouco. E por trás dessas incertezas importantes, porém mundanas, há um outra, maior, agourenta, estrutural: o quanto estaria o presidente de fato comprometido com esse curso de ação liberalizante/modernizante na economia? Pois se Bolsonaro for na verdade, lá no fundo, o Bolsonaro corporativista, protecionista e estatista que sempre foi até o chamado casamento hétero de ocasião com Paulo Guedes, o que ocorre com a agenda de reformas caso a coisa se complique e a largada não seja das melhores? As incertezas, caros, seguem enormes.

Coluna publicada na Folha.com

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Bolsonaro venceu, e agora?

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Jair Bolsonaro será o presidente do país a partir de 2019. Como sói acontecer alhures, a crise de confiança no sistema político, a corrupção enraizada e a ineficácia dos partidos tradicionais em tratar dos problemas concretos da população –como a violência (alta e em alta) e o desemprego (alto e em baixa)– levaram à escolha de um outsider sem experiência executiva e com parca contribuição legislativa. Suas propostas são vagas, mas o que importou foi o tom e a promessa com rompimento com “tudo que está aí”.
O fim do processo eleitoral não marca, contudo, o fim das incertezas que pairam sobre o país. No que se refere à economia, há duas fases críticas pela frente. A primeira é a que vai de agora até o início do governo; a segunda são os primeiros seis meses do governo novo. Mas, antes de falar mais sobre as incertezas, um parêntese: em nossa opinião, os mercados vêm comemorando não exatamente a vitória do PSL, preanunciada nas pesquisas de intenção. Eles têm celebrado, sim, a derrota das propostas sem pé nem cabeça para a economia que constavam no programa de governo do PT (e no de Ciro). Curiosamente, o fracasso retumbante do Dilma II tornou os investidores céticos quanto à ideia de que o programa defendido na campanha seja sem importância, retórica vazia, que pode ser resolvido por Fulano ou Sicrano. Fulano e Sicrano não resolvem. Estelionato eleitoral acaba mal: Joaquim Levy durou pouquíssimo no cargo. A fala vaga, mas consistentemente liberal, do guru da economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, foi considerada menos pior. No período que vai até janeiro, duas coisas precisam acontecer. Primeiro, é preciso mostrar claramente quem será a equipe. Quais nomes do dream team atual ficarão? Em que posições, com qual prestígio? Isso é relevante porque a memória institucional precisa ser preservada; gente como Ana Paula Vescovi e Mansueto Almeida conhecem tintim por tintim a estrutura do Orçamento, as propostas debatidas, etc. Em segundo lugar, o capitão do time, Paulo Guedes, precisa detalhar ao lado de sua equipe, sem possibilidade de descambar para a enrolação, o que de fato pretende fazer ("pretende" foi um termo escolhido de modo intencional) sobre: Previdência, reforma tributária, Banco Central, agências reguladoras, comércio internacional, privatizações, PEC do Teto etc. Se mostrar inabilidade para meter a mão na massa, ou tentar reinventar a roda – por exemplo, jogando fora anos de discussão sobre reforma previdenciária para pôr em pauta uma mudança de regime (para capitalização) – , a lua de mel com o mercado acaba antes mesmo de primeiro de janeiro. Didaticamente, suponhamos que a fase 1 das reduções das incertezas seja superada com nota alta e o governo passe na prova. Aí vem a fase 2, talvez ainda mais crítica: a de apresentar à sociedade e ao Congresso e, em não mais do que em alguns trimestres, aprovar as reformas detalhadas na fase 1. Para isso, considerando fechada a opção bastante usada no passado de comprar (literalmente) os votos das Nossas Excelências, Jair Bolsonaro e Onyx Lorenzoni, indicado como ministro da Casa Civil, precisarão mostrar uma até aqui não revelada capacidade de dialogar e negociar com gente variada. Quais as chances de conseguirem fazer isso com sucesso? Recapitulando: até aqui as propostas econômicas apresentadas por Paulo Guedes foram vagas. Em poucas semanas, não podem mais sê-lo. Além disso, como o fiscal está na berlinda, logo nos primeiros meses de 2019 precisaremos de resultados concretos, como reforma previdenciária aprovada em primeira rodada. Não é pouco. E por trás dessas incertezas importantes, porém mundanas, há um outra, maior, agourenta, estrutural: o quanto estaria o presidente de fato comprometido com esse curso de ação liberalizante/modernizante na economia? Pois se Bolsonaro for na verdade, lá no fundo, o Bolsonaro corporativista, protecionista e estatista que sempre foi até o chamado casamento hétero de ocasião com Paulo Guedes, o que ocorre com a agenda de reformas caso a coisa se complique e a largada não seja das melhores? As incertezas, caros, seguem enormes.
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