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Em sociedades de mercado, a desigualdade de renda e riqueza entre pessoas é inevitável e, até certo ponto, importante para o funcionamento da economia. Afinal, que incentivo cada indivíduo teria para produzir, inovar e trabalhar duro, se sua remuneração fosse sempre a mesma, independentemente de seu esforço? Mas nem toda a desigualdade está relacionada ao esforço, pois os indivíduos nascem em condições bastante diferentes, que condicionam seu sucesso na vida.

Nesse sentido, situações muito desiguais podem levar à ineficiência econômica. Um indivíduo talentoso, mas nascido em uma família pobre, pode não conseguir explorar seu potencial – por exemplo, porque seus pais não têm recursos ou informação para fazer investimentos necessários na infância ou até antes do nascimento.

Imperfeições no mercado de crédito também contribuem para esse quadro. Uma pessoa pobre mas talentosa raramente consegue um empréstimo para financiar uma educação de qualidade. Pela ausência de garantias, dificilmente um banco toparia emprestar para esse indivíduo. Afinal, se você faz um financiamento para comprar um carro, o banco pode tomar o bem de volta em caso de não pagamento, mas não tem como confiscar o conhecimento adquirido em um financiamento estudantil. Por isso, empréstimos de tal tipo nem sempre estão disponíveis, especialmente para os mais pobres.

Uma nova linha de pesquisa, que mescla elementos de genética e economia, vem jogando luz a essa questão. Recentemente, acadêmicos conseguiram identificar um conjunto de genes que está associado a um bom desempenho escolar. Os economistas Nicholas Papageorge e Kevin Thom tentam relacionar essas informações genéticas com dados sobre educação e salário. Para tanto, usam uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, que contém o mapeamento genético de mais de 8.000 indivíduos em idade adulta. Além disso, a pesquisa contém perguntas retrospectivas, fornecendo indícios das condições socioeconômicas da pessoa durante a infância – veja aqui a pesquisa na íntegra.

Com isso, é possível avaliar qual a situação atual de pessoas com genética favorável que tiveram uma infância pobre.

Em primeiro lugar, os autores encontram que o conjunto de genes associados a desempenho escolar está relativamente bem distribuído na população. Em particular, há indivíduos com genética favorável tanto entre os que reportaram uma infância pobre como entre os inicialmente mais ricos.

No entanto, não só os genes importam para alcançar bons resultados educacionais, tais como conseguir um diploma universitário. As condições na infância são também preponderantes. Em outras palavras, considere dois indivíduos com a genética favorável, um nascido em família rica e outro em família pobre. O primeiro tem uma chance muito maior de se formar na universidade.

E isso se reflete também em salários. Os autores descobriram que, quanto mais favorável a genética para os estudos de um indivíduo, maior em média sua remuneração. Só que essa correlação só se verifica para quem possui diploma universitário – cuja obtenção, como vimos, depende de um empurrãozinho das condições de vida no berço.

Em conjunto, esses resultados sugerem que uma situação familiar desfavorável nos primeiros anos de vida reduz as chances de uma pessoa conseguir a educação necessária para que possa exercer plenamente o potencial dado pela genética. Uma desigualdade aguda contribui para exacerbar esse quadro, ao colocar mais pessoas potencialmente talentosas em situações financeiras complicadas durante a infância.

Como mencionamos acima, essa é uma linha de pesquisa recente. Teremos certamente outras análises empíricas nos próximos anos, que nos darão uma ideia melhor dos mecanismos pelos quais as condições iniciais afetam a aquisição de capital humano. Com isso teremos prescrições de políticas mais claras, que podem ajudar não apenas a melhorar a situação de indivíduos mais vulneráveis na sociedade, como também a ajudar a aumentar a eficiência econômica.

Ainda que os resultados empíricos digam respeito aos Estados Unidos, eles podem ajudar a entender aspectos da economia brasileira. Afinal, nossa sociedade é extremamente desigual. Ficaremos de olho nos desdobramentos dessa linha de pesquisa.

 Coluna publicada originalmente na Folha.com

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Como a sua infância afeta o seu salário?

Em sociedades de mercado, a desigualdade de renda e riqueza entre pessoas é inevitável e, até certo ponto, importante para o funcionamento da economia. Afinal, que incentivo cada indivíduo teria para produzir, inovar e trabalhar duro, se sua remuneração fosse sempre a mesma, independentemente de seu esforço? Mas nem toda a desigualdade está relacionada ao esforço, pois os indivíduos nascem em condições bastante diferentes, que condicionam seu sucesso na vida. Nesse sentido, situações muito desiguais podem levar à ineficiência econômica. Um indivíduo talentoso, mas nascido em uma família pobre, pode não conseguir explorar seu potencial – por exemplo, porque seus pais não têm recursos ou informação para fazer investimentos necessários na infância ou até antes do nascimento. Imperfeições no mercado de crédito também contribuem para esse quadro. Uma pessoa pobre mas talentosa raramente consegue um empréstimo para financiar uma educação de qualidade. Pela ausência de garantias, dificilmente um banco toparia emprestar para esse indivíduo. Afinal, se você faz um financiamento para comprar um carro, o banco pode tomar o bem de volta em caso de não pagamento, mas não tem como confiscar o conhecimento adquirido em um financiamento estudantil. Por isso, empréstimos de tal tipo nem sempre estão disponíveis, especialmente para os mais pobres. Uma nova linha de pesquisa, que mescla elementos de genética e economia, vem jogando luz a essa questão. Recentemente, acadêmicos conseguiram identificar um conjunto de genes que está associado a um bom desempenho escolar. Os economistas Nicholas Papageorge e Kevin Thom tentam relacionar essas informações genéticas com dados sobre educação e salário. Para tanto, usam uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, que contém o mapeamento genético de mais de 8.000 indivíduos em idade adulta. Além disso, a pesquisa contém perguntas retrospectivas, fornecendo indícios das condições socioeconômicas da pessoa durante a infância – veja aqui a pesquisa na íntegra. Com isso, é possível avaliar qual a situação atual de pessoas com genética favorável que tiveram uma infância pobre. Em primeiro lugar, os autores encontram que o conjunto de genes associados a desempenho escolar está relativamente bem distribuído na população. Em particular, há indivíduos com genética favorável tanto entre os que reportaram uma infância pobre como entre os inicialmente mais ricos. No entanto, não só os genes importam para alcançar bons resultados educacionais, tais como conseguir um diploma universitário. As condições na infância são também preponderantes. Em outras palavras, considere dois indivíduos com a genética favorável, um nascido em família rica e outro em família pobre. O primeiro tem uma chance muito maior de se formar na universidade. E isso se reflete também em salários. Os autores descobriram que, quanto mais favorável a genética para os estudos de um indivíduo, maior em média sua remuneração. Só que essa correlação só se verifica para quem possui diploma universitário – cuja obtenção, como vimos, depende de um empurrãozinho das condições de vida no berço. Em conjunto, esses resultados sugerem que uma situação familiar desfavorável nos primeiros anos de vida reduz as chances de uma pessoa conseguir a educação necessária para que possa exercer plenamente o potencial dado pela genética. Uma desigualdade aguda contribui para exacerbar esse quadro, ao colocar mais pessoas potencialmente talentosas em situações financeiras complicadas durante a infância. Como mencionamos acima, essa é uma linha de pesquisa recente. Teremos certamente outras análises empíricas nos próximos anos, que nos darão uma ideia melhor dos mecanismos pelos quais as condições iniciais afetam a aquisição de capital humano. Com isso teremos prescrições de políticas mais claras, que podem ajudar não apenas a melhorar a situação de indivíduos mais vulneráveis na sociedade, como também a ajudar a aumentar a eficiência econômica. Ainda que os resultados empíricos digam respeito aos Estados Unidos, eles podem ajudar a entender aspectos da economia brasileira. Afinal, nossa sociedade é extremamente desigual. Ficaremos de olho nos desdobramentos dessa linha de pesquisa.  Coluna publicada originalmente na Folha.com Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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