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Comparar renda ou diferentes padrões de vida entre países não é bolinho não, mas é crucial. A primeira estratégia que vem em mente é dividir ou multiplicar a renda nacional pela taxa de câmbio – digamos, o dólar – e, a partir daí, comparar as rendas numa mesma moeda. Mas apesar de intuitiva, essa não é uma boa ideia. Vejamos por que, e também como remediar o problema.

O professor Bruno vive na França, tocando viola e bebendo vinho. Seu colega do PQ?, o professor Mauro, vive perto de Manaus, cantando ópera e pescando no grande rio. A taxa de câmbio real/dólar é de 1:4, e a euro/dólar é de 1:0,9. Ou seja, um dólar compra 4 reais, mas apenas 80 centavos de euro. Mauro, o grande tenor-pescador, ganha 30 mil reais por mês. Bruno, ou Brunoro como é conhecido nos cafés de Paris, ganha 9 mil euros. Quem tem a renda mais alta? Não é imediatamente óbvio.

A conta não é trivial, pois não apenas a taxa de conversão ao dólar muda – aliás, essa é a parte trivial do problema. A encrenca é que os preços das cestas de consumo local variam entre países. E a própria cesta também muda. No Amazonas, Mauro não precisa se preocupar com a compra de pesados casacos de pele. Na França, Brunoro não precisa gastar dinheiro com loções antimosquito. A comparação, que parecia bobinha, vai se encalacrando.

Um exemplo fácil para começarmos a colocar as peças nos lugares é o seguinte: Mauro e Brunoro vão viver por 2 meses em Nova York, para aprimorarem seu inglês. Nesse cenário, o que muda em termos de comparação? Agora ficou bem mais razoável converter suas rendas para o dólar e então compará-las, já que os preços dos bens e serviços são os mesmos para os dois, e estão em dólares. Fosse um para Nova York e outro para Little Rock, no Arkansas, estaríamos com problemas de novo. Na tal da Grande Maçã, o aluguel de um quarto apertado sai por uns 3 mil dólares. O mesmo serviço “aluguel de quarto apertado” lá em Pedra Pequena deve custar até menos do que 300 dólares. Mas para nossa sorte, nossos heróis estão passando a tal temporada ambos em Nova York. Quem é mais rico nessa situação específica?

Bem, Mauro tem uma renda em dólares de 30.000/4 = 7,5 mil dólares. Brunoro, o bebum barbudo, tem renda em dólares de 9.000/0.9 = 10 mil dólares. Em Nova York, Bruno é mais rico do que Mauro. O ponto a enfatizar é que essa continha só pode ser feita se ambos vivem, ou no caso, estão vivendo temporariamente no mesmo lugar! Mauro provavelmente tem maior poder aquisitivo em Manaus, onde tudo é barato, do que Brunoro em Paris, onde tudo é caro.

Como saber ao certo? Para o caso de países, organizações como o Banco Mundial, por exemplo, calculam uma medida de paridade de poder de compra (PPP). A ideia por trás desse câmbio de paridade é a seguinte: monta-se uma cesta de bens representativa e calcula-se quanto custaria consumir essa mesma cesta (em moeda local) nos diferentes países.

Por exemplo, se a cesta composta de 12 maçãs + 12 bananas + 12 ovos custam, no Brasil, 30 reais, enquanto a basket comprised of 12 apples + 12 bananas + 12 eggs custam, nos Estados Unidos, 10 dólares, a taxa de câmbio PPP será de 30/10 = 3 reais/dólar. Ou seja, possuir 100 dólares equivaleria a, no Brasil, termos 300 reais no bolso. Essa é a medida de conversão correta para, por exemplo, compararmos os PIBs dos dois países, ou quantas pessoas vivem abaixo da linha de pobreza.

O exemplo foi construído de modo pensado, para gerar uma diferença entre as duas medidas de câmbio. A taxa de câmbio do jornal, também conhecida como taxa de câmbio nominal é, no nosso exemplo, de 4 reais/dólar. Difere, portanto, da taxa de câmbio PPP, 3 reais/dólar. 

O mesmo acontece fora do exemplinho cozinhado. Vejam vocês, no gráfico abaixo, como a taxa do jornal pode diferir – às vezes substancialmente – da utilizada para comparar PIBs.    


Ou seja, quando for comparar renda entre cidadãos vivendo em diferentes países, cuidado com a taxa de câmbio que você vai usar!


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Como comparar rendas? Mauro e Bruno vão à Nova York

Comparar renda ou diferentes padrões de vida entre países não é bolinho não, mas é crucial. A primeira estratégia que vem em mente é dividir ou multiplicar a renda nacional pela taxa de câmbio – digamos, o dólar – e, a partir daí, comparar as rendas numa mesma moeda. Mas apesar de intuitiva, essa não é uma boa ideia. Vejamos por que, e também como remediar o problema.


O professor Bruno vive na França, tocando viola e bebendo vinho. Seu colega do PQ?, o professor Mauro, vive perto de Manaus, cantando ópera e pescando no grande rio. A taxa de câmbio real/dólar é de 1:4, e a euro/dólar é de 1:0,9. Ou seja, um dólar compra 4 reais, mas apenas 80 centavos de euro. Mauro, o grande tenor-pescador, ganha 30 mil reais por mês. Bruno, ou Brunoro como é conhecido nos cafés de Paris, ganha 9 mil euros. Quem tem a renda mais alta? Não é imediatamente óbvio.

A conta não é trivial, pois não apenas a taxa de conversão ao dólar muda – aliás, essa é a parte trivial do problema. A encrenca é que os preços das cestas de consumo local variam entre países. E a própria cesta também muda. No Amazonas, Mauro não precisa se preocupar com a compra de pesados casacos de pele. Na França, Brunoro não precisa gastar dinheiro com loções antimosquito. A comparação, que parecia bobinha, vai se encalacrando.

Um exemplo fácil para começarmos a colocar as peças nos lugares é o seguinte: Mauro e Brunoro vão viver por 2 meses em Nova York, para aprimorarem seu inglês. Nesse cenário, o que muda em termos de comparação? Agora ficou bem mais razoável converter suas rendas para o dólar e então compará-las, já que os preços dos bens e serviços são os mesmos para os dois, e estão em dólares. Fosse um para Nova York e outro para Little Rock, no Arkansas, estaríamos com problemas de novo. Na tal da Grande Maçã, o aluguel de um quarto apertado sai por uns 3 mil dólares. O mesmo serviço “aluguel de quarto apertado” lá em Pedra Pequena deve custar até menos do que 300 dólares. Mas para nossa sorte, nossos heróis estão passando a tal temporada ambos em Nova York. Quem é mais rico nessa situação específica?

Bem, Mauro tem uma renda em dólares de 30.000/4 = 7,5 mil dólares. Brunoro, o bebum barbudo, tem renda em dólares de 9.000/0.9 = 10 mil dólares. Em Nova York, Bruno é mais rico do que Mauro. O ponto a enfatizar é que essa continha só pode ser feita se ambos vivem, ou no caso, estão vivendo temporariamente no mesmo lugar! Mauro provavelmente tem maior poder aquisitivo em Manaus, onde tudo é barato, do que Brunoro em Paris, onde tudo é caro.

Como saber ao certo? Para o caso de países, organizações como o Banco Mundial, por exemplo, calculam uma medida de paridade de poder de compra (PPP). A ideia por trás desse câmbio de paridade é a seguinte: monta-se uma cesta de bens representativa e calcula-se quanto custaria consumir essa mesma cesta (em moeda local) nos diferentes países.

Por exemplo, se a cesta composta de 12 maçãs + 12 bananas + 12 ovos custam, no Brasil, 30 reais, enquanto a basket comprised of 12 apples + 12 bananas + 12 eggs custam, nos Estados Unidos, 10 dólares, a taxa de câmbio PPP será de 30/10 = 3 reais/dólar. Ou seja, possuir 100 dólares equivaleria a, no Brasil, termos 300 reais no bolso. Essa é a medida de conversão correta para, por exemplo, compararmos os PIBs dos dois países, ou quantas pessoas vivem abaixo da linha de pobreza.

O exemplo foi construído de modo pensado, para gerar uma diferença entre as duas medidas de câmbio. A taxa de câmbio do jornal, também conhecida como taxa de câmbio nominal é, no nosso exemplo, de 4 reais/dólar. Difere, portanto, da taxa de câmbio PPP, 3 reais/dólar. 

O mesmo acontece fora do exemplinho cozinhado. Vejam vocês, no gráfico abaixo, como a taxa do jornal pode diferir – às vezes substancialmente – da utilizada para comparar PIBs.    






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