Uma plataforma que vai te ajudar a entender um pouco mais de economia.

														Ficha técnica
Nome do trabalho
Reconciling Environmental Sustainability and Agricultural Productivity: Evidence from Double-Cropping in Brazil (original)
Conciliando Sustentabilidade Ambiental e Produtividade Agrícola: Evidência da Adoção de Segunda Safra no Brasil (tradução)

Autora
Amanda de Albuquerque, PUC-Rio

Orientadores
Orientador: Juliano Assunção
Coorientador: Claudio Ferraz

Local de publicação do trabalho
Tese (doutorado) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Economia, 2022

Link para o original
https://www.econ.puc-rio.br/uploads/adm/trabalhos/files/07_nov_2022_1813258_Completo.pdf

Quem é a autora 

Amanda é doutora e mestre em Economia pela PUC-Rio e graduada em Relações Internacionais pela UnB. O foco de sua carreira são políticas públicas, tendo trabalhado no Ministério do Desenvolvimento Social do Brasil e no Ministério da Saúde de Moçambique. É cofundadora e atual diretora-executiva da Rede A Ponte, organização sem fins lucrativos que tem por objetivo fortalecer a carreira de mulheres na política por meio da implementação de políticas públicas baseadas em evidência.   

Abaixo, Amanda explica suas pesquisas, trabalhos e conclusões.

A que pergunta essa pesquisa responde?
Como o Brasil pode conciliar a necessidade de aumentar a produção de alimentos com a preservação dos recursos ambientais e os desafios impostos pelas mudanças climáticas?
E, ainda: que tipo de prática agrícola é capaz de manter a produtividade agrícola sem esgotar os recursos naturais no longo prazo?

Qual a relevância deste tema? Por que é importante que as pessoas conheçam mais sobre ele?
A agricultura é uma das principais responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa no Brasil, sendo diretamente responsável por 20% das emissões totais. Se incluirmos a mudança no uso da terra, esse número chega a 70%. Para balancear a produção de alimentos com a gestão de recursos naturais é necessário tornar o setor mais sustentável.

Considerando que a produtividade do setor agrícola está fortemente relacionada a variáveis climáticas, é urgente identificar novas tecnologias que sejam resilientes às mudanças do clima. Além disso, usualmente o conceito de Agricultura Sustentável foca apenas na dimensão do desmatamento, deixando de lado diversos serviços ecossistêmicos que são afetados pelo setor, como a captura de CO2 e o equilíbrio do ciclo da água. Este trabalho debruça-se sobre o maior produtor de grãos do país, Mato Grosso, para mostrar que é possível conciliar a produção de alimentos com a manutenção de recursos ambientais e a resiliência climática. 

Quais as conclusões do estudo?
O Brasil se destaca por liderar o uso de práticas agrícolas capazes de aumentar a captura de CO2 no solo, um elemento central para a transição para uma agricultura de baixo carbono. O estudo aponta que o cultivo da segunda safra (também conhecida como safrinha ou alternância, em que diferentes espécies são cultivadas em sucessão no mesmo canteiro ao longo do ano agrícola) afeta a qualidade do solo, o que se reflete em maior resiliência da produção a eventos climáticos extremos e, em última instância, maior produtividade no longo prazo.

O que há de novo na sua pesquisa? (Método, conclusão, recorte etc.)
1. A maior parte da literatura que relaciona as mudanças climáticas com a agricultura procura medir como o meio ambiente afeta a agricultura, ou seja, como as mudanças na temperatura e na precipitação e a ocorrência de eventos climáticos extremos afetam a produção agrícola. Este estudo incorpora o conhecimento na direção oposta: como a agricultura afeta o meio ambiente?
2. Na literatura, os modelos de economia agrícola geralmente partem da ideia de que o solo é um insumo fixo e exógeno da função de produção. Isso decorre da dificuldade em lidar com a complexidade dos processos biológicos do solo e do recente destaque recebido pela “saúde do solo”, hoje pauta nas discussões ambientais. Este estudo coloca o solo como um elemento central da produção agrícola, documentando como as práticas agrícolas afetam diretamente (e de forma dinâmica) a qualidade do solo. 
3. Uso dados de satélite de diferentes fontes, o que permite uma análise granular fina de mais de 10 mil fazendas do MT ao longo de mais de 15 anos.
4. A incorporação da perspectiva de longo prazo. Do ponto de vista do produtor, a soja em monocultura é produtiva hoje e nos próximos 5-10 ciclos. Mas como será daqui a 30 anos?     

Qual foi a metodologia empregada e quais os dados utilizados?
A pesquisa usou dados da Nasa. Autores anteriores (Simoes et al., 2020) usaram dados do satélite MODIS para aplicar machine learning e criar um painel de 2001 a 2017 que classifica (ao nível de pixel de 250m x 250m) a adoção ou não da prática do cultivo de segunda safra. Esses dados foram complementados com outras variáveis da Nasa que serviram como métricas das dimensões relevantes que a segunda safra poderia afetar (carbono no solo, disponibilidade de água e produtividade).

Agregando os dados da Nasa com dados de imagem do CAR (Cadastro Ambiental Rural), foi possível identificar os limites geográficos de cada uma das quase 10.000 fazendas do painel. Com regressões ao nível de pixel e controlando para variações da adoção de segunda safra dentro da fazenda, os resultados das análises econométricas são robustos a diversos potenciais confoundings. 

Conte um pouco: quais foram os principais desafios encontrados? Como você os superou e qual a sensação em relação a esses desafios e à conclusão da sua pesquisa?
Abordar um tema ainda novo em economia (interseção entre ​​​​Agricultural Economics e Enviromental): não havia muitas​​ economistas para dialogar. Superei essa dificuldade conversando com pessoas de outras áreas (agrônomos, por exemplo), acreditando que é questão de tempo até que o novo campo seja estabelecido. Por esse motivo, optamos por tentar publicar numa revista mais hard science em vez de uma de Economia.

Usar dados de satélites: as bases têm mais de 100GB e várias compatibilizações foram necessárias para fazer os diferentes dados conversarem. Esse desafio foi superado pela contratação de um assistente de pesquisa com doutorado em Ciências Biológicas e vasta experiência em dados de sensoriamento remoto. O aprendizado foi a reafirmação da necessidade de os economistas trabalharem de forma conjunta com outras áreas para que as pesquisas em temas transversais (como é a questão climática) avancem efetivamente.

Traduzir as hipóteses do modelo econométrico para os dados: a dinâmica entre o solo, a água e o crescimento da soja é complexa, com diversas variáveis capturando cada uma das etapas. Foi preciso me aprofundar bastante na literatura de Ciências Naturais e Biológicas.

Para quais públicos os resultados deste estudo podem ser mais relevantes?
Economistas interessados na pauta ambiental. Agricultura é um setor-chave nesse debate e poucos economistas quantitativos se debruçam sobre esse assunto.

Além disso, o próprio setor agropecuário, que será fortemente afetado pelas mudanças do clima, tendo de investir em estratégias de adaptação e mitigação. 

Quais as palavras-chave do estudo? 
Agricultura sustentável, mudanças climáticas, resiliência, baixo carbono 

Coloque, por favor, as principais referências do trabalho. 
Jayachandran, Seema, “How Economic Development Influences the Environment,” Annual Review of Economics, 8 2022, 14. 

Leite-Filho, Argemiro Teixeira, Britaldo Silveira Soares-Filho, Juliana Leroy Davis, Gabriel Medeiros Abrahão, and Jan Börner, “Deforestation reduces rainfall and agricultural revenues in the Brazilian Amazon,” Nature Communications, 12 2021, 12, 2591 

Northrup, Daniel L., Bruno Basso, Michael Q. Wang, Cristine L. S. Morgan, and Philip N. Benfey, “Novel technologies for emission reduction complement conservation agriculture to achieve negative emissions from row-crop production,” Proceedings of the National Academy of Sciences, 7 2021, 118. 

Simoes, Rolf, Michelle C. A. Picoli, Gilberto Camara, Adeline Maciel, Lorena Santos, Pedro R. Andrade, Alber Sánchez, Karine Ferreira, and Alexandre Carvalho, “Land use and cover maps for Mato Grosso State in Brazil from 2001 to 2017,” Scientific Data, 12 2020, 7, 34. 

Spera, Stephanie A., Jonathan M. Winter, and Trevor F. Partridge, “Brazilian maize yields negatively affected by climate after land clearing,” Nature Sustainability, 10 2020, 3, 845–852.            

Como o Brasil pode conciliar o aumento da produção de alimentos com a preservação do meio ambiente? | Percurso Acadêmico

Ficha técnica
Nome do trabalho
Reconciling Environmental Sustainability and Agricultural Productivity: Evidence from Double-Cropping in Brazil (original)
Conciliando Sustentabilidade Ambiental e Produtividade Agrícola: Evidência da Adoção de Segunda Safra no Brasil (tradução)

Autora
Amanda de Albuquerque, PUC-Rio

Orientadores
Orientador: Juliano Assunção
Coorientador: Claudio Ferraz

Local de publicação do trabalho
Tese (doutorado) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Economia, 2022

Link para o original
https://www.econ.puc-rio.br/uploads/adm/trabalhos/files/07_nov_2022_1813258_Completo.pdf

Quem é a autora 

Amanda é doutora e mestre em Economia pela PUC-Rio e graduada em Relações Internacionais pela UnB. O foco de sua carreira são políticas públicas, tendo trabalhado no Ministério do Desenvolvimento Social do Brasil e no Ministério da Saúde de Moçambique. É cofundadora e atual diretora-executiva da Rede A Ponte, organização sem fins lucrativos que tem por objetivo fortalecer a carreira de mulheres na política por meio da implementação de políticas públicas baseadas em evidência.   

Abaixo, Amanda explica suas pesquisas, trabalhos e conclusões.

A que pergunta essa pesquisa responde?
Como o Brasil pode conciliar a necessidade de aumentar a produção de alimentos com a preservação dos recursos ambientais e os desafios impostos pelas mudanças climáticas?
E, ainda: que tipo de prática agrícola é capaz de manter a produtividade agrícola sem esgotar os recursos naturais no longo prazo?

Qual a relevância deste tema? Por que é importante que as pessoas conheçam mais sobre ele?
A agricultura é uma das principais responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa no Brasil, sendo diretamente responsável por 20% das emissões totais. Se incluirmos a mudança no uso da terra, esse número chega a 70%. Para balancear a produção de alimentos com a gestão de recursos naturais é necessário tornar o setor mais sustentável.

Considerando que a produtividade do setor agrícola está fortemente relacionada a variáveis climáticas, é urgente identificar novas tecnologias que sejam resilientes às mudanças do clima. Além disso, usualmente o conceito de Agricultura Sustentável foca apenas na dimensão do desmatamento, deixando de lado diversos serviços ecossistêmicos que são afetados pelo setor, como a captura de CO2 e o equilíbrio do ciclo da água. Este trabalho debruça-se sobre o maior produtor de grãos do país, Mato Grosso, para mostrar que é possível conciliar a produção de alimentos com a manutenção de recursos ambientais e a resiliência climática. 

Quais as conclusões do estudo?
O Brasil se destaca por liderar o uso de práticas agrícolas capazes de aumentar a captura de CO2 no solo, um elemento central para a transição para uma agricultura de baixo carbono. O estudo aponta que o cultivo da segunda safra (também conhecida como safrinha ou alternância, em que diferentes espécies são cultivadas em sucessão no mesmo canteiro ao longo do ano agrícola) afeta a qualidade do solo, o que se reflete em maior resiliência da produção a eventos climáticos extremos e, em última instância, maior produtividade no longo prazo.

O que há de novo na sua pesquisa? (Método, conclusão, recorte etc.)
1. A maior parte da literatura que relaciona as mudanças climáticas com a agricultura procura medir como o meio ambiente afeta a agricultura, ou seja, como as mudanças na temperatura e na precipitação e a ocorrência de eventos climáticos extremos afetam a produção agrícola. Este estudo incorpora o conhecimento na direção oposta: como a agricultura afeta o meio ambiente?
2. Na literatura, os modelos de economia agrícola geralmente partem da ideia de que o solo é um insumo fixo e exógeno da função de produção. Isso decorre da dificuldade em lidar com a complexidade dos processos biológicos do solo e do recente destaque recebido pela “saúde do solo”, hoje pauta nas discussões ambientais. Este estudo coloca o solo como um elemento central da produção agrícola, documentando como as práticas agrícolas afetam diretamente (e de forma dinâmica) a qualidade do solo. 
3. Uso dados de satélite de diferentes fontes, o que permite uma análise granular fina de mais de 10 mil fazendas do MT ao longo de mais de 15 anos.
4. A incorporação da perspectiva de longo prazo. Do ponto de vista do produtor, a soja em monocultura é produtiva hoje e nos próximos 5-10 ciclos. Mas como será daqui a 30 anos?     

Qual foi a metodologia empregada e quais os dados utilizados?
A pesquisa usou dados da Nasa. Autores anteriores (Simoes et al., 2020) usaram dados do satélite MODIS para aplicar machine learning e criar um painel de 2001 a 2017 que classifica (ao nível de pixel de 250m x 250m) a adoção ou não da prática do cultivo de segunda safra. Esses dados foram complementados com outras variáveis da Nasa que serviram como métricas das dimensões relevantes que a segunda safra poderia afetar (carbono no solo, disponibilidade de água e produtividade).

Agregando os dados da Nasa com dados de imagem do CAR (Cadastro Ambiental Rural), foi possível identificar os limites geográficos de cada uma das quase 10.000 fazendas do painel. Com regressões ao nível de pixel e controlando para variações da adoção de segunda safra dentro da fazenda, os resultados das análises econométricas são robustos a diversos potenciais confoundings. 

Conte um pouco: quais foram os principais desafios encontrados? Como você os superou e qual a sensação em relação a esses desafios e à conclusão da sua pesquisa?
Abordar um tema ainda novo em economia (interseção entre ​​​​Agricultural Economics e Enviromental): não havia muitas​​ economistas para dialogar. Superei essa dificuldade conversando com pessoas de outras áreas (agrônomos, por exemplo), acreditando que é questão de tempo até que o novo campo seja estabelecido. Por esse motivo, optamos por tentar publicar numa revista mais hard science em vez de uma de Economia.

Usar dados de satélites: as bases têm mais de 100GB e várias compatibilizações foram necessárias para fazer os diferentes dados conversarem. Esse desafio foi superado pela contratação de um assistente de pesquisa com doutorado em Ciências Biológicas e vasta experiência em dados de sensoriamento remoto. O aprendizado foi a reafirmação da necessidade de os economistas trabalharem de forma conjunta com outras áreas para que as pesquisas em temas transversais (como é a questão climática) avancem efetivamente.

Traduzir as hipóteses do modelo econométrico para os dados: a dinâmica entre o solo, a água e o crescimento da soja é complexa, com diversas variáveis capturando cada uma das etapas. Foi preciso me aprofundar bastante na literatura de Ciências Naturais e Biológicas.

Para quais públicos os resultados deste estudo podem ser mais relevantes?
Economistas interessados na pauta ambiental. Agricultura é um setor-chave nesse debate e poucos economistas quantitativos se debruçam sobre esse assunto.

Além disso, o próprio setor agropecuário, que será fortemente afetado pelas mudanças do clima, tendo de investir em estratégias de adaptação e mitigação. 

Quais as palavras-chave do estudo? 
Agricultura sustentável, mudanças climáticas, resiliência, baixo carbono 

Coloque, por favor, as principais referências do trabalho. 
Jayachandran, Seema, “How Economic Development Influences the Environment,” Annual Review of Economics, 8 2022, 14. 

Leite-Filho, Argemiro Teixeira, Britaldo Silveira Soares-Filho, Juliana Leroy Davis, Gabriel Medeiros Abrahão, and Jan Börner, “Deforestation reduces rainfall and agricultural revenues in the Brazilian Amazon,” Nature Communications, 12 2021, 12, 2591 

Northrup, Daniel L., Bruno Basso, Michael Q. Wang, Cristine L. S. Morgan, and Philip N. Benfey, “Novel technologies for emission reduction complement conservation agriculture to achieve negative emissions from row-crop production,” Proceedings of the National Academy of Sciences, 7 2021, 118. 

Simoes, Rolf, Michelle C. A. Picoli, Gilberto Camara, Adeline Maciel, Lorena Santos, Pedro R. Andrade, Alber Sánchez, Karine Ferreira, and Alexandre Carvalho, “Land use and cover maps for Mato Grosso State in Brazil from 2001 to 2017,” Scientific Data, 12 2020, 7, 34. 

Spera, Stephanie A., Jonathan M. Winter, and Trevor F. Partridge, “Brazilian maize yields negatively affected by climate after land clearing,” Nature Sustainability, 10 2020, 3, 845–852.            

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