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Ainda temos enormes desafios para vencermos as crises sanitária e econômica causadas pelo coronavírus. Mas o início da vacinação foi um passo importante nessa direção. As ambições políticas do governador João Doria certamente contribuíram para isso, ao explorar o vácuo gerado pela inação do governo federal. Ponto para a competição política. Se todo mundo seguisse Jair Bolsonaro, não teríamos nada até agora e estaríamos apenas insistindo no tratamento precoce.

O sucesso de Doria também forçou o governo federal a se mexer. Depois de muitos percalços, conseguiu garantir que algumas vacinas da AstraZeneca fossem liberadas pelo governo indiano.

Mas a disputa entre Doria e Bolsonaro não trouxe apenas resultados positivos nesse front. A persistência do governador em conseguir viabilizar a Coronavac certamente contribuiu para que o presidente se movesse no sentido contrário. Em diversas oportunidades, Bolsonaro minimizou a importância da vacina, deu declarações polêmicas e impulsionou teorias conspiratórias.

Declarou, por exemplo, que o governo federal não compraria a vacina chinesa de Doria, e que haveria inúmeros efeitos colaterais decorrentes do imunizante. Chegou a dizer que as pessoas deveriam assinar um termo de compromisso que isentasse o governo da responsabilidade por eventuais adversidades. Isso sinaliza à população que nem o próprio chefe de Estado confia na vacina que o seu governo está distribuindo.

Governantes de diversos países fizeram questão de tomar publicamente a vacina. Essa é uma forma de passar confiança à população sobre a segurança do processo de imunização. Bolsonaro faz o contrário: diz que não vai tomar, lança várias dúvidas sobre a efetividade da vacina, e ainda coloca seu cartão de vacinação sob sigilo.

O problema é que todas essas ações e declarações contribuem para que boa parte da população fique em dúvida com relação à vacina. Muita gente pode se recusar a tomá-la por causa disso. E vacinação é um esforço coletivo. Precisamos que o maior número possível de pessoas sejam imunizadas para vencermos o coronavírus.

Em economia, temos o que chamamos de externalidade positiva. Quando uma pessoa toma a vacina, ela não só reduz as chances de pegar a doença, mas também de transmiti-las a outras. Os ganhos sociais da vacinação são maiores que os ganhos privados. Portanto, temos que fazer isso juntos. Daí a importância do governo em convencer a população da importância da imunização e da segurança e efetividade das vacinas – que foram atestadas pelos próprios órgãos governamentais.

Mas Bolsonaro insistiu em minimizar a eficácia comprovada das vacinas recentemente, mesmo após a aprovação pela Anvisa. Com isso, ele joga incerteza sobre a competência e idoneidade das agências de seu próprio governo.

O governo de São Paulo, no afã de impulsionar a Coronavac, também contribuiu para esse clima de desconfiança. Adiou por sucessivas vezes o anúncio de estudos sobre a vacina, e chegou a divulgar números incompletos (escondendo os resultados menos favoráveis). Essa falta de transparência não ajuda a ganhar confiança da população, além de colocar a independência de instituições em xeque. Levanta dúvida sobre quanto dessas idas e vindas são parte do processo, ou se estão sendo usadas para beneficiar politicamente o governador de São Paulo.

A disputa política entre Bolsonaro e Doria certamente ajudou a impulsionar o início da vacinação no Brasil. Mas todo esse processo produziu muito ruído sobre a efetividade das vacinas, o que põe em risco sua confiabilidade junto a parte da população e pode dificultar o próprio processo de imunização que temos pela frente.

COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE SÃO PAULO

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Competição política e vacinação

Ainda temos enormes desafios para vencermos as crises sanitária e econômica causadas pelo coronavírus. Mas o início da vacinação foi um passo importante nessa direção. As ambições políticas do governador João Doria certamente contribuíram para isso, ao explorar o vácuo gerado pela inação do governo federal. Ponto para a competição política. Se todo mundo seguisse Jair Bolsonaro, não teríamos nada até agora e estaríamos apenas insistindo no tratamento precoce.

O sucesso de Doria também forçou o governo federal a se mexer. Depois de muitos percalços, conseguiu garantir que algumas vacinas da AstraZeneca fossem liberadas pelo governo indiano.

Mas a disputa entre Doria e Bolsonaro não trouxe apenas resultados positivos nesse front. A persistência do governador em conseguir viabilizar a Coronavac certamente contribuiu para que o presidente se movesse no sentido contrário. Em diversas oportunidades, Bolsonaro minimizou a importância da vacina, deu declarações polêmicas e impulsionou teorias conspiratórias.

Declarou, por exemplo, que o governo federal não compraria a vacina chinesa de Doria, e que haveria inúmeros efeitos colaterais decorrentes do imunizante. Chegou a dizer que as pessoas deveriam assinar um termo de compromisso que isentasse o governo da responsabilidade por eventuais adversidades. Isso sinaliza à população que nem o próprio chefe de Estado confia na vacina que o seu governo está distribuindo.

Governantes de diversos países fizeram questão de tomar publicamente a vacina. Essa é uma forma de passar confiança à população sobre a segurança do processo de imunização. Bolsonaro faz o contrário: diz que não vai tomar, lança várias dúvidas sobre a efetividade da vacina, e ainda coloca seu cartão de vacinação sob sigilo.

O problema é que todas essas ações e declarações contribuem para que boa parte da população fique em dúvida com relação à vacina. Muita gente pode se recusar a tomá-la por causa disso. E vacinação é um esforço coletivo. Precisamos que o maior número possível de pessoas sejam imunizadas para vencermos o coronavírus.

Em economia, temos o que chamamos de externalidade positiva. Quando uma pessoa toma a vacina, ela não só reduz as chances de pegar a doença, mas também de transmiti-las a outras. Os ganhos sociais da vacinação são maiores que os ganhos privados. Portanto, temos que fazer isso juntos. Daí a importância do governo em convencer a população da importância da imunização e da segurança e efetividade das vacinas – que foram atestadas pelos próprios órgãos governamentais.

Mas Bolsonaro insistiu em minimizar a eficácia comprovada das vacinas recentemente, mesmo após a aprovação pela Anvisa. Com isso, ele joga incerteza sobre a competência e idoneidade das agências de seu próprio governo.

O governo de São Paulo, no afã de impulsionar a Coronavac, também contribuiu para esse clima de desconfiança. Adiou por sucessivas vezes o anúncio de estudos sobre a vacina, e chegou a divulgar números incompletos (escondendo os resultados menos favoráveis). Essa falta de transparência não ajuda a ganhar confiança da população, além de colocar a independência de instituições em xeque. Levanta dúvida sobre quanto dessas idas e vindas são parte do processo, ou se estão sendo usadas para beneficiar politicamente o governador de São Paulo.

A disputa política entre Bolsonaro e Doria certamente ajudou a impulsionar o início da vacinação no Brasil. Mas todo esse processo produziu muito ruído sobre a efetividade das vacinas, o que põe em risco sua confiabilidade junto a parte da população e pode dificultar o próprio processo de imunização que temos pela frente.

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