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							Na semana passada participei do primeiro encontro do Programa de Liderança Executiva em Desenvolvimento da Primeira Infância, organizado pelo Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI) com o apoio de parceiros. O programa tem como propósito central envolver formuladores de políticas públicas, gestores governamentais, representantes de organizações multilaterais, líderes da sociedade civil e acadêmicos no desenvolvimento e avaliação de políticas e projetos que visam fomentar o desenvolvimento integral de crianças desde o nascimento até os 6 anos de idade. Em colaboração com a Faculdade de Saúde Pública da Universidade Harvard e o Insper, o programa é dividido em dois módulos: o primeiro ocorreu em Harvard, e o segundo acontecerá no Insper.

Uma das premissas básicas do programa é que as crianças são o nosso presente e os protagonistas do futuro sustentável que precisamos. O programa está fundamentado no Modelo de Atenção e Cuidado Integral as Crianças que propõe cinco componentes inter-relacionados e indivisíveis de cuidado: boa saúde, nutrição adequada, segurança e proteção, cuidados responsivos e oportunidades de aprendizado. Ao focarmos no desenvolvimento global das crianças e investirmos em saúde, educação e bem-estar sólidos, asseguramos sua capacidade para enfrentar os desafios que possam surgir ao longo da vida.

Minhas reflexões durante as discussões em Harvard ressaltaram uma verdade que nem sempre é óbvia para todos: zelar pelo clima é, também, zelar pelas crianças e pelo nosso futuro. Embora as conversas sobre mudanças climáticas geralmente se concentrem em seus impactos em meio ambiente, economia e saúde em geral, é crucial compreender como essas transformações afetam as crianças, o grupo mais vulnerável da sociedade.

Um estudo recente da Unicef revela que, no Brasil, 40 milhões de meninas e meninos – 60% do total de crianças no país – estão expostos a mais de um risco climático ou ambiental e as mudanças climáticas comprometem a garantia de direitos fundamentais. As crianças são especialmente suscetíveis aos impactos das mudanças climáticas na saúde.

A intensificação de eventos climáticos extremos, como ondas de calor mais intensas, enchentes e poluição podem levar a um aumento de doenças cardiovasculares e respiratórias em crianças, afetando seu desenvolvimento físico e intelectual. O calor extremo pode levar ao estresse térmico e insolação. As enchentes podem contaminar a água potável e aumentar o risco de doenças como diarreia. As mudanças climáticas podem influenciar a distribuição geográfica de vetores de doenças, como mosquitos que transmitem malária, dengue e zika. Isso pode aumentar a exposição das crianças, colocando-as em maior risco de infecção.

Em ambientes poluídos, os pulmões das crianças não se desenvolvem completamente e o sistema imunológico fica fragilizado. A alteração dos padrões climáticos pode influenciar a distribuição e concentração de alérgenos, como pólen e mofo, que desencadeiam alergias e doenças respiratórias em crianças, como rinite alérgica e asma. A exposição a poluentes em altas concentrações e/ou por longos períodos também afeta o cérebro, causando problemas de comportamento e até mesmo atrasos no desenvolvimento intelectual.

Mudanças no clima podem afetar a produção agrícola, a disponibilidade e o preço dos alimentos. Escassez de alimentos e mudanças na qualidade nutricional podem levar às deficiências de vitaminas e minerais, crescimento inadequado, desnutrição e comprometer o desenvolvimento cognitivo, isto é, o aprendizado. No médio prazo isso pode influenciar retenção da criança na escola e, a longo prazo, em emprego e renda.

Tempestades e desastres naturais podem causar lesões físicas e, à medida que se tornam mais frequentes e intensos, podem influenciar o deslocamento forçado devido a inundações e secas. Isso pode interromper a educação das crianças, separá-las de suas famílias e expô-las a condições precárias em campos de refugiados. Não menos importante, as incertezas em relação ao clima e o medo dos eventos climáticos podem causar ansiedade e estresse nas crianças, o que gera impactos negativos no seu bem-estar emocional.

Há também evidências de que os efeitos das mudanças climáticas afetam desproporcionalmente crianças que vivem em situação de maior vulnerabilidade, já privados de outros direitos – principalmente pretos, indígenas, quilombolas, e pertencentes a outros povos e comunidades tradicionais; migrantes e/ou refugiados; crianças com deficiência; e, em especial, as meninas.

Em síntese, as mudanças climáticas e a degradação ambiental aumentam os fatores que colocam em risco o pleno desenvolvimento das crianças e reduzem a eficácia dos fatores protetivos. Como consequência, as crianças, que são os menos responsáveis pelas mudanças no clima, acabam sendo os que mais sofrem por causa delas. Apesar disso, pesquisas apontam para o fato de que a maioria das políticas públicas e dos planos nacionais referentes ao meio ambiente mencionam pouco ou ignoram completamente as vulnerabilidades específicas de crianças.

Precisamos reverter isso. As mudanças climáticas não são apenas uma preocupação distante; elas já têm impactos imediatos e duradouros nas crianças. Se a crianças são os protagonistas do futuro sustentável que precisamos, devemos como sociedade agir de forma decisiva para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e proteger o futuro das gerações mais jovens. Isso inclui políticas publicas e investimentos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, diminuir desmatamento, escalar o uso de energia limpa, melhorar saúde pública, educação, moradia, saneamento, garantindo a resiliência, em especial, das comunidades mais vulneráveis.

Volto de Harvard com duas certezas. A primeira é que o cuidado e a educação das crianças são os alicerces para um futuro mais sustentável, inclusivo e justo. A segunda é que não alcançaremos a primeira se não cuidarmos do clima. Cuidar do clima é cuidar das crianças de hoje e de amanhã.

COLUNA PUBLICADA NA FOLHA DE S.PAULO 

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Cuidar do clima é cuidar das crianças

Na semana passada participei do primeiro encontro do Programa de Liderança Executiva em Desenvolvimento da Primeira Infância, organizado pelo Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI) com o apoio de parceiros. O programa tem como propósito central envolver formuladores de políticas públicas, gestores governamentais, representantes de organizações multilaterais, líderes da sociedade civil e acadêmicos no desenvolvimento e avaliação de políticas e projetos que visam fomentar o desenvolvimento integral de crianças desde o nascimento até os 6 anos de idade. Em colaboração com a Faculdade de Saúde Pública da Universidade Harvard e o Insper, o programa é dividido em dois módulos: o primeiro ocorreu em Harvard, e o segundo acontecerá no Insper.

Uma das premissas básicas do programa é que as crianças são o nosso presente e os protagonistas do futuro sustentável que precisamos. O programa está fundamentado no Modelo de Atenção e Cuidado Integral as Crianças que propõe cinco componentes inter-relacionados e indivisíveis de cuidado: boa saúde, nutrição adequada, segurança e proteção, cuidados responsivos e oportunidades de aprendizado. Ao focarmos no desenvolvimento global das crianças e investirmos em saúde, educação e bem-estar sólidos, asseguramos sua capacidade para enfrentar os desafios que possam surgir ao longo da vida.

Minhas reflexões durante as discussões em Harvard ressaltaram uma verdade que nem sempre é óbvia para todos: zelar pelo clima é, também, zelar pelas crianças e pelo nosso futuro. Embora as conversas sobre mudanças climáticas geralmente se concentrem em seus impactos em meio ambiente, economia e saúde em geral, é crucial compreender como essas transformações afetam as crianças, o grupo mais vulnerável da sociedade.

Um estudo recente da Unicef revela que, no Brasil, 40 milhões de meninas e meninos – 60% do total de crianças no país – estão expostos a mais de um risco climático ou ambiental e as mudanças climáticas comprometem a garantia de direitos fundamentais. As crianças são especialmente suscetíveis aos impactos das mudanças climáticas na saúde.

A intensificação de eventos climáticos extremos, como ondas de calor mais intensas, enchentes e poluição podem levar a um aumento de doenças cardiovasculares e respiratórias em crianças, afetando seu desenvolvimento físico e intelectual. O calor extremo pode levar ao estresse térmico e insolação. As enchentes podem contaminar a água potável e aumentar o risco de doenças como diarreia. As mudanças climáticas podem influenciar a distribuição geográfica de vetores de doenças, como mosquitos que transmitem malária, dengue e zika. Isso pode aumentar a exposição das crianças, colocando-as em maior risco de infecção.

Em ambientes poluídos, os pulmões das crianças não se desenvolvem completamente e o sistema imunológico fica fragilizado. A alteração dos padrões climáticos pode influenciar a distribuição e concentração de alérgenos, como pólen e mofo, que desencadeiam alergias e doenças respiratórias em crianças, como rinite alérgica e asma. A exposição a poluentes em altas concentrações e/ou por longos períodos também afeta o cérebro, causando problemas de comportamento e até mesmo atrasos no desenvolvimento intelectual.

Mudanças no clima podem afetar a produção agrícola, a disponibilidade e o preço dos alimentos. Escassez de alimentos e mudanças na qualidade nutricional podem levar às deficiências de vitaminas e minerais, crescimento inadequado, desnutrição e comprometer o desenvolvimento cognitivo, isto é, o aprendizado. No médio prazo isso pode influenciar retenção da criança na escola e, a longo prazo, em emprego e renda.

Tempestades e desastres naturais podem causar lesões físicas e, à medida que se tornam mais frequentes e intensos, podem influenciar o deslocamento forçado devido a inundações e secas. Isso pode interromper a educação das crianças, separá-las de suas famílias e expô-las a condições precárias em campos de refugiados. Não menos importante, as incertezas em relação ao clima e o medo dos eventos climáticos podem causar ansiedade e estresse nas crianças, o que gera impactos negativos no seu bem-estar emocional.

Há também evidências de que os efeitos das mudanças climáticas afetam desproporcionalmente crianças que vivem em situação de maior vulnerabilidade, já privados de outros direitos – principalmente pretos, indígenas, quilombolas, e pertencentes a outros povos e comunidades tradicionais; migrantes e/ou refugiados; crianças com deficiência; e, em especial, as meninas.

Em síntese, as mudanças climáticas e a degradação ambiental aumentam os fatores que colocam em risco o pleno desenvolvimento das crianças e reduzem a eficácia dos fatores protetivos. Como consequência, as crianças, que são os menos responsáveis pelas mudanças no clima, acabam sendo os que mais sofrem por causa delas. Apesar disso, pesquisas apontam para o fato de que a maioria das políticas públicas e dos planos nacionais referentes ao meio ambiente mencionam pouco ou ignoram completamente as vulnerabilidades específicas de crianças.

Precisamos reverter isso. As mudanças climáticas não são apenas uma preocupação distante; elas já têm impactos imediatos e duradouros nas crianças. Se a crianças são os protagonistas do futuro sustentável que precisamos, devemos como sociedade agir de forma decisiva para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e proteger o futuro das gerações mais jovens. Isso inclui políticas publicas e investimentos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, diminuir desmatamento, escalar o uso de energia limpa, melhorar saúde pública, educação, moradia, saneamento, garantindo a resiliência, em especial, das comunidades mais vulneráveis.

Volto de Harvard com duas certezas. A primeira é que o cuidado e a educação das crianças são os alicerces para um futuro mais sustentável, inclusivo e justo. A segunda é que não alcançaremos a primeira se não cuidarmos do clima. Cuidar do clima é cuidar das crianças de hoje e de amanhã.

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