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Dois eventos recentes no Congresso Nacional nos deixam otimistas sobre o futuro da política no Brasil: Eduardo Cunha foi cassado e não prosperou o projeto que previa anistiar o caixa 2.

Mas atenção: nossos deputados seguem os mesmos. Muitos deles têm processos sérios nas costas e o caráter colocado em dúvida.

Nos dois casos, movidos pelo medo da reação negativa do eleitor, eles fizeram a coisa certa: cassaram o agora ex-deputado e não deixaram prosseguir o tal projeto de lei para aliviar a barra de políticos corruptos.

Ambos os desfechos têm muito a ver com a passagem abaixo, atribuída ao economista Milton Friedman (tradução livre):

“Não acredito que a solução para nossos problemas seja, simplesmente, eleger pessoas certas. A coisa mais importante é estabelecer um clima político que torne politicamente lucrativo fazer a coisa certa, mesmo pelas pessoas erradas.”

Eduardo Cunha era o rei do baixo clero na Câmara dos Deputados. Contava com a lealdade de diversos congressistas. E chegou à Presidência da Casa assim, em primeiro turno, em 2015. Tinha tanto poder que peitou a então presidente da República. Dilma Rousseff foi afastada do cargo em processo de impeachment cujo pedido foi aceito por ele.

 



 

Em outros carnavais, Cunha provavelmente teria se safado. Vários de seus antigos aliados se deram bastante bem em sua gestão. E, provavelmente, lhe deviam alguns favores. Não bastasse, Cunha ameaçou de delatar todo mundo e arrastar muita gente consigo.

Normalmente, essas pessoas votariam pensando, ao menos, em manter o mandato de Cunha. Só que não. No fim das contas, o todo poderoso ficou órfão.

Só 10 deputados votaram para salvar a cabeça dele. Quando eleito, Cunha teve o voto de 267 deputados.

Voltando à citação de Friedman: a sociedade brasileira está farta de corrupção. E, por causa da gravidade das denúncias recentes, Cunha é, sim, associado a atividades corruptas.

Votar pela sua absolvição, nessas condições, seria sinônimo de compactar com a roubalheira.

Muitos brasileiros estão prestando atenção a isso. E os nossos congressistas reagem a esse incentivo. Eles fazem escolhas de acordo com o desejo dos eleitores. Ora, eles querem se reeleger.

No caso, a opinião pública provê o incentivo para que a maioria deles virem as costas para Cunha. E isso vale até para deputados com reputações bem arranhadas.

Como dito por Friedman, é lucrativo fazer a coisa certa até para as pessoas erradas.

Mas e o caixa 2? E o que quer dizer isso mesmo?

No começo desta semana, na calada da noite, aconteceu algo parecido na Câmara. Colocou-se em votação um projeto de lei que aliviaria a barra de quem fez caixa 2 em campanhas eleitorais. A imprensa noticiou o apoio de muito dono de colarinho branco.

O termo “caixa 2” se refere a um fluxo de grana entrando paralelamente ao “oficial”. Nele, recursos não são declarados aos órgãos de fiscalização. Na política, em geral, muito dinheiro “sujo” tem sido "lavado" assim. Pelo projeto, o político que fez caixa 2 no passado teria o perdão da lei e, quem sabe, das urnas.

Os deputados sabiam que o eleitor se revoltaria. Mas, como ninguém estava prestando muita atenção mesmo... Por que não?

Alguns poucos deputados se revoltaram. O negócio estourou nas redes sociais. Os olhos dos eleitores se voltaram a essa pouca vergonha. E a partir do momento em que passou a ter muita gente prestando atenção, o medo da punição (ou seja, de perder votos) aflorou.

Mudou o incentivo: de fazer a coisa errada quando ninguém estava olhando, para fazer a coisa certa quando o eleitor marcava de perto. E aí o projeto naufragou.

Que a pressão da opinião pública se mantenha. Só assim muitas coisas erradas poderão mudar para valer nesse país.

 

 

Entenda por que Eduardo Cunha foi cassado por VOCÊ

Dois eventos recentes no Congresso Nacional nos deixam otimistas sobre o futuro da política no Brasil: Eduardo Cunha foi cassado e não prosperou o projeto que previa anistiar o caixa 2.

Mas atenção: nossos deputados seguem os mesmos. Muitos deles têm processos sérios nas costas e o caráter colocado em dúvida.

Nos dois casos, movidos pelo medo da reação negativa do eleitor, eles fizeram a coisa certa: cassaram o agora ex-deputado e não deixaram prosseguir o tal projeto de lei para aliviar a barra de políticos corruptos.

Ambos os desfechos têm muito a ver com a passagem abaixo, atribuída ao economista Milton Friedman (tradução livre):

“Não acredito que a solução para nossos problemas seja, simplesmente, eleger pessoas certas. A coisa mais importante é estabelecer um clima político que torne politicamente lucrativo fazer a coisa certa, mesmo pelas pessoas erradas.”

Eduardo Cunha era o rei do baixo clero na Câmara dos Deputados. Contava com a lealdade de diversos congressistas. E chegou à Presidência da Casa assim, em primeiro turno, em 2015. Tinha tanto poder que peitou a então presidente da República. Dilma Rousseff foi afastada do cargo em processo de impeachment cujo pedido foi aceito por ele.

 



 

Em outros carnavais, Cunha provavelmente teria se safado. Vários de seus antigos aliados se deram bastante bem em sua gestão. E, provavelmente, lhe deviam alguns favores. Não bastasse, Cunha ameaçou de delatar todo mundo e arrastar muita gente consigo.

Normalmente, essas pessoas votariam pensando, ao menos, em manter o mandato de Cunha. Só que não. No fim das contas, o todo poderoso ficou órfão.

Só 10 deputados votaram para salvar a cabeça dele. Quando eleito, Cunha teve o voto de 267 deputados.

Voltando à citação de Friedman: a sociedade brasileira está farta de corrupção. E, por causa da gravidade das denúncias recentes, Cunha é, sim, associado a atividades corruptas.

Votar pela sua absolvição, nessas condições, seria sinônimo de compactar com a roubalheira.

Muitos brasileiros estão prestando atenção a isso. E os nossos congressistas reagem a esse incentivo. Eles fazem escolhas de acordo com o desejo dos eleitores. Ora, eles querem se reeleger.

No caso, a opinião pública provê o incentivo para que a maioria deles virem as costas para Cunha. E isso vale até para deputados com reputações bem arranhadas.

Como dito por Friedman, é lucrativo fazer a coisa certa até para as pessoas erradas.

Mas e o caixa 2? E o que quer dizer isso mesmo?

No começo desta semana, na calada da noite, aconteceu algo parecido na Câmara. Colocou-se em votação um projeto de lei que aliviaria a barra de quem fez caixa 2 em campanhas eleitorais. A imprensa noticiou o apoio de muito dono de colarinho branco.

O termo “caixa 2” se refere a um fluxo de grana entrando paralelamente ao “oficial”. Nele, recursos não são declarados aos órgãos de fiscalização. Na política, em geral, muito dinheiro “sujo” tem sido "lavado" assim. Pelo projeto, o político que fez caixa 2 no passado teria o perdão da lei e, quem sabe, das urnas.

Os deputados sabiam que o eleitor se revoltaria. Mas, como ninguém estava prestando muita atenção mesmo... Por que não?

Alguns poucos deputados se revoltaram. O negócio estourou nas redes sociais. Os olhos dos eleitores se voltaram a essa pouca vergonha. E a partir do momento em que passou a ter muita gente prestando atenção, o medo da punição (ou seja, de perder votos) aflorou.

Mudou o incentivo: de fazer a coisa errada quando ninguém estava olhando, para fazer a coisa certa quando o eleitor marcava de perto. E aí o projeto naufragou.

Que a pressão da opinião pública se mantenha. Só assim muitas coisas erradas poderão mudar para valer nesse país.

 

 

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