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Você já ouviu essa história:

“Quando a taxa de juro do Banco Central sobe, os bancos aproveitam para cobrar mais caro nos empréstimos, mas quando ela cai, eles não repassam isso ao consumidor”.

É uma variante da também comumente repetida:

"Quando o petróleo sobe, a gasolina encarece, mas quando ele cai as empresas fornecedoras não repassam para o preço final!".

Essa história de assimetria nos repasses é tão comum quanto errada. Ela não tem lógica! Se quando os custos caem o produtor não cobra menos do consumidor, ele (o produtor) por definição aumenta a sua margem, considerando-se que  a mesma quantidade foi vendida. Mas dado que seu poder de mercado não se altera de um dia para o outro, isso significa que ele teria desperdiçado a oportunidade de colher essa margem mais alta já antes, por meio de preços mais altos? A história da assimetria pressupõe que o ofertante estava deixando dinheiro na mesa antes da queda dos custos. Não parece uma boa hipótese.

Voltando ao caso das taxas de juros: simplesmente não é verdade que elas não respondem a movimentos da taxa básica, a Selic. Antes de mostrarmos o dado, uma pausa para esclarecimento: não cremos que um juro Selic mais baixo seja capaz de fazer milagres, em nenhuma dimensão. Por exemplo, seu impacto sobre o crescimento é reconhecidamente restrito ao curto prazo. E no que se refere ao juro de mercado, nosso tema aqui, este seguirá alto enquanto questões de natureza mais estrutural não forem atacadas. Em outras palavras, o tal do spread (diferença entre juro de mercado e juro básico), tem menos a ver com o nível da taxa básica e mais a ver com garantia de direitos de propriedade do credor, nível dos compulsórios e competição bancária.

Mas seria verdade que os juros de mercado não respondem às mexidas promovidas pelo BC na taxa básica?

selic

O gráfico mais abaixo sugere que não.

Ele é dividido em três períodos em concordância com as linhas pontilhadas do gráfico acima, começando em janeiro de 2013. O primeiro é o de alta da Selic, com o BC percebendo que sua política extra-oficial, de meta de juros, estava detonando com a oficial, de meta de inflação. Depois vem o “paremos para ver o que vai acontecer”, que dura aproximadamente um ano, seguido enfim do período de relaxamento monetário após controle da inflação, que só agora vai chegando a termo.

Qual o resultado dessa alta da Selic dos primeiros dois anos e meio? Como se vê, em alta tanto da taxa de empréstimos para empresas, como para pessoas físicas (os dados vêm do BC e referem-se ao setor de crédito livre, no qual a taxa de empréstimo não é fixada pelo governo). No período perfeitamente coincidente, a alta da Selic impacta menos do que um para um a taxa de empréstimos para empresas e um pouco mais do que um para um (1:1) a de pessoa jurídica.

selic2

Porém, se levarmos em conta o período que se segue -- de Selic com variação nula --, no qual as taxas de mercado continuam se elevando, a taxa de repasse “Selic-taxa final” se aproxima de 1:1 para PJs e 1:2 para PFs (esse número está, no entanto, inchado pelo aumento do risco dos empréstimos durante esse período, o qual se deve, por sua vez, a uma acelerada estonteante da taxa de desemprego). Já de agosto-setembro de 2016 a janeiro de 2018, a Selic apresentou queda praticamente igual em magnitude à sua alta. E o que ocorreu com a taxa de empréstimos para PJs? Ao contrário do que pensam alguns, caiu proporcionalmente um tantinho mais do que havia subido no primeiro intervalo (o de elevação da Selic). Ou seja, até aqui o que sabemos é que não tem assimetria não: sobe Selic, sobe taxa; cai Selic, cai taxa.

Nosso palpite, ainda que não tenhamos bola de cristal, é que nos próximos trimestres que virão, de Selic estacionada, as duas barras azuis do meio do gráfico (período também de Selic estacionada) reaparecerão à direita, mas agora de cabeça para baixo, refletindo os efeitos defasados da redução da taxa básica sobre os mercados. Milagre de redução de spread, no entanto, ainda parece estar longe de acontecer.

 

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Juros bancários no Brasil reagem a quedas na Selic?

Você já ouviu essa história: “Quando a taxa de juro do Banco Central sobe, os bancos aproveitam para cobrar mais caro nos empréstimos, mas quando ela cai, eles não repassam isso ao consumidor”. É uma variante da também comumente repetida: "Quando o petróleo sobe, a gasolina encarece, mas quando ele cai as empresas fornecedoras não repassam para o preço final!". Essa história de assimetria nos repasses é tão comum quanto errada. Ela não tem lógica! Se quando os custos caem o produtor não cobra menos do consumidor, ele (o produtor) por definição aumenta a sua margem, considerando-se que  a mesma quantidade foi vendida. Mas dado que seu poder de mercado não se altera de um dia para o outro, isso significa que ele teria desperdiçado a oportunidade de colher essa margem mais alta já antes, por meio de preços mais altos? A história da assimetria pressupõe que o ofertante estava deixando dinheiro na mesa antes da queda dos custos. Não parece uma boa hipótese. Voltando ao caso das taxas de juros: simplesmente não é verdade que elas não respondem a movimentos da taxa básica, a Selic. Antes de mostrarmos o dado, uma pausa para esclarecimento: não cremos que um juro Selic mais baixo seja capaz de fazer milagres, em nenhuma dimensão. Por exemplo, seu impacto sobre o crescimento é reconhecidamente restrito ao curto prazo. E no que se refere ao juro de mercado, nosso tema aqui, este seguirá alto enquanto questões de natureza mais estrutural não forem atacadas. Em outras palavras, o tal do spread (diferença entre juro de mercado e juro básico), tem menos a ver com o nível da taxa básica e mais a ver com garantia de direitos de propriedade do credor, nível dos compulsórios e competição bancária. Mas seria verdade que os juros de mercado não respondem às mexidas promovidas pelo BC na taxa básica? selic O gráfico mais abaixo sugere que não. Ele é dividido em três períodos em concordância com as linhas pontilhadas do gráfico acima, começando em janeiro de 2013. O primeiro é o de alta da Selic, com o BC percebendo que sua política extra-oficial, de meta de juros, estava detonando com a oficial, de meta de inflação. Depois vem o “paremos para ver o que vai acontecer”, que dura aproximadamente um ano, seguido enfim do período de relaxamento monetário após controle da inflação, que só agora vai chegando a termo. Qual o resultado dessa alta da Selic dos primeiros dois anos e meio? Como se vê, em alta tanto da taxa de empréstimos para empresas, como para pessoas físicas (os dados vêm do BC e referem-se ao setor de crédito livre, no qual a taxa de empréstimo não é fixada pelo governo). No período perfeitamente coincidente, a alta da Selic impacta menos do que um para um a taxa de empréstimos para empresas e um pouco mais do que um para um (1:1) a de pessoa jurídica. selic2 Porém, se levarmos em conta o período que se segue -- de Selic com variação nula --, no qual as taxas de mercado continuam se elevando, a taxa de repasse “Selic-taxa final” se aproxima de 1:1 para PJs e 1:2 para PFs (esse número está, no entanto, inchado pelo aumento do risco dos empréstimos durante esse período, o qual se deve, por sua vez, a uma acelerada estonteante da taxa de desemprego). Já de agosto-setembro de 2016 a janeiro de 2018, a Selic apresentou queda praticamente igual em magnitude à sua alta. E o que ocorreu com a taxa de empréstimos para PJs? Ao contrário do que pensam alguns, caiu proporcionalmente um tantinho mais do que havia subido no primeiro intervalo (o de elevação da Selic). Ou seja, até aqui o que sabemos é que não tem assimetria não: sobe Selic, sobe taxa; cai Selic, cai taxa. Nosso palpite, ainda que não tenhamos bola de cristal, é que nos próximos trimestres que virão, de Selic estacionada, as duas barras azuis do meio do gráfico (período também de Selic estacionada) reaparecerão à direita, mas agora de cabeça para baixo, refletindo os efeitos defasados da redução da taxa básica sobre os mercados. Milagre de redução de spread, no entanto, ainda parece estar longe de acontecer.   Para ficar por dentro do que rola no Por Quê?, clique aqui e assine a nossa Newsletter.
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